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Ele inventou um chatbot que permite ‘conversar com mortos’

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A história de Jason Rohrer é surpreendente, desde programar jogos, crescer sem tecnologia, até propor um chatbot para conversar com mortos.

Tudo começou em 2020, quando ele precisou escapar dos incêndios na Califórnia com sua família, indo para Nevada e depois Arizona. Com isso, não pôde trabalhar em seu novo videogame durante essa época.

Em vez disso, começou um projeto paralelo usando o GPT-2 da OpenAI, uma ferramenta que originalmente não permitia interação dos usuários.

Rohrer passou um mês modificando a interface para permitir que as pessoas conversassem com a IA. Ele criou alguns personagens para as conversas e também permitiu que os usuários criassem os seus próprios.

Primeiro uso

Via Pexels

Os usuários, por sua vez, começaram a usar a plataforma de Rohrer de maneiras inesperadas. Eles começaram a criar versões de entes queridos falecidos, uma aplicação que Rohrer não havia previsto.

Para algumas pessoas, como Joshua Barbeau, conversar com mortos por meio dessas versões geradas pela IA foi emocionalmente significativo, trazendo à tona memórias esquecidas. A experiência de Barbeau inspirou outros a experimentarem.

Rohrer destaca que muitos dos usuários não estão lidando com perdas comuns, mas sim com traumas profundos, como a morte de entes queridos em circunstâncias difíceis.

Agora, um documentário recente chamado “Eternal You” mostra que a IA desenvolvida por Rohrer virou um exemplo de como estamos mudando nossa percepção da morte.

Documentário sobre o projeto

Os cineastas Hans Block e Moritz Riesewieck apresentam também uma mãe em luto que, através da realidade virtual, encontra sua filha falecida aos sete anos.

Essa experiência parece ajudá-la a seguir adiante. Sherry Turkle, professora do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, faz uma comparação entre a IA e a ideia de imortalidade oferecida pela religião.

A plataforma de Rohrer, conhecida como Project December, agora oferece a oportunidade de “simular uma conversa por texto com qualquer pessoa” por um custo de US$ 10.

Os usuários não precisam utilizar a “tecnologia patenteada em conjunto com IA avançada” para se comunicar com os falecidos, mas o serviço esclarece que “qualquer pessoa” inclui “alguém que já não está vivo”. O lema do projeto é “conversar com mortos”.

No entanto, os resultados podem ser inquietantes. Por exemplo, em uma situação, o chatbot perguntou a um usuário se poderia ser sua namorada. No documentário “Eternal You”, uma mulher fica chocada quando a simulação de seu amante falecido afirma estar “no inferno”, cercado principalmente por “viciados”.

Programador nunca teve celular

Via Wikimedia

O criador do projeto “conversar com mortos” é conhecido por sua personalidade descontraída. Além disso, ele se diz um não-entusiasta da tecnologia. Inclusive, nunca possuiu um celular, pois os considera “muito prejudiciais”.

Embora tenha experimentado o Project December para simular seu avô, ele não está interessado em usá-lo para terapia.

Entretanto, tem uma visão libertária sobre as escolhas individuais. Ele questiona se adultos consentidos devem decidir por si próprios sobre o uso de celulares e se deveria dizer a alguém como a pessoa deve superar o luto.

E a excentricidade não para no Project December. O criador e sua esposa são conhecidos por uma forma de vida inusitada. Por exemplo, sua família viveu sem geladeira de 2005 a 2010.

Rohrer estudou redes neurais na Universidade de Cornell, mas ficou cético em relação às habilidades da IA.

Ele prefere criar videogames com narrativas emocionais complexas. Seu jogo mais famoso, “Passage”, está no Museu de Arte Moderna de Nova York.

Seu jogo de maior sucesso comercial, “One Hour One Life”, que ele afirma ter gerado “vários milhões de dólares”, desafia os jogadores a reconstruírem a civilização a partir do zero.

Cada jogador tem apenas uma hora de vida no jogo, destacando como a sociedade é construída por gerações sucessivas, não apenas por indivíduos.

Chatbot para conversar com mortos tem sentimentos?

Via Freepik

Após lançar o Project December, Rohrer o chamou de “possivelmente a primeira máquina com alma“.

Ele argumenta que o ChatGPT passa facilmente no Teste de Turing, mostrando comportamento parecido com o do humano. Ele diz que a IA não apenas mostra inteligência, mas também criatividade além do que os humanos podem fazer.

Agora, o Project December segue a mesma premissa para conversar com mortos. Ele solicita alguns dados e apenas um pequeno parágrafo sobre sua noiva falecida e uma citação, é suficiente.

Neste momento, os usuários respondem a um pequeno questionário sobre a pessoa que desejam recriar. No entanto, não precisam, se quiserem. Ele continua oferecendo suporte emocional da mesma forma.

Quando a OpenAI soube do projeto e do uso do modelo GPT, ela exigiu um monitoramento das conversas. A preocupação da empresa seria que conversar com mortos por IA levasse a um caminho condenável e imoral.

Contudo, o criador negou, pois quer garantir a privacidade das conversas de seus usuários. Por isso, Rohrer migrou para um novo provedor, AI21 Labs em Israel.

A tecnologia continua em desenvolvimento, e muitas questões éticas surgem a partir desse chatbot, como por exemplo, o aumento da solidão e o tempo de tela enquanto o usuário busca conversar com mortos na ferramenta.

O desenvolvedor não está preocupado com essa parte, pois sabe que a IA está ajudando as pessoas, e não prejudicando-as.

Além disso, como um criador de jogos, principalmente, ele entende a questão de vício e uso de tela. Embora reconheça que algumas pessoas possam se prejudicar, ele também destaca as experiências positivas que o projeto trouxe.

Na prática, pode ser algo revolucionário para se lidar com o luto, com a dor e com a saudade.

 

Fonte: Folha de São Paulo

Imagens: Wikimedia, Pexels, Freepik

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