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Entenda o que são combustíveis sintéticos

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O interesse pelos combustíveis sintéticos, também chamados de eCombustíveis, cresce devido à busca por alternativas para os combustíveis tradicionais, com o objetivo de reduzir a emissão de dióxido de carbono (CO2) liberadas pela queima de combustíveis fósseis.

Quimicamente, os combustíveis sintéticos e os de origem fóssil são iguais. Os dois são hidrocarbonetos.

“Os hidrocarbonetos são moléculas formadas por hidrogênio e carbono”, explica Carlos Calvo Ambel, especialista em transporte e energia da ONG Transport and Environment.

“Normalmente, o que se faz é extrair o petróleo da terra, refiná-lo e gerar produtos diferentes, como a gasolina, o diesel e o querosene”, aponta Calvo Ambel. No entanto, no caso do combustível sintético, o hidrogênio e o carbono necessários são originados em outras fontes.

O hidrogênio é obtido separando os componentes da molécula de água, hidrogênio e oxigênio, em um processo que usa eletricidade, chamado eletrólise. 

Em relação ao carbono, ele pode ser encontrado em diversas fontes. “Você pode recolher da chaminé de uma fábrica que está descartando CO2 ou capturá-lo diretamente do ar”, informa o especialista. 

Em seguida, em outro processo industrial, é possível unir o hidrogênio e o carbono, sintetizando-os em uma cadeia de hidrocarboneto. “Desta forma, você gera artificialmente uma molécula que é exatamente igual à do diesel, da gasolina ou do querosene tradicional.”

Os combustíveis sintéticos são verdes?

Foto: Getty Images/ BBC

De acordo com Calvo Ambel, para que os combustíveis sintéticos sejam sustentáveis, “é fundamental que todo o processo seja feito com eletricidade renovável”. 

“Se não se utilizar eletricidade renovável, o processo não é limpo.”

Assim como os combustíveis tradicionais, quando os combustíveis sintéticos são queimados, eles liberam CO2 na atmosfera — um dos principais gases do efeito estufa.

Por isso, segundo Calvo Ambel, para o processo ser sustentável, o carbono deve ser proveniente de CO2 capturado do ar.

“Se você capturar o CO2 da atmosfera e, ao queimar o combustível sintético, volta a descarregá-lo na atmosfera, o valor é neutro – não há contaminação adicional”, explica ele.

Qual a extensão da produção atual?

A quantidade de combustíveis sintéticos produzida atualmente “é reduzida”, conforme Calvo Ambel, mas esse processo pode ser acelerado.

A lista de empresas que trabalham no desenvolvimento de combustíveis sintéticos inclui a Zero Petroleum, a Fulcrum BioEnergy, a empresa chilena Haru Oni, da HIF Global, a multinacional espanhola de energia e a petroquímica Repsol.

O carbono da Fulcrum BioEnergy não virá da captura de CO2 do ar, mas do metano produzido pela decomposição de resíduos municipais. Já a HIF informou que a Haru Oni obterá o carbono por meio de captura do ar.

Os combustíveis sintéticos são uma solução para os automóveis?

Foto: Getty Images/ BBC

Para o especialista em mudanças climáticas da Universidade de Exeter, no Reino Unido, James Dyke, não é justificável recorrer aos combustíveis sintéticos no caso dos automóveis.

“Estamos vendo atualmente um crescimento exponencial dos carros elétricos e um forte aumento de toda a infraestrutura de recarga associada. Existe também um possível papel para o hidrogênio como combustível no transporte por rodovia”, aponta ele.

Calvo Ambel acrescenta que desenvolver combustíveis sintéticos para automóveis “não faz nenhum sentido”.

“Essa quantidade de eletricidade pode ser empregada para movimentar um carro elétrico diretamente, sem perdas de nenhuma parte”, segundo ele.

Alguns críticos afirmam que as empresas petrolíferas prometem e incentivam o uso de combustíveis sintéticos em automóveis para atrasar a transição para os veículos elétricos. Com isso, elas manteriam, pelo maior tempo possível, a venda de carros tradicionais e o consumo dos seus produtos.

Os combustíveis sintéticos são uma solução para a aviação?

Foto: Ministério da Defesa Britânico (MOD)/ AFP

De acordo com Calvo Ambel, o único caso em que os combustíveis sintéticos têm potencial são os aviões.

“Se quisermos realmente descarbonizar, não existe nenhuma alternativa viável à queima de querosene”, diz Calvo Ambel.

Ao ser questionado sobre a produção de biocombustíveis para descarbonizar a aviação, o especialista da ONG Transport and Environment aponta que eles são produzidos com biomassa das plantas, não oferecem solução viável e apresentam grandes riscos.

“Se você produzir biocombustíveis de soja, óleo de palma ou óleo de girassol, tudo isso exige uma quantidade de terra bastante considerável”, afirma Calvo Ambel. “E, como sabemos, isso causa o desmatamento da Amazônia ou do sudeste asiático para produzir óleo de palma. Ou seja, o remédio é pior que a doença.”

Para Calvo Ambel, o óleo de cozinha utilizado como combustível para aviões também não é uma opção viável. “Todo o óleo de cozinha consumido nos Estados Unidos não atenderia a 1% da demanda de querosene daquele país”.

A produção de combustíveis sintéticos poderia ser aumentada?

Foto: Reprodução/ Audi

Tecnicamente, é possível aumentar a produção de combustíveis sintéticos. No entanto, o crescimento dessa produção exigirá grandes quantidades de eletricidade de origens renováveis.

“A Europa sabe que, se quiséssemos, por exemplo, movimentar todos os aviões com esse combustível — só os que saem da Europa — seria preciso importar o combustível porque são necessários muitos painéis solares e muitas turbinas eólicas”, afirma Calvo Ambel.

Nilay Shah, professor de Engenharia do Imperial College de Londres e um dos fundadores da Zero Petroleum, destaca que o custo atual do combustível sintético é mais alto que o dos combustíveis fósseis. No entanto, a estimativa é que ele seja reduzido com o tempo.

Fonte: G1

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