História

O filme que foi visto como uma ‘aula de comunismo’ pela ditadura brasileira

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O filme “A Chinesa” causou uma verdadeira revolução durante a ditadura brasileira, e recebeu o título de “aula de comunismo” no Brasil.

“O cinema é de uma perfeição ímpar, porém, sua influência é completamente prejudicial para nós”, foi o que disse Jacira G. Figueiredo de Oliveira, chefe da Seção de Censura, para proibir a exibição do filme de Jean-Luc Godard em 1968.

Quatro anos após o golpe de 1964, a ditadura militar brasileira não apenas restringiu a liberdade da população, mas também transformou a expressão artística em um desafio monumental.

A repressão militar perseguiu artistas, obras literárias, músicas e diversas outras formas de expressão que estivessem em oposição ao regime.

Além dos nomes proeminentes da classe artística brasileira que sofreram com essa censura, produções internacionais também foram barradas no país.

Um exemplo disso foi ‘A Chinesa’. Em um documento, a censora Jacira Oliveira elogia abundantemente o filme, porém, o rotula como “uma verdadeira lição de comunismo”. Esse caso veio à tona em 2022 por meio do cineasta Kleber Mendonça Filho.

Apesar de reconhecer sua excelência e ter apreciado a obra, ela determina: “NÃO LIBERADO por contradizer as normas legais em vigor em nosso país, conforme estipulado no Decreto nº 20.493, art. 41 (D e G)”.

Via PlanoCrítico

Arte censurada

Essa adaptação do romance ‘Os Demônios’, de Fiódor Dostoiévski, retrata a saga de cinco estudantes franceses que, movidos pela indignação, tramam para derrubar o Império Russo por meio de uma campanha de violência revolucionária.

As ações desses estudantes, que representam diversas correntes ideológicas, são inspiradas no ‘Livro Vermelho’ de Mao Tsé-Tung.

Explorando os interesses políticos da Nova Esquerda dos anos 1960, o filme se desdobra em torno de eventos históricos e contemporâneos. Isso inclui a Revolução Russa, a intervenção militar norte-americana no sudeste asiático (Guerra do Vietnã) e a Revolução Cultural Chinesa.

Conforme lembra o portal Tenho Mais Discos que Amigos, quando o filme chegou ao Brasil, ele foi submetido à avaliação dos militares pelo Serviço de Censura de Diversões Públicas, vinculado ao Ministério da Justiça.

A Chinesa liberado

Em um artigo publicado na Revista Sures, Luiz Octavio Gracini Ancona, Mestre em História Social pela Universidade de São Paulo, relata que a censura do filme causou grande controvérsia na época.

Em 10 de fevereiro de 1968, o Jornal do Brasil noticiou a proibição de ‘A Chinesa’. Enquanto isso, o diretor da Companhia Franco-Brasileira, três dias depois, expressou sua indignação pela maneira “incorreta” e “absurda” com que o filme foi impedido.

Essa proibição desencadeou um confronto entre o ministro da Justiça Luís Antônio da Gama e Silva e o coronel Florimar Campello, então diretor do Departamento de Polícia Federal.

Consequentemente, em 6 de março, a distribuidora do filme enviou uma carta a Gama e Silva junto com seis críticas publicadas sobre o filme, incluindo uma do Le Monde (considerado de direita).

A distribuidora também destacou o caráter satírico de ‘A Chinesa’, argumentando que ele não se enquadrava como “propaganda comunista”; pelo contrário, o filme denunciava a “ruptura de unidade” entre os comunistas russos e chineses e, portanto, “desagradava aos comunistas, tanto no Brasil quanto no mundo”.

Autorização

Via Mubi

Dois dias depois, em uma edição subsequente do Jornal do Brasil, o ministro anunciou que estava em posse de uma cópia do filme. Por isso, avaliaria sua censura — que caiu apenas em 21 de março.

Em seu pronunciamento, Luís Antônio refutou os argumentos apresentados por Campello, considerando-os inválidos.

Na análise, ‘A Chinesa’ era uma “obra satírica desprovida de qualquer mensagem positiva a favor do marxismo-leninismo”. Além disso, tinha uma exposição da “irreconciliável divergência” dentro do mundo comunista, assim como a “futilidade dos debates sobre temas político-ideológicos por parte de jovens utópicos”, nas palavras do comunicado.

Por fim, o ministro determinou que o filme de Jean-Luc Godard não representava “nenhum perigo para a Segurança Nacional nem para a formação política de nossa juventude”. Assim, liberou sua exibição em todo o território brasileiro com uma classificação etária máxima de 18 anos.

 

Fonte: Aventuras na História

Imagens: Mubi, PlanoCrítico

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