Riqueza deve ter limite? Conheça o Limitarismo Econômico

Constantemente, surgem novas correntes de pensamento que tentam organizar a sociedade de modo que dê conta dos desafios do presente e do futuro. Em um desses exercícios, surgiu o Limitarismo Econômico, filosofia que defende que ninguém deve ter riqueza em excesso.

Basicamente, essa frente de pensamento recém-levantada até aceita que haja desigualdades dentro de um sociedade e que exista a propriedade privada. No entanto, ela entende que alguém com muito capital pode oferecer riscos ao bem-estar coletivo, exigindo assim um limite nessa acumulação.

Fonte: geralt

Nascimento da ideia

De início, quem trouxe essa ideia para o meio acadêmico foi a teórica belga Ingrid Robeyns, a qual trabalha no departamento de Filosofia da Universidade de Utrecht, na Holanda.

Nesse sentido, a apresentação inicial da ideia de limitar as riquezas aconteceu em um congresso em 2012. Hoje, ela trata do assunto com mais profundidade, publicando artigos e escrevendo um livro trazendo as bases dessa linha de pensamento.

Em resumo, o foco da estudiosa é debater se os ganhos de produtividade que os super-ricos trazem ao mundo realmente são tão benéficos ao coletivo a ponto de não sofrerem uma limitação em suas riquezas. Conforme explica a filósofa:

“Os super-ricos causam mudanças climáticas desproporcionalmente maiores, porque seus estilos de vida materiais são muito mais abundantes e seus investimentos, ecologicamente prejudiciais. Pode-se, portanto, argumentar que seria justo usar seu dinheiro excedente no combate à crise climática, em vez de deixá-los construir bunkers ou vilas de luxo no topo das montanhas, para se esconderem caso a mudança climática saia de controle e irrompa agitação civil”.

Fonte: Não Olhe Para Cima

Portanto, além de simplesmente restringir as riquezas excessivas, a ideia do Limitarismo Econômico é destinar os recursos em excesso para causas que afetam a qualidade de vida do mundo no geral. Entre elas estão a prevenção de mudanças climáticas e o combate à fome.

“Se você já tem 10 milhões, receber mais 100 mil euros ou dólares não acrescenta muito ao seu estilo de vida . Mas para quem não tem riqueza nenhuma, qualquer acréscimo é significativo”, explica Robeyns.

Recepção e prática

Basicamente, a ideia da teórica belga teve diferentes tipos de recepção ao redor do mundo. Na Europa, por exemplo, ela entende que há uma tendência maior de algumas políticas públicas já seguirem alguns princípios do Limitarismo.

No entanto, nos Estados Unidos, a ideia de limitar riquezas acerta em cheio o “sonho americano”, termo que expressa a crença que os estadunidenses têm de que você pode ter tudo o que quiser, basta se esforçar.

Nesse sentido, os críticos argumentam que definir um teto para riqueza não vai resolver os problemas do mundo, já que ainda permanecerá as desigualdades de poder político. Por isso, eles defendem que haja maior justiça fiscal nos sistemas tributários, fazendo quem tem mais pagar mais e quem tem menos pagar menos.

Fonte: jarmoluk

A propósito, a questão da aplicação prática da ideia é algo que a filósofa deixou em aberto. Afinal, ainda não se tem uma definição clara do que é ser “rico em excesso”. E mesmo se existisse, como se recolheria a fortuna excedente?

“Meu papel como filósofa e acadêmica é apresentar esses argumentos, mas cabe aos cidadãos e líderes dos domínios econômico, político e religioso dar os passos para tornar realidade um mundo assim”, defende Robeyns.

De acordo com a Forbes, o mundo registra 2.668 bilionários em 2022, que juntos acumulam um montante de 12,7 trilhões de dólares. Diante desse cenário, a voz do Limitarismo vê uma importância fundamental na discussão que ela já está iniciando.

“‘Ideias podem mudar a história. Algumas mudam, outras, não’. Suas ideias podem ser impopulares em alguns lugares, mas pelo menos fazem refletir sobre as desigualdades”, conclui ela.

Fonte: G1