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Refugiado sírio fica preso em aeroporto por sete meses

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Hassan Al Kontar, refugiado sírio, viveu sete meses na área de desembarque do aeroporto Internacional de Kuala Lumpur, na Malásia. Ele estava sem dinheiro, sem passaporte e, portanto, sem saída. Sua história aconteceu em 2018, e logo os jornais a estamparam pelas folhas e telas ao redor do mundo.

Hassan conseguiu tal atenção depois que teve acesso ao wi-fi do aeroporto, compartilhando sua saga nas redes sociais. Porém, tudo começou alguns anos antes, quando ele ainda morava nos Emirados Árabes Unidos, e a guerra na Síria estourou, em 2011.

Dessa forma, Hassan estava decidido a não voltar ao seu país, porque lá ele seria obrigado a se alistar ao serviço militar e lutar na guerra. Portanto, o homem enfrentou as consequências de decidir abandonar o país. Quando seu visto de trabalho expirou, Hassan perdeu seu emprego e viveu cinco anos de forma ilegal em Abu Dhabi como sem-teto.

Em entrevista à jornalista Emily Webb, do programa de rádio Outlook, da BBC, Hassan explicou como foi parar na Malásia e como conseguiu asilo no Canadá, onde mora atualmente.

Infância

Hassan Al Kontar é natural de uma cidade chamada Al-Suweida, no sul da Síria, onde cresceu com dois irmãos e um pai “viciado em política”. Assim, ele acredita que a influência de seu pai foi significativa em sua formação.

“Ele pegava um livro e lia para mim, e começávamos a discutir política, história, cultura, qualquer coisa. Acho que ele sabia de alguma forma quando eu era criança que a vida seria dura comigo e que eu iria enfrentar algumas situações difíceis. E por isso ele me preparou desde pequeno. Ele era minha janela para o mundo”, resume.

Depois de cursar três anos de direito na Universidade de Damasco, Hassan decidiu abrir novas portas. “Sentia que minhas opções eram limitadas na Síria. Meu sonho sempre foi fazer jornalismo, escrever. Mas sabia que esse tipo de coisa não tinha futuro na Síria.”

Vale destacar que ele não queria se alistar no serviço militar, sendo que há uma lei na Síria que determina que, ao finalizar os estudos e, se não for filho único da família, é obrigado a se alistar.

Sendo assim, a única forma de escapar dessa lei é se você se encontrar em outro país. Neste caso, é necessário enviar um documento para comprovar sua estadia, além de pagar uma quantia fixa ao governo sírio.

Esperança

Então, Hassan embarcou para os Emirados Árabes Unidos em 2006, com um visto de trabalho, e conseguiu emprego em uma companhia de seguros de Abu Dhabi. Lá, ele viu o início dos protestos na Síria, em março de 2011, repreendidos com violência pelo regime de Bashar al-Assad, que eventualmente culminou na guerra civil.

“Eu ligava para minha família de hora em hora. Ligava para meus amigos na Síria. Eu sei que uma vez que o sangue começa (a ser derramado), é muito difícil parar.” O irmão que estava com ele nos Emirados Árabes decidiu voltar um mês antes da guerra começar e foi convocado para o conflito.

“Estávamos todos preocupados com meu irmão, com o que iria acontecer.”

“Tudo o que a gente podia fazer era continuar assistindo ao noticiário, continuar checando o Facebook, e às vezes ler as listas de mortos, rezando por dentro para que o nome do meu irmão não estivesse entre eles. Chegava a suar e tremer”, relembra. “Eu sabia que não tinha nascido para isso. Não quero matar ninguém. Não estou aqui para destruir. E não queria fazer parte de uma máquina de matar”, explica.

Além disso, ele decidiu não financiar o conflito, deixando de pagar a taxa de US$ 8 mil. “Eu não tinha esse dinheiro de qualquer maneira. Mas mesmo se tivesse, não financiaria esse regime.”

“A partir daquele momento, eu estava na lista de procurados. O que significa que se eu botasse o pé no aeroporto de Damasco, não seria capaz de chegar em casa. Eles iriam me deter no aeroporto e me mandariam para a linha de frente (do conflito) após algum treinamento.”

Sem-teto

Com o visto expirado e sem trabalho, Hassan se viu sem-teto. “Eu tinha uma boa carreira, estava crescendo na carreira, meus sonhos eram grandes. De 2006 a 2011, eu dava ingenuamente as coisas como certas”, diz ele. “De repente, me vi com minha mala na rua, no meio da noite, fazia 45 graus, sem lugar para ir, me escondendo da polícia e da imigração, sem visto de trabalho válido, sem passaporte válido, sem ter para onde ir…”

“Lembro que naquela noite fui a uma das torres, e havia as escadas. Naquele tipo de prédio, ninguém usa escada, porque tem os elevadores, e eu vi aquilo como um santuário. Dormi por uma hora ou duas. E foi aí que minha tragédia começou”, revela.

“Perdi a sensação de estar seguro, e essa é a coisa mais preciosa. As pessoas que estão seguras em suas casas agora não pensam nisso, dão como algo certo, e não é.”

Prisão

Em 2016, depois de mais de cinco anos nessa realidade, Hassan foi detido. “Era 1h da manhã. E eu estava estacionando em frente a um supermercado porque tinha wi-fi grátis e queria mandar mensagem para minha família. Até então era apenas mais um dia normal, quando começaram a bater na minha janela. E eu sabia que o que estava me esperando, finalmente tinha acontecido.”

“Dei a eles minhas mãos e foi a primeira vez que fui algemado. Eles me escoltaram, e eu sabia que era o começo do fim, que eu seria deportado. Eu sabia que havia uma pequena esperança, que me recusava a perder, de me deportarem para outro lugar.”

“(Mas) lembro de mim no centro de detenção de Abu Dhabi, andando o tempo todo até não sentir mais meus pés, porque não conseguia dormir, porque temia que me mandassem de volta para a Síria.”

Nesse meio tempo, Hassan descobriu que seu pai, que lutava contra o câncer, havia falecido. Por sorte, Hassan conseguiu um novo passaporte e convenceu as autoridades a deportá-lo para a Malásia. Lá, ele poderia ficar 90 dias.

“E essa foi a última vez que vi meu passaporte pelos próximos nove meses. Depois disso, meu passaporte ficou sob controle deles. As autoridades do Camboja entregaram meu passaporte às autoridades da Malásia, e fiquei sem passaporte e apátrida.” Assim, como ele tecnicamente ainda era passageiro da Air Asia, tinha acesso a três refeições por dia.

Atenção

Refugiado

Arquivo Pessoal/grupo que ajudou Hassan

Então, sem dinheiro, Hassan usou as redes sociais para fazer barulho e conseguir assistência jurídica. “Eu só quero explicar ao mundo como é ser sírio — ser solitário, fraco, indesejado, rejeitado, odiado. Ninguém está nos aceitando”, disse ele em um dos vídeos.

Sua história chamou atenção de um pequeno grupo no Canadá, que se dedicou a buscar asilo ao refugiado. Porém, Hassan foi preso pela polícia malaia e levado a um centro de detenção, recebendo a informação de que seria enviado para casa. Para o seu alívio, seu destino não seria a Síria, mas sim o Canadá.

“Não é uma história única, todos os sírios, milhões de sírios estão passando por situação semelhante, mas a forma como lidei com isso é o que me deixa orgulhoso. Representar meu povo, falar sobre eles serem capazes de desafiar o sistema, um sistema falido, foi o que me deixou orgulhoso.”

Fonte: BBC

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