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‘Mamãe, um dia eu vou ficar branco?’, pergunta criança negra vítima de racismo

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Estamos no século 21 e, infelizmente, o racismo ainda está presente na sociedade. E o pior de tudo é ver que ele se faz presente em todas as faixas etárias. Como no caso recente que viralizou, em que Mathew, de cinco anos, pergunta à sua mãe “mamãe, um dia eu vou ficar branco?”.

O menino fez a pergunta para a estilista Claudete Alphonsus depois de ter sido alvo de xingamentos por outros alunos de uma escola na Zona Sul de São Paulo. De acordo com a mãe, ela tinha notado o desânimo do filho em ir para as aulas e resolveu conversar com ele a respeito.

A estilista publicou uma sequência de stories na última sexta-feira, por meio dos quais é possível ver Mathew chorando e contando ter sido chamado de “cocô” pelos seus colegas de classe por conta da cor da sua pele.

Caso

Ricmais

“Foi a coisa mais dolorosa de ouvir. Eu senti meu coração dilacerar e partir em pedacinhos. Sofri e chorei com ele. Peço a todos que tomem conta do mental de seus filhos pretos e não permitam que machuquem e nem permitam que eles façam seus filhos acharem que é feio por ser marrom! Ele tem 5 anos e já sofre o peso da cor. Não passarão”, desabafou a mãe.

O menino mora com seus pais e a irmã mais velha na região do Campo Limpo, também na Zona Sul, e estuda desde o ano passado na escola particular onde esse caso de racismo vinha acontecendo.

De acordo com Claudete, na segunda-feira dessa semana ela teve uma reunião com a instituição que a informou que a direção vai averiguar todo ocorrido para apresentar uma resposta.

“Hoje pela manhã realizamos uma reunião extensa com a escola do meu filho que nos informou que ira averiguar todo o ocorrido para nos trazer uma resposta. Por enquanto entendemos que há um caminho longo para que possamos superar essa situação”, contou.

Além disso, Claudete também disse que conta com uma assessoria jurídica para tomar as medidas necessárias a respeito desse caso.

Racismo

Lunetas

Casos assim sempre trazem à tona o preconceito ainda existente em nosso país. Por conta disso, o racismo é um assunto que devemos discutir diariamente, além de repassar para as nossas crianças. Uma das maiores dificuldades em combater o racismo é conseguir explicar que ele não existe somente em ofensas diretas e na diminuição de outras pessoas, mas que esse problema está presente em detalhes do nosso dia a dia.

E vivenciar episódios diários de racismo, sendo alvo do preconceito ou assistindo a casos de violência acontecerem com pessoas da mesma raça, tem um efeito, às vezes, “invisível”, porém duradouro e cruel, tanto na saúde, corpo e também no cérebro das crianças.

Para provar isso, o Centro de Desenvolvimento Infantil da Universidade de Harvard juntou estudos documentando como a vivência cotidiana do racismo estrutural impacta “o aprendizado, o comportamento, a saúde física e mental” infantil.

A longo prazo, isso resulta em custos bilionários a mais em saúde, na perpetuação das diferenças raciais e uma maior dificuldade para grande parcela da população conseguir atingir seu pleno potencial humano e sua capacidade produtiva.

Por mais que os estudos foram feitos nos EUA, o Brasil também tem o histórico de escravidão e desigualdade, os dados estatísticos permitem que paralelos sejam traçados entre os dois países.

No Brasil, 54% da população é negra. Nos EUA, esse percentual é de apenas 13%. A violência contra a população negra no nosso país é grande. E os casos mais recentes são o de Beto Freitas, espancado até a morte dentro de um supermercado em Porto Alegre. E as primas, Emily e Rebeca, de quatro e sete anos respectivamente, que foram mortas por balas enquanto brincavam na porta de casa, em Duque de Caxias.

Efeitos

Lunetas

Esse ciclo vicioso do racismo deixa impactos em quem sofre. Mostramos quais são eles de acordo com o documento de Harvard. Primeiro o corpo fica em estado de alerta constante. Até porque, o racismo e a violência dentro da comunidade estão entre o que Harvard chama de “experiências adversas na infância”. E passar por isso constantemente faz com que o cérebro se mantenha sempre em estado de alerta. Isso acaba provocando o chamado estresse tóxico.

O segundo efeito é as pessoas negras terem mais chance de ter doenças crônicas ao longo da vida. Até porque a exposição a esse estresse tóxico é um dos fatores que ajuda a explicar essa maior incidência de doenças crônicas em pessoas negras.

O terceiro efeito são as diferenças na saúde e na educação. Isso por si só potencializa os outros fatores. Já que as pessoas negras têm um acesso menor aos serviços público de qualidade.

“Pessoas de cor recebem tratamento desigual quando interagem em sistemas como o de saúde e educação, além de terem menos acesso a educação e serviços de saúde de alta qualidade, a oportunidades econômicas e a caminhos para o acúmulo de riqueza. Tudo isso reflete formas como o legado do racismo estrutural nos EUA desproporcionalmente enfraquece a saúde e o desenvolvimento de crianças de cor”, disse o documento do Centro de Desenvolvimento infantil.

Por último, o quarto efeito é em cuidadores mais fragilizado e o racismo indireto. Os efeitos do estresse não se limitam às crianças. Eles também se estendem aos pais e responsáveis. E como um efeito bumerangue, ele volta a afetar as crianças de forma indireta.

“Múltiplos estudos documentaram como os estresses da discriminação no dia a dia em pais e outros cuidadores, como ser associado a estereótipos negativos, têm efeitos nocivos no comportamento desses adultos e em sua saúde mental”, continuou o Centro de Desenvolvimento Infantil.

É na infância que as pessoas começam a construir sua capacidade de acreditar em seu próprio potencial para viver no mundo, como aponta a psicóloga Cristiane Ribeiro. Entretanto, no caso da população negra, essa construção é afetada de forma negativa pelos estereótipos racistas.

“Avanços na ciência apresentam um retrato cada vez mais claro de como a adversidade forte na vida de crianças pequenas pode afetar o desenvolvimento do cérebro e outros sistemas biológicos. Essas perturbações iniciais podem enfraquecer as oportunidades dessas crianças em alcançar seu pleno potencial”, explicou o documento de Harvard.

“Precisamos criar novas estratégias para lidar com essas desigualdades que sistematicamente ameaçam a saúde e o bem-estar das crianças pequenas de cor e os adultos que cuidam delas. Isso inclui buscar ativamente e reduzir os preconceitos em nós e nas políticas socioeconômicas. Por meio de iniciativas como contratações justas, oferta de crédito, programas de habitação, treinamento antipreconceito e iniciativas de policiamento comunitário”, finalizou o Centro de Desenvolvimento Infantil de Harvard.

Fonte: G1, BBC

Imagens: Ricmais, Lunetas

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