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O que é agnosia visual e como esse distúrbio é causado

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Você já se imaginou enxergando um sapo em vez de um abacate, gatos em vez de sacolas plásticas e pelicanos passeando em alas hospitalares? Essas confusões visuais podem ocorrer com as pessoas que sofrem de agnosia visual. Em resumo, elas perdem a capacidade de reconhecer pessoas, objetos ou cores, mesmo enxergando normalmente.

Em maio de 2019, a designer educacional Camila Fabro da Silveira teve um ataque isquêmico transitório (AIT). Depois, ela teve dois Acidentes Vasculares Cerebrais (AVCs): um hemorrágico e outro isquêmico.

Depois de dois anos, ela foi diagnosticada com agnosia visual, como sequela dos AVCs. Na época, Camila estava com 34 anos. De acordo com ela, ainda na idade de Tratamento Intensivo (UTI), começou a confundir objetos.

“Na UTI, eu vi a bota marrom de uma mulher que estava visitando um paciente ao meu lado e enxerguei uma galinha ciscando. Daí eu comecei a pedir para tirar aquele “bicho” dali. Mas o técnico de enfermagem disse para eu me acalmar, que não havia bicho nenhum e que, provavelmente, eu estava tendo uma reação adversa dos medicamentos. Mas a “galinha” apareceu novamente, e eu gritei apontando para ela. Então, uma das enfermeiras falou no meu ouvido que eu estava apontando para a bota de franjas da visitante”, recorda-se.

As diversas confusões visuais

Foto: Arquivo Pessoal/ G1

Depois disso, as confusões visuais não pararam mais e uma enxurrada de bichos começou a aparecer. A designer explica que algumas vezes ficou assustada, mas em outras, ela aos poucos notou o que realmente eram os objetos.

No entanto, ela aponta que pior que as visões são os julgamentos das pessoas que não sabem sobre a sua condição.

Além disso, a designer aponta que não identifica naturalmente a face das pessoas, condição chamada de prosopagnosia. Esse déficit neurológico deixa o indivíduo com dificuldade para reconhecer especificamente os rostos. “Mas eu tento reconhecer pelos detalhes em volta, o movimento do cabelo e pela voz.”

Beatriz Baldivia, neuropsicóloga e especialista em reabilitação neuropsicológica, afirma que o impacto da prosopagnosia na vida adulta é muito difícil, porque antes a pessoa tinha uma vida comum, mas agora precisa lidar com mudanças radicais.

Em 2021, Camila foi a uma neuropsicóloga, realizou vários testes e o diagnóstico de agnosia visual e prosopagnosia foi confirmado.

“Eu fiz tratamento psicológico e quase fui encaminhada para a psiquiatria. Um diagnóstico psíquico anterior dizia que eu não poderia mais nem trabalhar normalmente. Se não fosse meu amigo médico dizer que eu não tinha doença mental, possivelmente, eu não teria mais a minha vida”, desabafa a designer educacional.

Agnosia visual e a prosopagnosia são condições pouco faladas

Foto: Getty Images

A agnosia não é uma doença, mas sim um sintoma que impede as pessoas de reconhecer as coisas através da visão. A condição pode ser diagnosticada através de testes de imagem e da função cerebral. Estima-se que até 3% da população mundial tenha agnosia.

Na maioria dos casos, o distúrbio é causado por uma lesão no lobo parietal, temporal ou occipital do cérebro. Essas áreas armazenam memórias dos usos e importância dos objetos, visões, sons familiares. Em resumo, elas são responsáveis pela associação das imagens aos seus respectivos significados.

A agnosia pode ser adquirida como sequela de um AVC, tumores ou lesões cerebrais, abscessos (bolsas de pus) cerebrais e doenças degenerativas.

Entre as principais agnosias está a prosopagnosia (cegueira facial). “A prosopagnosia pode se desenvolver precocemente ainda nos primeiros meses de vida porque, por algum motivo, determinadas áreas do cérebro não se desenvolveram adequadamente”, explica Pontes Neto, neurologista e professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.

Há duas formas de prosopagnosia. A primeira e mais rara é a forma adquirida, quando a pessoa tinha a habilidade de reconhecer faces e a perdeu. Já a segunda é a congênita, quando a pessoa já nasce com a condição.

De acordo com os especialistas, o diagnóstico de prosopagnosia congênita deve ser feito com cautela. Isso porque as agnosias na infância podem ser confundidas com autismo. 

“É claro que as duas condições podem acontecer juntas, mas nós devemos diminuir esses equívocos”, pontua Baldivia.

Reabilitação

Foto: All About Vision

De acordo com Breno Barbosa, professor adjunto de Neurologia do Hospital das Clínicas, vinculado à rede Ebserh, da Universidade Federal de Pernambuco UFPE e Vice-coordenador do Departamento Científico de Neurologia Cognitiva da Academia Brasileira de Neurologia, para uma reabilitação, o pacenite deve ter acesso a uma equipe multidisciplinar composta, em especial, por neurologista, terapeuta ocupacional e neuropsicólogo.

“O paciente vai precisar fazer as terapias de reabilitação para estimular as áreas do cérebro para que aos poucos consiga reaprender as coisas usando os sentidos que não foram afetados. Às vezes, a casa precisa ser adaptada, o trabalho, o teclado do computador”, explica Barbosa.

Fonte: G1

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