Profissionais superqualificados que não conseguem emprego

Todo mundo já ouviu que o trabalho dignifica o homem. Mas a realidade mesmo é que, para a maioria das pessoas, o trabalho é mais uma questão de necessidade e sobrevivência. É com o emprego que a maioria de nós consegue dinheiro e pode ganhar a vida.

Contudo, alguns profissionais têm dificuldade para arrumar um emprego e por um motivo que parece até contraditório: ser superqualificado. A princípio, ser superqualificado para um emprego pode parecer uma coisa boa, já que um candidato com mais experiência logicamente seria colocado no topo dos currículos. Além disso, contratar um funcionário que ofereça mais do que as exigências do cargo parece uma grande sorte para o empregador.

Entretanto, a realidade não é bem essa. A verdade é que ser qualificado demais às vezes pode ser um motivo para ser descartado pelas empresas. Muitas das vezes, os empregadores rejeitam os candidatos se baseando no excesso de conhecimento deles.

Emprego

Conforme um profissional vai crescendo em sua carreira, geralmente eles assumem cargos mais importantes até chegarem em cargos de chefia. No entanto, quanto mais longe na carreira eles vão, menos alternativas de emprego eles têm disponíveis.

“Eles caminham em direção ao topo da pirâmide. Quanto mais experiência eles ganham, menor é o seu leque de oportunidades. Tentar algo diferente exigiria voltar à base da pirâmide”, explicou Terry Greer-King, vice-presidente para a Europa, Oriente Médio e África da empresa de cibersegurança SonicWall, com sede em Londres.

Por isso que, em alguns casos, os profissionais querem dar um passo atrás para seguir em frente. Seja por conta de uma mudança de carreia, ou porque o trabalhador experiente está projetando um ganho futuro então sabe que tem que fazer esse movimento em sua carreira.

E mesmo que esses motivos pareçam boas razões para os candidatos, encontrar trabalhadores se candidatando para cargos que são, aparentemente, abaixo do seu nível atual de carreira pode ser um alerta para quem está recrutando.

Superqualificados

De acordo com Greer-King, um currículo de um candidato excessivamente qualificado pode mostrar que ele muda de empregos com uma certa frequência ou que ele permanece estagnado, o que também gera suspeitas.

“Para contratar alguém, você precisa ser paranoico. Se alguém estiver descendo um ou dois níveis e provavelmente já atingiu o que o cargo oferece, você precisa perguntar quais são os seus motivos”, disse ele.

Nesses casos, existem os candidatos que conseguem explicar, com sucesso, os motivos que os fizeram se candidatar para determinada vaga. Mas existem também os que podem gerar receio nos recrutadores e que o cargo mais baixo irá deixar o candidato insatisfeito.

A preocupação maior é que o candidato superqualificado logo sentirá que ele não tem desafios e isso o deixará entediado e ansioso por uma nova mudança.

“Quando alguém entra em uma empresa, pode levar de três meses a um ano para que seja totalmente produtivo. Mesmo alguém superqualificado para o cargo não consegue chegar e fazer o trabalho. É preciso entender a cultura, os processos e a tecnologia. Por isso, investir todo esse tempo em alguém, apenas para que saia seis meses depois, não é a decisão mais inteligente na hora da contratação”, pontuou Greer-King.

Observações

Os funcionários em cargos superiores, onde a pessoa já está bem estabelecida, como por exemplo a consultoria administrativa, podem ser bem vulneráveis aos perigos da super qualificação.

“Alguém pode ter profunda experiência em um campo, candidatar-se a um emprego em outro e acabar apenas ouvindo da equipe de recrutamento que deveria candidatar-se a um cargo mais alto. Mas, se a empresa não tiver um cargo aberto naquele nível, o candidato acaba sendo rejeitado”, afirmou Davis Nguyen, fundador da escola de treinamento My Consulting Offer, nos Estados Unidos.

Nesses casos, os empregadores podem dizer que eles têm experiências demais para a vaga. Ou então, eles dizem que o candidato não é o mais adequado para a empresa

“Os empregadores querem contratar a pessoa certa, no momento certo, que possa crescer no cargo, desenvolver-se e amadurecer. Os funcionários geralmente querem desafios. Com isso, eles tendem a ser mais felizes e permanecer por mais tempo”, ressaltou Greer-King.

Mas claro que alguns empregadores conseguem contratar e aproveitar esses trabalhadores superqualificados. Segundo Greer-King, mais especificamente elas são as empresas pequenas e que são menos limitadas pelas hierarquias e estruturas corporativas.

“As startups são ágeis e têm flexibilidade. Elas podem contratar um candidato superqualificado e justificar essa contratação com um cargo e salário adequados para sua experiência”, disse ele.

Conseguir emprego

De acordo com Shelley Crane, diretora na empresa de recursos humanos Robert Half, com sede no Reino Unido, os empregadores ágeis também podem contratar trabalhadores superqualificados e promovê-los rápido já antecipando possíveis sentimentos de tédio.

“Alguém ‘bom demais’ para o cargo será apenas benéfico para a companhia no curto prazo a menos que haja excelentes oportunidades de crescimento interno”, disse ela.

E as empresas também podem estar mais dispostas a dar o emprego para trabalhadores superqualificados mais jovens. De acordo com Greer-King, os motivos desse trabalhador para uma mudança para baixo podem ser justificados mais facilmente.

“Quanto mais idade você tiver, maior o prejuízo em uma posição júnior. E é mais provável que sua necessidade imediata seja financeira. Contratar um candidato com mais idade também significaria que ele estará não apenas sendo chefiado por alguém com menos experiência, mas também por mais jovem do que ele, o que pode criar questões estruturais”, explicou ele.

Fonte: BBC

Imagens: BBC, Alto astral