Saúde

Palmadas educativas? Castigo pode ter efeitos nocivos nas crianças

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Durante os anos, o debate em torno do uso de palmadas como forma de disciplina tem sido extenso e controverso. Afinal, pessoas de gerações passadas defendem esse método de educação, enquanto outras se posicionam contra a violência com crianças.

No entanto, estudos surgem a favor de métodos educacionais mais positivos. Isso porque uma pesquisa recentemente publicada na revista Child Development trouxe à luz conclusões que corroboram décadas de estudos sobre o assunto: mesmo palmadas leves podem ocasionar danos.

Realizado por pesquisadores da Harvard Graduate School of Education, o estudo revela que o uso das palmadas tem o potencial de modificar a resposta cerebral das crianças, de maneira similar aos efeitos de maus-tratos graves, aumentando a percepção de ameaças.

Danos cerebrais

Via Freepik

O estudo envolveu a análise de 147 crianças, algumas das quais receberam palmadas durante os primeiros anos de vida, enquanto outras não receberam esse tipo de disciplina.

Por meio de ressonância magnética, os pesquisadores examinaram as respostas cerebrais dessas crianças diante de uma variedade de estímulos emocionais, incluindo expressões faciais que indicavam possíveis ameaças.

Surpreendentemente, as crianças que tinham sido alvo de palmadas demonstraram uma resposta cerebral mais acentuada. Isso sugere que o método disciplinar pode afetar a função cerebral de forma semelhante a formas mais graves de maus-tratos.

Uso das palmadas é popular

Embora o uso das palmadas seja geralmente considerado desatualizado, é surpreendente notar que ainda é amplamente praticado por pais e até mesmo em algumas escolas, mesmo em países onde tal forma de castigo corporal é proibida.

Segundo Jorge Cuartas, Ph.D. de Harvard e autor do estudo, as palmadas não apenas se mostram ineficazes na disciplina, mas também estão associadas a problemas de saúde mental e dificuldades no desenvolvimento socioemocional.

Os resultados da pesquisa indicam que as palmadas desencadeiam reações cerebrais semelhantes às provocadas por experiências mais ameaçadoras, como abuso sexual.

Esse impacto no cérebro pode afetar áreas cruciais para a regulação emocional e a detecção de ameaças, habilidades essenciais para o sucesso em ambientes educacionais.

Cultura mundial

Embora muitos países tenham proibido os castigos corporais, países como os Estados Unidos não estão entre eles, com cerca de um terço dos pais admitindo espancar seus filhos semanalmente.

Enquanto isso, no Brasil, a Lei n.º 13.010/14 alterou o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), proibindo o uso de castigos físicos ou de tratamento cruel, ou degradante, contra crianças.

Nesse aspecto, existe um atraso considerável, uma vez que países como Suécia e Finlândia aboliram essa prática há mais de 40 anos.

Jorge Cuartas ressalta a importância de reconhecer a ineficácia das palmadas como método disciplinar, incentivando abordagens mais positivas, como a disciplina positiva.

Via Freepik

O que é disciplina positiva?

A disciplina positiva é uma abordagem educacional que se concentra em promover o desenvolvimento saudável e positivo das crianças.

Ele se baseia em princípios de respeito mútuo, comunicação eficaz e entendimento das necessidades da criança em diferentes estágios de desenvolvimento.

Em vez de recorrer a métodos punitivos ou coercitivos, a disciplina positiva enfatiza a orientação, o estabelecimento de limites claros e o incentivo ao comportamento adequado.

O modelo valoriza a construção de conexões emocionais fortes entre pais e filhos. Afinal, reconhece que um relacionamento saudável é essencial para promover o entendimento e a cooperação.

Além disso, os pais recebem incentivo para entender as necessidades e os sentimentos de seus filhos, praticando a empatia e a comunicação aberta para resolver conflitos de maneira construtiva.

Em vez de simplesmente punir o mau comportamento, a disciplina positiva envolve o ensino de habilidades sociais, emocionais e de resolução de problemas, capacitando as crianças a desenvolverem autocontrole e responsabilidade.

No entanto, é fundamental reforçar que existe o estabelecimento de limites claros e consistentes. Embora promova uma abordagem gentil, a disciplina positiva também reconhece a importância de ter regras e propor consequências conforme o caso.

Contudo, a base ocorre no reconhecimento positivo e no incentivo da repetição de comportamentos saudáveis, e não punitivos ou físicos, como no uso das palmadas.

Deve ser política pública

Além disso, os pesquisadores destacam a importância de pressionar os governantes por políticas globais que proíbam os castigos corporais. Dessa forma, poderão eliminar essa prática em todos os países do mundo de maneira definitiva.

O especialista também sugere fornecer um apoio mais eficaz às famílias, reconhecendo que os pais podem recorrer às palmadas devido a influências aprendidas na infância, estresse emocional ou circunstâncias familiares complexas.

Em outras palavras, é fundamental realizar um processo de conscientização, cura de traumas anteriores e quebra de padrões para não prolongar a geração.

 

Fonte: Mega Curioso

Imagens: Freepik, Freepik

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