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Igrejas dos EUA espionam fiéis com aplicativos “anti-pornografia”

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Algumas igrejas nos Estados Unidos estão utilizando aplicativos de rastreio e vigilância para monitorar fiéis em suas atividades online no celular. Para convencer os participantes a instarem os programas, eles argumentam que isso impedirá que eles acessem sites de pornografia, evitando assim comportamentos pecaminosos. 

No entanto, a revista Wired, aponta que alguns aplicativos do tipo acabam monitorando mais do que os fiéis percebem.

O que aconteceu? 

Foto: iStock

Hao-Wei Lin conta que começou a frequentar a igreja evangélica Grace Point (“Ponto da Graça”, na tradução direta) e estranhou ter sido aceito já que é gay. No segundo encontro individual com o líder religioso responsável pela igreja, pediram a ele para instalar o aplicativo Covenant Eyes em seu celular.

O aplicativo é comercializado como software anti-pornografia. Porém, de acordo com Hao-Wei Lin, o religioso disse que o app o ajudaria a “controlar todos os seus impulsos”, aponta a reportagem da Wired. 

O Covenant Eyes faz parte de um ecossistema multimilionário de “aplicativos de responsabilidade”. Eles são usados por igrejas e pais como ferramentas para monitorar a atividade online dos usuários.

Segundo Hao-Wei Lin, um mês depois da instalação do programa, ele começou a receber e-mails acusatórios do líder da igreja afirmando que ele havia visto “coisas indevidas” na internet. 

“Alguma coisa que você precisa me dizer?”, dizia um email que Lin recebeu e compartilhou com a Wired. Por meio de anexo, estava um relatório da Covenant Eyes que informava cada conteúdo que ele havia acessado na semana anterior.

Logo após ser interrogado e perceber que era vigiado 24 horas, Hao-Wei Lin decidiu deixar a igreja e contar o que acontecia no local.

Como o Covenant Eyes funciona 

O software Covenant Eyes foi desenvolvido por Michael Holm, um ex-matemático da NSA (Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos) que atualmente trabalha como cientista de dados para a empresa.

Teoricamente, o sistema seria capaz de distinguir entre imagens pornográficas e não pornográficas. O aplicativo captura tudo o que está visível na tela de um dispositivo, analisando as imagens antes de desfocá-las e enviá-las para um servidor onde são salvas.

Entre os principais aplicativos de responsabilidade, o Covenant Eyes parece ser o maior. De acordo com a empresa de análise de aplicativos AppFigures, no ano passado mais de 50 mil pessoas baixaram o app.

Já segundo a Wired, a estimativa é que a empresa tenha uma receita anual de US$ 26 milhões.

Aplicativos com tolerância zero à pornografia

Foto: Getty Images

O Covenant Eyes, assim como outros aplicativos de controle (por exemplo, Accountable2You e EverAccountable) possui tolerância zero à pornografia. Os três apps sugerem em seus materiais de marketing que assistir pornografia é uma falha moral e prejudicial à saúde.

Mesmo que esses aplicativos apontem que ajudaram pessoas a superar o vício em pornografia, alguns especialistas que estudam sobre saúde sexual afirmam que programas desse tipo não possuem feito duradouro.

“Nunca vi ninguém que tenha usado um desses aplicativos se sentir melhor consigo mesmo a longo prazo”, afirmou Nicole Praus, cientista da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, que estuda os efeitos da pornografia no cérebro. 

Espiona mais do que pornografia 

Foto: Pexels /Cotonbro/ Reprodução

De acordo com a reportagem da Wired, os programas Covenant Eyes e Accountable2You fazem mais do que verificar apenas pornografia. A revista afirma que após testar os dois programas foi notado que ambos foram criados para coletar, monitorar e relatar tudo o que o usuário faz em seu celular.

No caso de Hao-Wei Lin, isso incluiu compras na Amazon, artigos que ele leu e até quais contas ele olhou no Instagram, por exemplo. 

Aplicativos suspensos 

Foto: Getty Images

Após a Wired entrar em contato com o Google para ter esclarecimentos sobre a disponibilidade do Covenant Eyes e Accountable2You, os dois apps foram suspensos da Play Store.

“O Google Play permite o uso da API [interface de programação] de acessibilidade para uma ampla gama de aplicativos. No entanto, apenas os serviços projetados para ajudar pessoas com deficiência a acessar seus dispositivos ou superar desafios decorrentes de suas deficiências são elegíveis para declarar que são ferramentas de acessibilidade”, disse a porta-voz Danielle Cohen.

No entanto, o Covenant Eyes e Accountable2You seguem disponíveis no iOS. O Wired afirmou que a Apple não se manifestou sobre o assunto.

Fonte: Tilt

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