Em nome da ciência, máquina psicodélica causa alucinações

A ciência sabe que as drogas podem causar diferentes efeitos para o corpo e mente humana. E um ramo crescente de pesquisas sobre drogas tem mostrado que as experiências com drogas psicodélicas podem ser boas ou ruins, assustadoras e desconfortáveis. No entanto, as alucinações que elas causam podem sim trazer benefícios para as pessoas.

Contudo, não são todos os pesquisadores que querem usar drogas para causar essas alucinações nas pessoas. Tanto é que uma máquina foi criada para conseguir provocar as alucinações nas pessoas: a Dreamachine. Ela consegue induzir experiências alucinatórias através de luz estroboscópica e música eletrônica.

Atualmente, existem várias dessas máquinas instaladas em salas no Reino Unido, e mais de 40 mil pessoas já as visitaram e puderam ver como a máquina funciona. Claro que junto com as máquinas tem os guardiões, que são os funcionários que ajudam a guiar e relaxar as pessoas no começo do tour através de exercícios de respiração.

Máquina

Em cada sessão da Dreamachine, entre 20 e 30 pessoas ficavam presentes na sala, deitavam no chão e fechavam os olhos. A sessão dura 30 minutos e depois dela as pessoas descreveram suas experiências como “poderosas”, “vívidas”, “caleidoscópicas” e “mágicas”.

Segundo Anil Seth, neurocientista da Universidade de Sussex e um dos participantes do projeto, escutar os relatos de quem participou dessa experiência de alucinações foi uma coisa mágica e rara, ou como ele disse em uma entrevista, “estamos realmente dando algo interno e transcendental como uma experiência coletiva às pessoas”.

O que ele pretende com essa máquina é conseguir estudar o efeito que as luzes estroboscópicas têm no cérebro. Isso porque, os efeitos psicodélicos delas ainda não são muito bem entendidos pela ciência. Sabe-se que essa alucinações conscientes que são geradas por essa luz piscante são poderosas e inesperadas, mas ela não tem relação com o que está sendo mostrado. Até porque, é somente uma luz branca que gera cores e formas na mente das pessoas.

Essas alucinações acontecem mesmo com as pessoas com os olhos fechados. Por isso que entender esse efeito psicodélico pode ser bem importante para também compreender a base neural da experiência visual dos seres humanos.

Outro ponto que a Dreamachine pretende entender é a origem dos efeitos psicodélicos e de que forma a fisiologia humana está relacionada nesse processo.

Alucinações

Na visão dos cientistas, uma das coisas fascinantes sobre a Dreamachine e que as pessoas que vão nela dizem ter tido experiências bem diferentes umas das outras, mesmo todas estando no mesmo ambiente e sendo bombardeados com os mesmos efeitos de luz. Essa mesma coisa também é vista no cotidiano pelas percepções diferentes que as pessoas têm de um mesmo fato.

Isso serve como um lembrete de que mesmo que a realidade objetiva seja a mesma para todos, as pessoas não percebem o mundo da mesma maneira por conta de vários motivos, tanto físicos como psicológicos.

Entretanto, mesmo com as experiências das pessoas sendo as mais diversas, quase todos os participantes compartilharam do mesmo sentimento: paz. Por conta disso se abre uma possibilidade de que a Dreamachine possa ser usada para o tratamento da saúde mental e sirva como uma opção terapêutica.

Isso não é uma inovação total, visto que a luz já foi muito usada nos tratamentos de depressão e luto. E da mesma maneira que as substâncias psicodélicas, as alucinações causadas por ela trazem percepções vívidas, inesperadas e fora do comum para o cérebro. Isso faz com que as pessoas se sintam diferentes e, em sua maioria, melhores.

Esse efeito psicodélico que a luz causa chama ganzflicker. E além da Dreamachine, a equipe de Seth tem um outro estudo, que busca documentar a diversidade humana, chamado Perception Census. Ele é uma pesquisa online que mede as perspectivas diferentes sobre o tempo, som, cor e até expectativas dos participantes.

“A ideia é entender o espaço oculto, a estrutura que nos faz variar em última instância e que é bastante difícil de descobrir. Para nós, parece que vemos o mundo como ele é: fica difícil notar que os outros possam vê-lo de outra maneira”, disse ele.

Fonte: Canaltech

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