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Seca do rio Negro revela gravuras rupestres indígenas pré-coloniais

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O mundo todo está enfrentando as consequências da mudança climática e a seca tem sido uma das maiores e com consequências visíveis nos últimos tempos. Um exemplo disso é a seca histórica do rio Negro. Contudo, por conta dela foi feita uma descoberta. Foram vistas pinturas rupestres de indígenas que viviam na Amazônia séculos antes da invasão dos colonizadores portugueses. Essa descoberta ajuda na compreensão a respeito dos povos indígenas que viviam na região de Manaus entre 1.000 e 2.000 anos atrás.

O local onde a descoberta foi feita foi o sítio arqueológico Lajes, que fica perto do encontro das águas dos rios Negro e Solimões. Os arqueólogos já conheciam o lugar, até porque, em 1968 aconteceu uma queda do nível do rio nunca antes vista, e com ela vieram as imagens desconhecidas até então.

Contudo, o sítio faz parte de um complexo arqueológico maior que se estende do lado oeste do rio Amazonas até a parte amazônica da Colômbia.

Revelação com a seca

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“Elas são uma expressão fortíssima de como esses povos viram e representaram elementos importantes de suas culturas. Esse complexo arqueológico se situa justo à frente do encontro das águas, lugar de muita potência em diversos sentidos, desde os tempos antigos até hoje em dia. Não à toa, Lajes foi o primeiro sítio arqueológico registrado em Manaus”, disse Helena Pinto Lima, doutora em arqueologia pela USP e pesquisadora do Museu Paraense Emílio Goeldi.

Ainda conforme ela, a última vez que essas pinturas estiveram visíveis foi na seca de 2010. Nessa época, ela visitou o sitio arqueológico e faz vários registros junto com a equipe do Museu Amazônico da UFAM (Universidade Federal do Amazonas) e IPHAN (Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional).

“Registramos quase 30 pontos ou concentrações contendo polidores, cúpulas e gravuras. Hoje, pelas imagens disponíveis, vejo que novas gravuras apareceram, em relação àquela época”, disse ela.

Esses registros novos irão ser analisados por Carlos Augusto da Silva, professor e pesquisador da UFAM. O plano dele é fazer as descrições em visita no sábado dessa semana.

“Essas gravuras são, na verdade, símbolos históricos antigos em que os povos utilizavam as rochas para registrar seus comportamentos sociais. Também pode refletir que é possível que os registros representem comportamento socioambiental humanizado, em que a água, a terra e a floresta eram como irmãos. Havia zelo pela vida”, pontuou Carlos.

Rochas

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De acordo com Filippo Stampanoni Bassi, diretor-adjunto científico do Museu da Amazônia, sempre que há uma seca, essas rochas que ficam inundadas na maior parte do tempo aparecem e mostram as marcas feitas pelos indígenas que viviam na região antes dos europeus chegarem.

Em Lajes especificamente, os pesquisadores dizem que o lugar fica perto de grandes aldeias do período pré-colonial que são conhecidas. E como na região foram descobertas peças de cerâmica, isso dá a entender que as pinturas foram feitas pelos mesmos povos.

“Os desenhos são relativamente parecidos com algumas decorações de cerâmica, o que pode ter relação estilística. Tratam-se de figuras cefalomórfãs (em formato de cabeça) gravadas na pedra. Podemos constatar que são gravuras em pedras mas também indicam oficinas líticas, para fabricação de ferramentas”, pontuou Filippo.

Segundo ele, não há como saber a data dessas imagens. No entanto, por elas serem parecidas com outras gravuras encontradas em Itacoatiara, local onde fatos sobre os povos são conhecidos, elas podem ser do primeiro milênio depois de Cristo.

“Por ser arte rupestre ribeirinha feita em rochas na beira do rio não possuem contexto arqueológico datável, ficam como um mistério da arqueologia. Mas elas são muito parecidas com outras conhecidas na região do rio Urubu, que foram datadas dessa época”, disse Filippo.

Indígenas da Amazônia

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Conforme afirma Marta Sara Cavallini, pesquisadora que fez sua dissertação de mestrado estudando a região do rio Urubu, esse período das gravuras foi delimitado porque antes dos dois mil anos atrás os blocos de pedra não eram visíveis. “Logo, não era possível desenhar porque o rio urubu não passava por lá”, explicou ela.

No caso da delimitação do tempo que eles viveram na região, isso foi feito por conta do material arqueológico que foi descoberto na região que serviu como moradia para esses povos.

“Nós vimos no local que havia cerâmica com desenho de uma careta. Ou seja quem morou lá ou fez, ou deve ter visto as pedras; por isso que tem essas datas. A gente conhece bastante esses povos, como moravam, as redes de comunicação que criaram. Essas gravuras são um código de comunicação antiga”, concluiu Marta.

Fonte: UOL

Imagens: UOL

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