O estupro virtual se tornou uma nova forma de crime contra mulheres, e ganhou visibilidade na mídia nos últimos dias.
Embora o cenário ainda seja mais convencional para muitas pessoas, ameaças pela internet também tipificam violência sexual contra a vítima.
É importante que as pessoas saibam como esses criminosos agem e o que fazer ao receber ameaças desse formato.
Como os criminosos agem?
Inicialmente, um perfil entra em contato com a vítima, dizendo ter imagens comprometedoras. Ele não envia nada, mas inicia a ameaça com mensagens incisivas e diretas.
Isso causa medo na vítima, especialmente se ela tiver enviado fotos ou vídeos íntimos para alguém nos últimos dias. Mesmo que não seja verdade, a ameaça se torna mais verídica.
Em seguida, um outro perfil também manda mensagem, alertando que recebeu a foto mas apagou, pois se solidariza com esse tipo de coisa e não quer materiais assim no celular. Entretanto, ele não permite que a vítima veja do que se trata.
Em poucos dias, um terceiro perfil diz que viu o material e que já seria público, aumentando o medo da vítima. No entanto, ela pode não saber a relação entre todos os criminosos.
O primeiro perfil volta a contatá-la, dizendo que quer receber dinheiro, caso contrário irá espalhar o que tem. Enquanto isso, um quarto perfil diz que passou pela mesma coisa e diz que é melhor pagar.
Um dos perfis anteriores também aborda a vítima, dizendo que, se ela mandar fotos para ele, emprestará o dinheiro ou fará o criminoso apagar. Isso gera um ciclo de violência e ameaças, agora com material real.
Controle da vítima
Uma vez com controle da vítima, o criminoso pode solicitar outros tipos de conteúdos, como masturbação, sexo com outra pessoa ou mesmo violências físicas em seu próprio corpo.
Outro método é conquistar a confiança da vítima como um perfil falso de interesse dela, até receber o material e iniciar o ciclo novamente, com um outro usuário.
Esse método é mais comum entre jovens, que caem em truques de flerte online para enviar fotos, também recebendo, mesmo que sejam falsas.
As ameaças impedem que a vítima tenha controle da situação, afundando nesse ciclo e sem saber como denunciar.
O que fazer ao ser vítima de estupro virtual?
Se você se tornar vítima de estupro virtual, é importante saber o que fazer.
Em primeiro lugar, não atenda às exigências do agressor nem crie conteúdo para ele. Isso ajudará a evitar a perpetuação das ameaças.
É comum que os criminosos sequer tenham fotos ou vídeos, mas eles criam falsificações para começar esse ciclo.
Em seguida, conte a alguém em quem confie. Evite escolher um namorado(a) como confidente, pois é possível que ele(a) seja o agressor, alertam especialistas.
No caso de crianças sendo vítimas, é importante que os pais monitorem o acesso às redes sociais e mantenham uma comunicação aberta com os filhos, para que eles tenham um lugar confiável para buscar ajuda e estejam cientes desse tipo de golpe.
Os pais também devem estar atentos a mudanças de comportamento, como ressalta Eduarda Horta, advogada especialista em cibersegurança.
Polícia pode ajudar
O próximo passo é registrar um boletim de ocorrência pessoalmente na delegacia.
Isso é importante porque o registro online não fornecerá o apoio necessário, e não é necessário mostrar fotos íntimas para o delegado, se não quiser.
Ainda, procure desativar temporariamente as redes sociais e remova a foto do WhatsApp ou rede usada para contato. Essas informações ajudam a descobrir coisas das vítimas como endereço e nome dos pais.
Essas precauções devem ser mantidas por cerca de 3 a 4 meses. Além disso, se você encontrar suas imagens em sites pornográficos, entre em contato com o portal.
Para isso, especialistas sugerem e-mail em inglês, explicando a situação e enviando um documento para comprovar a identidade.
O que diz a lei
Apesar de não haver uma lei específica que mencione o termo estupro virtual, a legislação atual já abrange esse tipo de crime.
Isso porque o artigo 213 define o estupro como “constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso”.
A parte que menciona ato libidinoso é o que encaixa estupro virtual, pois se refere a forçar a produção de material sexual e usá-lo para prazer próprio.
Outro ponto em que o crime se encaixa é que o conteúdo é obtido “mediante grave ameaça”.
Além disso, há o Projeto de Lei 3628/20, que busca legalizar o termo “estupro virtual” e incluir o artigo 217-B no Código Penal.
O projeto criminalizaria o ato de “assediar, instigar ou constranger, por qualquer meio de comunicação, menores de 14 anos, a se exibirem de forma pornográfica ou sexualmente explícita”, como diz o texto.
No entanto, o projeto ainda está pendente de apreciação pela Câmara dos Deputados.
Um dos pontos em relação ao texto anterior é a proposta de uma pena menor, de 4 a 12 anos de prisão, enquanto a atual contra menor é de 8 a 15 anos.
Pessoas mais jovens passam menos pelo estupro virtual
Os especialistas apontam que mulheres mais velhas são mais vulneráveis ao estupro virtual do que aquelas que cresceram na era pós-internet, e existem algumas razões para isso.
A geração adulta teme que isso possa prejudicar sua carreira e abalar sua imagem.
Portanto, quando o golpista inicia as ameaças, ela tende a ceder e enviar o material.
Por outro lado, os adolescentes estão mais acostumados com a exposição de suas vidas pessoais online e compartilham imagens íntimas com amigos.
Eles entendem que há uma grande quantidade de fotos íntimas na internet e de imagens falsas que parecem reais.
Portanto, quando essas fotos vazam, eles sentem que será só mais um caso, e que ninguém ligará para isso, inclusive podendo ser falso.
Por isso, quando o criminoso surge, o adolescente costuma não ceder às chantagens ou acredita na fala.
Há também uma questão moral envolvida. Enquanto a geração anterior sente que cometeu algo errado quando suas imagens vazam, os mais jovens estão envolvidos com o movimento de “positividade sexual”.
Assim, promove menos julgamento em relação ao vazamento de imagens e à sexualidade. Mesmo assim, é essencial saber o que fazer e como identificar esse crime o quanto antes.
Fonte: G1
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