A paciente que recebeu o 500° transplante de pulmão no Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP, em São Paulo, está pronta para aposentar os cilindros de oxigênio que usou a vida toda.
A comemoração da cirurgia foi dupla, para o InCor, que celebra uma marca recorde no número de cirurgias, e também para Maria de Fátima Souza Silva, moradora de Barueri, na Grande São Paulo.
A mulher, de 57 anos, usava a mangueira do cateter nasal diariamente, e não conseguia sobreviver sem a ajuda do aparelho. Isso a restringiu a vida toda, mas tudo mudou quando recebeu uma ligação do hospital.
Uma mulher que deu entrada com morte cerebral no pronto-socorro era doadora de órgãos, e o pulmão era compatível. O médico Paulo Pego Fernandes, responsável pelo transplante, também é o presidente da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos.
Ele disse que a situação era rara, pois o doador e o receptor estavam internados no mesmo hospital, o que contribuiu para o órgão continuar viável. Além disso, a mulher doadora sofreu um infarto agudo do miocárdio. Geralmente, essa condição inviabiliza os transplantes, mas a equipe médica conseguiu ressuscitá-la. Infelizmente, seu cérebro não voltou, e a família autorizou a doação.
Em 32 anos, esse foi o 500º procedimento do hospital desde o início das suas atividades.
Condição também ajudou
O caso de Maria também ajudou a realizar a operação o mais rápido possível, pois seu caso era extremo, mas com possibilidade de transplante de pulmão para ter chances de cura.
A doença era bronquiectasia, que causa a dilatação anormal e distorção irreversível dos brônquios. Por isso, ela precisava usar diariamente o cilindro de oxigênio e tratava pneumonias frequentes.
Mesmo com a condição ruim, conseguiu receber os dois pulmões no mesmo dia, com mais de sete horas de cirurgia pulmonar bilateral. O médico que liderou a operação comemorou 40 anos de carreira no mesmo dia.
Maria de Fátima terá alta nas próximas semanas, com uma melhora significativa de vida.
Transplante de pulmão mudará vida da paciente
A paciente Maria de Fátima também está animada para ter sua vida mudada com o transplante de pulmão. Ela já faz planos sobre o que fazer sem precisar utilizar o equipamento todos os dias.
Maria quer uma “vida boa”, viajar para visitar seu pai, de 98 anos, e também reformar sua casa. Ela quer passear, conhecer a praia, “sair de casa um pouquinho”, como mesmo disse em entrevista.
Sem o transplante de pulmão, ela teria vivido o resto da vida nas mesmas condições. Maria não dormia mais, por conta da doença, e os cilindros a impediam de andar livremente até mesmo pela casa.
Cuidar dos seus filhos e do marido era um desafio diário. Antes de a doença piorar, ela trabalhava de faxineira para complementar a renda do esposo, que era pedreiro. Com o passar dos anos, a situação piorou, e ela precisava do cilindro a todo momento, não apenas por algumas horas.
Desafios diários
Além disso, também passou a visitar mais o hospital. Seu marido, de 63 anos, ajudava com o transporte do equipamento para atividades diárias. Maria conta que gostava de passear e visitar as amigas vizinhas, mas tinha que ir acompanhada do cilindro.
O aparelho tinha rodas para acompanhá-la, mas era difícil carregá-lo, e, por isso, começou a não sair mais de casa. Isso porque moravam em uma rua íngreme, e não era possível andar em sua condição.
Antes do transplante de pulmão que mudou sua vida, Maria também reclamava que o cateter deixava seu rosto e orelhas doloridos constantemente. Ela também gastou muito das suas reservas para conseguir ter o mínimo de qualidade de vida.
Agora, a família acredita que ela será uma mulher livre, que poderá aproveitar o resto dos seus anos da maneira que desejar, viajando e conhecendo lugares novos.
Fonte: G1
Imagens: G1
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