Curiosidades

Por dentro de clínica que trata dependentes em jogos eletrônicos

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Uma coisa bastante comum de se ver hoje em dia, e até mesmo encorajada em alguns casos, são pessoas que passam horas em frente às telas com jogos eletrônicos. Contudo, esse hábito pode acabar se tornando um vício, que é cada vez mais comum e constante.

Um exemplo disso é o filho de Stephen e Louise, Alex, de 16 anos. A vontade compulsiva do menino em jogar jogos de tiro, como Counter-Strike, até tarde da noite gerou uma angústia em seus pais.

O menino foi diagnosticado recentemente com autismo, mas desde o começo de 2021, ele também faz tratamento em uma clínica do serviço de saúde pública do Reino Unido (NHS) especializada no tratamento de dependentes de vídeo games. O Centro Nacional de Transtornos dos Jogos Eletrônicos é a única instituição de tratamento desse tipo no Reino Unido.

Alex foi para essa clínica porque seus pais o colocaram lá, mas o menino não se dedicou ao tratamento. Na visão de Louise, por mais que o tratamento possa não estar funcionando para seu filho, o restante da família, inesperadamente, tem se beneficiado.

“O que mais nos ajuda é falar com outros pais de filhos que têm a mesma necessidade de jogar videogames. O nosso grupo de apoio se reúne no Zoom a cada duas semanas”, disse ela.

“Mais do que qualquer outra coisa, acho que o melhor é perceber que você não está sozinho. Existem inúmeras outras pessoas em todo o país e em todo o mundo passando pela mesma situação. Para nós, como casal e como família, tem sido um desafio, pois é muito difícil ter interação fora da casa. E, sempre que há alguém nos visitando, ele fica no quarto jogando o tempo todo, gritando e xingando. Dormir, para nós, tem sido um enorme problema e muitas vezes dormimos em quartos separados. Preciso ligar um ventilador para abafar o barulho do jogo”, completou Stephen.

Vício em jogos

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Essa compulsão dos pacientes, em sua maioria adolescentes, pelos jogos é tão grande que, muitas das vezes, ela gera explosões violentas e confrontos com seus pais ou cuidadores.

Na clínica, vários pacientes já ameaçaram se suicidar quando foram negados os consoles dos jogos de computador. E os pacientes têm suas interações sociais quase que restritas a atividades online ou games.

Esse transtorno dos jogos eletrônicos é uma condição que enfrenta controvérsias. A Organização Mundial da Saúde a define com três características. São elas: perda de controle durante o jogo, priorização dos jogos sobre outros interesses e intensificação dos jogos, mesmo com consequências negativas.

Entretanto, alguns psicólogos e até mesmo a própria indústria de videogames questionam as evidências que foram usadas para definir tal transtorno.

Até pouco tempo, as pessoas com problemas com jogos tinham ajuda apenas no Reino Unido na rede de assistência médica privada. Agora, essa clínica, no oeste de Londres, é parte do Centro Nacional de Dependências Comportamentais do país.

Esse centro tem experiência no tratamento de problemas com jogos de apostas, e o vício em videogames é uma coisa nova para a equipe do local. “Sabemos que o transtorno dos jogos eletrônicos é uma condição bastante rara. Seus sintomas podem ser muito graves, o que nos surpreendeu. Muitas vezes, as pessoas têm muita dificuldade para cuidar de suas emoções. Elas podem enfrentar raiva, ansiedade e tristeza. E também sofrem sintomas físicos, como perda do sono. Isso ocorre porque as pessoas jogam à noite para conectar-se com jogadores de outros países”, pontuou a psicóloga clínica Rebecca Lockwood, que atua como consultora.

Segundo Becky Harris, gerente e terapeuta familiar na clínica, eles já trataram mais de 300 pessoas, sendo 200 em 2021. Ela também diz que 89% das pessoas que foram tratadas no centro de transtornos dos jogos eletrônicos são homens com uma variação de idade surpreendente.

“Começamos o tratamento aos 13 anos de idade. Tivemos alguns casos com 12 anos que nos foram indicados e também soubemos de pais de crianças com até 8 anos, mas não pudemos examiná-las. A idade das pessoas indicadas para tratamento vai até a casa dos 60 anos”, afirmou.

Só um hobby?

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Milhões de pessoas veem os videogames como um passatempo e fonte de entretenimento e conexão. Mas e quando o tempo dedicado aos jogos passa do ponto e se torna um comportamento problemático?

“Até onde sei, não há evidências científicas quantitativas de que haja algo de especial nos vídeo games que cause algum tipo de dano psicológico. Na verdade, pode-se argumentar que existe uma enorme variedade de comportamentos ou atividades que você pode fazer em excesso, como comer ou exercitar-se, com evidências muito mais fortes”, disse Andrew Przybylski, diretor de pesquisas do Instituto da Internet da Universidade de Oxford.

“Se você tem alguém sofrendo e os games são parte desse sofrimento, preciso dizer que, como qualquer paixão, eles são parte do que o paciente está apresentando como a sua vida, sua perspectiva e suas experiências. E, por isso, acho que provavelmente a melhor forma de pensar sobre os games nesse momento é pensar neles como qualquer outro hobby e usar isso como forma para que o terapeuta consiga envolver o paciente”, continuou.

Nesse ponto, Harris ressalta que no Centro Nacional de Transtornos dos Jogos Eletrônicos, eles não são contra os videogames. “Aceitamos totalmente que, para muitas pessoas, os jogos são algo realmente positivo nas suas vidas. Estamos falando, na verdade, sobre o pequeno percentual de pessoas com imensos problemas com os vídeo games, que afetam verdadeiramente sua qualidade de vida e capacidade de interação e funcionalidade”, concluiu ela.

Fonte: BBC

Imagens: BBC

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