Natureza

Flamingos podem voltar a habitar a Flórida após décadas extinto na região

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Os flamingos costumam escolher habitats o mais distante possível de humanos. No entanto, em 2015, a ave foi avistada entre duas pistas de pouso na Estação Aérea Naval de Key West, no extremo sul da Flórida.

Nada que os funcionários do aeroporto tentassem conseguia fazer o flamingo deixar o local perigoso. Por causa disso, foi preciso chamar uma equipe de especialistas para capturar e remover o animal, que eles nomearam como Conchy. O macho da espécie flamingo-americano, também conhecida como flamingo-do-caribe, foi conduzido para o Zoológico de Miami. No local, ele foi diagnosticado com uma doença grave no fígado, provocada por se alimentar em um manancial poluído nas imediações do aeroporto. 

A população de flamingos não está em risco de extinção e possui uma crescente de 200 mil indivíduos em todo o Caribe, América do Sul e México, de acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês). 

Após ser tratado e se recuperar, os pesquisadores tentaram devolver Conchy à natureza. No entanto, o governo da Flórida interditou a liberação justificando que as espécies de flamingo não são nativas do estado, visto que nenhuma população foi reproduzida na região desde o fim do século 19. 

Os flamingos na Flórida

Foto: Joe Raedle/Getty Images

Após isso, os cientistas apresentaram evidências de que dois flamingos já haviam aparecido anteriormente na Flórida, depois de serem identificados ainda como filhotes no México. Isso mostra que mesmo raros, os flamingos migram naturalmente para a Flórida por meio do Caribe. Com isso, o estado permitiu a liberação de Conchy em 2015. Os pesquisadores anexaram um rastreador GPS à ave, para pesquisar seus movimentos.

Os pesquisadores descobriram que o flamingo permaneceu na Flórida por mais de dois anos. O biólogo do Zoológico de Miami, Steven Whitfield, explica que a preferência de Conchy em continuar no estado mostra que o habitat local das aves migratórias, onde os flamingos foram considerados residentes temporários, poderia se sustentar para os flamingos-americanos selvagens ao longo de todo ano. 

“Isso foi um sinal de que há alimento nesses habitats – pelo menos para pequenos grupos de flamingos –, que seja suficiente para um longo período.”

Na última década, aumentou o número de flamingos avistados na Flórida. A estimativa é de que pelo menos mil indivíduos habitam temporariamente o território. Isso pode significar um retorno da população para o estado.

Apesar de em 2018 a Flórida ter atualizado a classificação do flamingo para espécie nativa, em maio de 2021, as agências de vida selvagem do estado se recusaram a conceder determinadas proteções aos flamingos da região. Entre elas estão o gerenciamento e monitoramento, alegando que os esforços de conservação existentes no sul da Flórida são suficientes, principalmente na reserva ambiental do Parque Nacional Everglades.

Felicity Arengo, coordenadora das Américas do Grupo de Especialistas em Flamingos da UICN, que aconselhou a Flórida na tomada de decisão, disse à National Geographic que as agências podem estabelecer novas diretrizes caso o estado tenha o número suficiente de flamingos.

“Isso não é uma sentença de morte para os flamingos”, salientou Arengo, diretora associada do Centro de Biodiversidade e Conservação do Museu Americano de História Natural de Nova York. “As coisas estão evoluindo.”

Centro de Visitantes Flamingos

Foto: Miami and Beaches

Devido à caça excessiva por carne, ovos e a indústria de penas, no fim do século 19 estavam praticamente exterminados os milhares de flamingos-americanos que viviam na Baía da Flórida e no arquipélago da Florida Keys.

Porém, os flamingos podem ser vistos no Centro de Visitantes Flamingo, no Parque Nacional Everglades, local que virou ponto turístico. 

Whitfield e outros entusiastas possuem o objetivo de estimular a volta da ave para o seu habitat de origem. Para isso, precisam rastrear flamingos da Flórida em suas rotas migratórias, investigar como as alterações do habitat afetaram as oportunidades de fazer ninho e acompanhar as condições do ambiente e reprodução da espécie, por meio de imagens de satélite.

Para reunir o máximo de dados perdidos possível, Whitfield formou a coalizão de cientistas Florida Flamingo Working Group, com especialistas locais e internacionais. O objetivo é que se acontecer uma mudança, e se a Flórida receber nova população reprodutora, a sua pesquisa ajude na decisão do estado.

A primeira razão para acreditarem que os animais voltarão é que a Flórida pode se tornar cada vez mais atraente para os que buscam comida e abrigo. Além disso, o aumento previsto do nível do mar, no Caribe, pode obrigar a migração da ave.

A segunda razão é que os cuidados com a conservação nos Everglades já melhoraram a qualidade do habitat para o retorno da ave. O que pode incentivar os flamingos a ficarem no sul da Flórida.

Em janeiro de 2022, o governo americano anunciou que US$ 2,5 bilhões (cerca de R$ 13 bilhões) serão investidos na restauração dos Everglades

Obras nos Everglades

Foto: Visite EUA

Os flamingos se alimentam de pequenos crustáceos que vivem em águas pantanosas rasas, pescando-os com seus bicos. Essa ação beneficia o ecossistema ao filtrar nutrientes e microorganismos, e oxigenar a água. Como outros animais do pantano, eles precisam de água limpa e bem oxigenada para sobreviver.

Porém, grande parte dos ecossistemas do sul da Flórida está poluída com nutrientes nocivos, como fósforo e nitrogênio. Por causa disso, aumenta o número de algas, que consomem o oxigênio da água.

No entanto, Whitfield observa que nos últimos 30 anos, mais de seis mil toneladas de fósforo deixaram de ser despejadas nos Everglades após mandato estadual que obrigou as fazendas a diminuírem nutrientes nocivos em 25%.

Os cientistas desejam restaurar a hidrologia do ecossistema para que a água doce flua continuamente por toda a extensão do local. Com isso, aumentaria as presas, como camarões e pequenos peixes, o que atrairia um número suficiente de flamingos para formarem ninhos no local. Além disso, os flamingos-americanos podem viajar cerca de 640 km por dia e até 3,2 mil km de seus locais de reprodução no inverno para achar alimento.

De acordo com Mark Cook, cientista-chefe do Distrito de Gerenciamento Hídrico do Sul da Flórida, em 2021, não foi comprovado que a vida selvagem havia retornado para o sul do estado. Porém, apresentou o maior número de notificações de aves migratórias desde a década de 1940, com quase 90 mil ninhos de diversas espécies.

Caso os flamingos voltem, Whitfield espera que o estado considere listar o flamingo-americano como uma espécie protegida. “Recuperar as populações de flamingos é possível. Porque isso já foi feito antes e em países com muito menos recursos do que os Estados Unidos.”

Relatos da população

Foto: Ron Magill

O grupo também está em busca de cientistas-cidadãos, como Garl Harrold, que opera a empresa de aluguel de caiaques Garl’s Coastal Kayaking, em Homestead, na Flórida. Ele foi o primeiro a avistar um bando de flamingos do México no Parque Nacional Everglades, em 2002.

Harrold é provavelmente a pessoa que mais notou flamingos na Flórida nos últimos anos. Antes, os relatos eram feitos algumas vezes por ano, mas agora ele avista as aves quase mensalmente.

“Quando os vi pela primeira vez, as pessoas me disseram que eu estava vendo colhereiros cor-de-rosa. E eu dizia: não, eu sei a diferença.” 

O colhereiro é uma ave rosada que habita áreas pantanosas, habitando desde os Estados Unidos até a Argentina. No Brasil ela pode ser encontrada principalmente no pantanal.  

Harold explica que por estar na natureza quase todos os dias é mais fácil de ver os flamingos, tendo avistado até mesmo um grande bando com 16 aves. Muitas vezes, as aparições são postadas na internet, o que ajuda Whitfield na contagem dos animais.

Em relação a Conchy, seu sinal foi possível depois do furacão Irma. Whitfield explica que ele pode ter sobrevivido e deixado o estado ou estar escondido em regiões do sul da Flórida.

As imagens de satélite podem auxiliar a localizar populações selvagens que tenham seus números subestimados. “Ou o número de flamingos na Flórida está aumentando, ou estiveram por aqui o tempo todo e acabaram passando despercebidos”, afirma Whitfield.

Fonte: National Geographic

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