Natureza

Por que alguns animais se reproduzem sozinhos?

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Quase todos os animais que conhecemos seguem o método convencional de reprodução, em que óvulos e espermatozoides se combinam, mas alguns animais se reproduzem sozinhos na chamada partenogênese. Os cientistas ainda tentam entender como ela funciona.

Nesse modelo, sendo mais comum com animais que botam ovos, não há necessidade da presença de machos para a fecundação.

Não importa quantos mamíferos frustrados romanticamente desejam realizar tal façanha por conta própria, uma peculiaridade da nossa genética mantém a exigência da reprodução sexual.

Por isso, a partenogênese é mais comum em aves, abelhas, peixes e répteis.

Caso famoso

Via Revista Planeta

Um exemplo famoso da última década aconteceu com condores-da-califórnia, uma espécie ameaçada de extinção.

Em 2013, uma pesquisadora do San Diego Zoo Wildlife Alliance, nos Estados Unidos, encontrou dois filhotes machos no programa de reprodução de condores. No entanto, eles possuíam um DNA que não batia com o dos seus pais em cativeiro, nem de qualquer outro macho. O DNA dos filhotes coincidia apenas com o das mães.

Chemnick encontrou Oliver Ryder, o diretor de genética da conservação do zoológico, enquanto ele se dirigia ao seu carro e inquiriu sobre os dados peculiares que estava analisando.

Ryder explicou a Chemnick que qualquer filhote de condor com essas características deveria ter sido gerado a partir de ovos não fertilizados por espermatozoides.

Quando os dois cientistas, juntamente com outros colegas, publicaram sua descoberta sobre a partenogênese em 2021, os dois filhotes em questão já haviam falecido.

Ambos morreram jovens, um deles quase aos dois anos e o outro próximo dos oito. Apesar disso, suas mães tinham gerado muitos outros filhotes, concebidos com seus parceiros da forma usual.

Cada nascimento de um condor é um evento milagroso. Em 1982, quando apenas 22 condores-da-califórnia restavam no planeta, conservacionistas começaram a capturar todas as aves e transferi-las para cativeiro em uma tentativa desesperada de salvar a espécie.

Em 2022, o número de aves tinha aumentado para 561, com a maioria delas agora vivendo livremente na natureza.

Milagre natural

Uma parte essencial do aumento dessa população saudável de condores tem sido o monitoramento genético das aves, o que possibilitou a identificação dos filhotes concebidos por meio de partenogênese.

Desde a detecção dos primeiros dois casos, Ryder mencionou que sua equipe identificou mais dois, os quais faleceram antes do nascimento.

Até o momento, ainda não se compreende completamente como suas mães fizeram isso, assim como não conseguem explicar como os animais se reproduzem sozinhos.

Como os animais se reproduzem sozinhos?

Os condores, como a maioria dos animais, possuem duas cópias de cada gene, uma de cada progenitor. Para gerar um óvulo ou um espermatozoide, um animal deve dividir seu material genético pela metade.

Durante o processo de reprodução sexual, quando o óvulo e o espermatozoide se unem, combinam seus genes para formar um novo genoma completo.

Para gerar filhotes sem a necessidade de espermatozoides, as mães de condores devem ter duplicado o DNA de um óvulo.

Existem diversas possibilidades de como isso pode ter ocorrido, afirmou Ryder, e sua equipe está conduzindo uma investigação mais detalhada que deve elucidar esse mistério.

Outras aves, como galinhas e perus, conseguiram realizar esse feito. Além disso, há os répteis, incluindo os dragões de Komodo.

No ano passado, cientistas relataram a ocorrência de partenogênese em um crocodilo-americano.

Existem até mesmo algumas espécies de cobras e lagartos que se reproduzem exclusivamente dessa maneira, abandonando completamente o método sexual.

Via Wikimedia

Muitos insetos e outros invertebrados também possuem a capacidade de se reproduzir sem a necessidade de machos, assim como certos tubarões e outros peixes.

Um exemplo notável é o tubarão-bambu de manchas brancas mantido em cativeiro, que deu à luz vários filhotes por partenogênese — um dos quais cresceu e gerou sua própria descendência sem a presença de um pai.

No Shedd Aquarium, em Chicago, uma fêmea de tubarão-zebra chamada Bubbles deu à luz dois filhotes por partenogênese em 2016, embora ambos tenham falecido logo após o nascimento.

Assim como no caso dos condores-da-califórnia, a situação de Bubbles surpreendeu os cientistas, pois ela não estava sozinha na época.

Ela compartilhava seu espaço com dois tubarões machos, que, se presume, estavam disponíveis para reprodução.

Controle ou involuntário?

Atualmente, não se sabe se uma fêmea tem a capacidade de escolher se reproduzir sozinha — por exemplo, se suas opções de reprodução atuais forem insatisfatórias — ou se a partenogênese ocorre independentemente de seu controle.

Os humanos só tomaram conhecimento da partenogênese e descobriram que os animais se reproduzem sozinhos quando fêmeas solitárias deram à luz filhotes ou quando os pesquisadores estavam rastreando os genes de uma determinada população.

Contudo, considerando quantas espécies diferentes demonstraram essa capacidade, é possível que muitos outros tipos de animais fêmeas estejam se reproduzindo secretamente por conta própria.

Para alguns pesquisadores, pode ser mais comum do que parece, mas pouca coisa explica esse mistério da natureza.

 

Fonte: Folha de São Paulo

Imagens: Wikimedia, Revista Planeta

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