Inovação

Saiba por que (e por que não) deveríamos dizer ‘obrigado’ ou ‘bom dia’ a ferramentas de IA

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Você tem o costume de agradecer IA depois de uma ajuda? Mandar ‘obrigado’ para o ChatGPT? Alguns pesquisadores são contra essa cordialidade.

Demonstrar cortesia e ter educação são características que demandam um estado de espírito humano.

Mesmo assim, às vezes temos tanto otimismo que não apenas cumprimentamos nosso vizinho e o vendedor, mas também coisas inanimadas, como o jornal da TV ou o chatbot que nos atendeu.

A noção de ser educado com uma máquina pode parecer estranha, assim como é estranho o fato de que todas as máquinas são programadas para interagir educadamente com os usuários. Claro, é mais fácil para elas, pois nunca têm um dia ruim.

Mas será que podemos ser gentis com uma inteligência artificial? Existem consequências de não ser?

Via Freepik

Em 1996, os acadêmicos Byron Reeves e Clifford Nass introduziram o conceito de “educação para a mídia”.

Esse conceito sugere que as pessoas, muitas vezes sem perceber, interagem com sistemas tecnológicos, como computadores e televisões, como se fossem seres humanos. Para testar isso, eles conduziram algumas pesquisas.

Os erros da IA

Em um desses experimentos, os participantes foram convidados a trabalhar em um computador e, em seguida, avaliar seu próprio desempenho.

Notavelmente, quando a avaliação era feita no mesmo computador em que trabalhavam, as notas tendiam a ser mais positivas, como se evitassem criticar o computador.

Em outro experimento, o computador elogiou os usuários pela tarefa que fizeram. Mesmo sabendo que esses elogios foram automáticos, os participantes deram uma nota mais alta ao computador que os elogiou.

Desde então, vários estudos confirmam que, por um lado, os humanos têm a tendência de atribuir características humanas às máquinas. Por outro lado, quando um sistema imita qualidades humanas, como a educação, os usuários percebem um melhor desempenho dele.

No entanto, essa inclinação não resolve o debate sobre a conveniência de ser gentil com a tecnologia.

Ser gentil ou ser prático

Inicialmente, o debate se concentrou nas interações com assistentes de voz como Siri e Alexa, levantando a questão sobre por que eles sempre têm voz e nome feminino.

Recentemente, esse debate se ampliou para incluir modelos de linguagem avançados como ChatGPT, Gemini e Claude.

A discussão se divide em duas áreas centrais: ética e prática. De um lado, questionam se é apropriado agradecer IA como se fossem sujeitos morais.

Por outro lado, investigam se a educação no tratamento influencia sua eficiência operacional.

Discussão ética

A primeira parte da questão, à primeira vista, traz uma longa discussão ética sobre o status moral dos animais e como devemos nos relacionar com eles.

No entanto, existem diferenças significativas em termos biológicos e cognitivos entre animais e máquinas.

Ao contrário da tecnologia, muitos animais possuem sistemas nervosos que lhes permitem sentir dor e prazer, sugerindo que se afetam positiva ou negativamente pelas ações dos outros.

Além disso, muitos animais demonstram sinais de possuir algum nível de consciência, implicando em uma experiência subjetiva do mundo.

E como as máquinas não possuem capacidades biológicas e emocionais, elas não têm os critérios necessários para serem iguais aos animais, muito menos aos humanos.

Via Freepik

Melhores respostas?

Enrique Dans, professor de Inovação e Tecnologia na IE Business School, diz não ser contra agradecer IA. No entanto, destaca que é importante entender que as máquinas não têm emoções ou consciência para apreciar essa cortesia.

Um argumento comum contra essa visão é que as futuras gerações de IA e robôs poderiam ser tão complexas a ponto de desenvolver consciência ou até mesmo emoções.

Outro ponto do debate é se ser educado com uma máquina é benéfico ou prejudicial ao interagir com ela.

Dans enfatiza que cada resposta de uma máquina vem de um sistema complexo de processamento de dados, padrões e algoritmos, não de um ser humano com emoções e intenções.

Assim, ao tentar agradecer IA e ser educado, seria atribuir características humanas para a máquina, prejudicando seu algoritmo. Expressões como ‘por favor’ e ‘obrigado’ apenas adicionam informações desnecessárias na rede.

Treinamento humano

Enquanto isso, Julio Gonzalo, diretor do centro de pesquisa UNED em Processamento de Linguagem Natural e Recuperação de Informação, destaca que, em certos sistemas, os usuários podem receber respostas de melhor qualidade se forem mais instruídos.

Isso não se deve à máquina processar emoções ou se sentir valorizada com uma palavra educada.

No caso, o que acontece é que, ao se comunicar educadamente, as mensagens do usuário tendem a se parecer mais com os exemplos de interações.

Como essas amostras geralmente estão ligadas a respostas de melhor qualidade, a educação pode indiretamente melhorar a qualidade das respostas obtidas.

Muitos sistemas são sensíveis às interações, como o ChatGPT, e podem mudar com certa pontuação ou frase motivacional.

Não significa que agradecer IA influencie no serviço que ela presta, mas seu treinamento se torna mais humano. Os padrões de resposta terão maior clareza, mas com um toque de cordialidade.

 

Fonte: Globo

Imagens: Freepik, Freepik

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