Entenda por que o poker é um esporte da mente e não simplesmente um jogo de azar

Ao ouvir o termo esporte da mente, você muito provavelmente pensa em modalidades como xadrez e damas, certo? Se sim, saiba que está mais do que correto. Porém, essas não são as únicas reconhecidas pela instituição que regula o setor no mundo todo, a International Mind Sports Association (IMSA), e uma delas talvez surpreenda: o poker.

Isso porque o jogo de cartas mais famoso do planeta está muito associado aos cassinos de Las Vegas, que por sua vez trazem uma imagem muito forte de jogos de azar. Porém, é preciso separar o joio do trigo, uma vez que o poker é um jogo completamente diferente de outros como blackjack (21), roleta e caça-níqueis, que são reconhecidamente jogos em que ter sorte faz toda a diferença – embora até mesmo essas modalidades contem com algumas estratégias para “dobrar” o azar.

Embora a sorte também desempenhe um papel de certa relevância no poker – como em qualquer outro esporte -, ao se deparar com as regras do Texas Hold’em ou de qualquer outra vertente da modalidade, o competidor percebe que é necessário ter um conhecimento aprofundado em alguns conceitos para ter sucesso, o que por si só exige uma grande habilidade.

Um jogo de tomada de decisões

Você já se perguntou o que explica o fato de as mesas finais dos principais torneios de poker do mundo sempre contarem com algumas figurinhas carimbadas, como Phil Hellmuth, Phil Ivey, Daniel Negreanu e outros craques do jogo? Só essa reflexão é suficiente para derrubar o mito de que o poker é essencialmente um jogo de azar – afinal, haja sorte para estar no topo dos torneios por décadas.

Boa parte dos jogadores profissionais define o poker como um jogo de pessoas com cartas e fichas, e não o contrário. Isso porque a dinâmica das partidas é ditada por uma sequência de decisões. A cada rodada, o jogador tem as opções de apostar, aumentar a aposta, cobrir a aposta ou simplesmente fugir. Essas decisões são baseadas em uma série de fatores, que incluem o posicionamento na mesa, as probabilidades matemáticas a partir de como as cartas são dispostas, o estilo dos adversários, o tamanho de seu bankrolll (ou seja, a quantidade de fichas), o custo de entrada e o seu próprio estado mental – apenas para citar alguns dos aspectos mais importantes.

Compreender todas essas variáveis exige, portanto, um intelecto um tanto quanto avançado. O sucesso de um jogador de poker está diretamente ligado a sua capacidade de tomar decisões rápidas e assertivas considerando todos esses fatores – e não apenas as cartas que recebe.

Os atributos mentais de um bom jogador de poker

A essa altura, você já percebeu que ter sorte compõe apenas 5% ou 10% do que um jogador de poker precisa para ter sucesso na modalidade – o restante vem de alguns atributos mentais. Um deles é a capacidade de concentração e foco para estar atento a tantas variáveis ao mesmo tempo, e ajustá-las de acordo com as situações que o jogo proporciona.

Um exemplo: a depender das cartas que você recebe, a decisão de pagar ou não uma aposta (ou aumentá-la) varia de acordo com a posição em que você está na mesa em relação a quem é o primeiro a agir – isso muda toda mão. Portanto, estar atento ao posicionamento é fundamental.

Outra habilidade mental necessária é o equilíbrio emocional para saber lidar com as vitórias e, principalmente, com as derrotas. Muitos jogadores acabam tentando recuperar perdas a todo custo, e isso geralmente acarreta mais perdas.

Ter frieza também é um diferencial, sobretudo quando falamos do blefe, um dos componentes mais importantes do poker e que ajudam ainda mais a diferenciá-lo dos outros jogos de azar. Saber enganar os adversários quando preciso separa os bons dos maus jogadores.

Ponto de vista legal

O Brasil tem avançado nas discussões acerca da regulamentação dos cassinos e jogos de azar, o que pode significar a legalização desses setores em pouco tempo – algo que não acontece desde a Era Vargas, quando os cassinos foram fechados definitivamente. No entanto, outra prova de que o poker está alheio a essa situação é a ausência de entraves jurídicos para sua prática em clubes e hotéis do Brasil.

Não é à toa que grandes marcas, como World Series of Poker, Brazilian Series of Poker, partypoker Millions e Kings Series of Poker realizam torneios em cidades brasileiras sem nenhum obstáculo legal para tal – diferentemente de outros jogos como bingo, por exemplo, que são proibidos justamente por serem jogos de azar.

No entanto, a volta dos cassinos só tende a crescer ainda mais a popularidade do poker no Brasil e sua representatividade enquanto país-sede de diversos torneios importantes do esporte da mente, impactando inclusive outros setores da economia, como o turismo.