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A cidade brasileira em que a maconha era plantada na praça principal

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Na pequena cidade de Cruzeta (Rio Grande do Norte), há 22 anos, foram encontradas várias plantações de maconha. Existiam ervas em diversos locais do município, de casa de moradores até no cemitério.

O assunto ressurge diversas vezes nas redes sociais, inclusive no YouTube, um vídeo sobre o assunto tem mais de 200 mil visualizações.

Os moradores que consumiram a maconha afirmaram à polícia, na época, que a erva era usada para fins medicinais. Eles declararam ter ficado surpresos quando descobriram que a planta se tratava de maconha.

Na época, eles temeram ser presos, pois o ato de plantar a erva, mesmo que em pouca quantidade, poderia ser considerado crime.

As plantações

Foto: Reprodução/ BBC

No começo de junho de 1996, a delegacia de polícia de Cruzeta recebeu uma denúncia anônima sobre a venda de maconha em um bar, perto da saída da cidade.

Os policiais foram até o local e encontraram um rapaz com uma pequena quantidade da droga. Eles descobriram que o jovem teria jogado uma sacola de plástico por cima de um muro, em um terreno vizinho do bar.

De acordo com relatos dos policiais, repercutidos pela BBC, na sacola foi encontrada uma planta parecida com a maconha. O suspeito foi preso e encaminhado à delegacia, onde declarou ter conseguido a erva no quintal de um idoso.

Após isso, a polícia obteve um mandado de busca e apreensão, expedido pela Justiça, que permitiu que fossem até a casa do idoso, que tinha 63 anos. No muro da casa dele, encontraram uma planta de três metros de altura. 

“Ele tinha vários tambores com a erva curtida em água, consumia diariamente e tratava aquilo como um líquido santo”, disse uma professora da cidade.

Segundo ela, o idoso tinha câncer e afirmava que a planta aliviava todas as dores e impedia que a doença avançasse.

A professora também disse à BBC que após os moradores de Cruzeta saberem dos benefícios que o idoso afirmava conseguir com a erva, pediram mudas a ele.

Após encontrar a plantação na casa do idoso, a polícia de Cruzeta cortou a erva e a levou para a delegacia.

Em depoimento, prestado em setembro de 1996, o idoso alegou que a planta estava na sua casa havia oito anos, desde que sua mulher trouxe a erva da casa de uma irmã.

Foram encontradas plantas em, pelo menos, seis casas de Cruzeta e em locais como a praça principal próxima da prefeitura, em um cemitério e em frente a uma igreja. 

O uso da maconha medicinal

Foto: Getty Images/ BBC

Nas casas em que foram encontradas a maconha, viviam pessoas com mais de 50 anos, que acreditavam nos benefícios trazidos pela erva para a saúde. Elas usavam a erva para combater dor de cabeça, problemas respiratórios, epilepsia, reumatismo, enxaqueca, entre outras dificuldades.

Os que plantavam, doavam galhos a outros que sentiam algum mal-estar. A planta era utilizada de duas maneiras: curtida em água ou álcool, ou em um chá feito com as folhas.

A professora contou à BBC que meses depois que retiraram a maconha da casa, o idoso morreu. “O pessoal dizia que o que o mantinha vivo e controlava o câncer dele era a planta”, afirma. 

Ainda de acordo com a professora, outra idosa, que também consumia o chá e tinha uma plantação em casa, teve problemas após a erva ser apreendida. “As pessoas acreditam que a saúde dela piorou depois que ficou sem consumir a bebida, que aliviava as suas dores.”

Apesar dos relatos de que a erva melhorava a saúde dos idosos, não existe nenhuma comprovação médica sobre o fato.

Apreensão

Foto: Reprodução/ BBC

A Justiça determinou que fossem cortadas e apreendidas todas as plantações de maconha da cidade. 

Depois de ser apreendido e permanecer em observação por dias, o material foi incinerado em fornos das indústrias cerâmicas da cidade.

Parte dos itens, em vez da incineração, foi encaminhada ao Instituto Técnico-Científico de Perícia do Rio Grande do Norte (ITEP-RN), para análise. O laudo identificou a erva como liamba. 

“É uma planta Cannabis sativa, uma das formas como é popularmente conhecida a maconha”, explicou à BBC Renato Filev, pesquisador do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

De acordo com Filev, a liamba tem função terapêutica, assim como relatado pelos moradores de Cruzeta. 

Plantar maconha é crime

Foto: Unsplash/ @crystalweed

No Brasil, plantar maconha é crime. De acordo com a Lei das Drogas, de 2006, a pessoa que tiver uma plantação considerada pequena poderá sofrer penalidades similares às aplicadas aos usuários. Nesse caso, podem ser determinadas punições como advertência, prestação de serviços à comunidade e multa.

Já em relação às grandes plantações, a situação é comparada ao tráfico e a pessoa pode ser condenada à reclusão de cinco a 15 anos, além da aplicação de multa.

No caso de Cruzeta, a legislação em vigor em 1976 determinava que usuários e pessoas que tinham pequenas plantações de maconha poderiam ser punidas com reclusão de seis meses a dois anos. Inclusive, a prisão era o maior medo dos moradores da cidade.

Depois de concluir as investigações sobre o caso, o delegado entendeu que não havia indícios de que os moradores da cidade usassem a maconha como entorpecente.

“Eles cultivavam a referida para curar doenças e para cicatrizar cortes”, concluiu o inquérito, conforme matéria da BBC. O caso foi arquivado sem que ninguém fosse indiciado.

Após o caso ser encerrado, a cidade recebeu ações de conscientização sobre as plantas. De acordo com a Polícia Civil da região, após isso, não houve mais nenhum registro de plantação da erva em Cruzeta.

Fonte: BBC

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