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A história de um vírus misterioso e mortal

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O Jardim Sabiá está localizado em Cotia, cidade que faz divisa com a zona oeste de São Paulo. O local é um bairro urbano residencial ao longo da Rodovia Raposo Tavares, podendo ver conjunto de casas espalhadas e trechos de vegetação nativa que sobreviveu à urbanização. No entanto, o que quase ninguém sabe é que pesquisadores encontraram um dos vírus mais letais conhecidos nesse bairro.

Era 1990, quando uma jovem engenheira agrônoma, de 25 anos, moradora do bairro Jardim Sabiá, começou a sentir dores musculares, fraqueza, dor de cabeça e náuseas. Então, alguns dias depois, ela procurou atendimento médico e foi internada com hemorragia generalizada. Quatro dias depois, a equipe médica decretou sua morte.

O que causou os sintomas tão genéricos de uma gripe que indicaram o início de uma morte terrível? Ebola, dengue, febre amarela, hantavírus e demais enfermidades também levam a sangramentos generalizados que podem vir a ser letais se não forem tratados a tempo.

Porém, as amostras colhidas naquela paciente do Jardim Sabiá foram analisadas em laboratórios do Brasil e dos Estados Unidos e não apresentaram nenhum desses vírus. Logo, um mistério se instaurou. Depois, cientistas encontraram um tipo de vírus comum em roedores silvestres, chamado de arenavírus.

Esse era um grupo de vírus já famoso por causar hemorragias na América do Sul. Nesse grupo, estava o vírus Junin da Febre Hemorrágica Argentina, o vírus Machupo da Febre Hemorrágica Boliviana e o vírus de Guanarito da Febre Hemorrágica Venezuelana.

Virologistas já tinham esses vírus em seus radares havia alguns anos, mas o arenavírus de Cotia era uma espécie viral jamais vista. Sendo assim, por conta do local onde ela foi descoberta, a espécie recebeu o nome de vírus Sabiá. Com isso, ela passou a ser conhecida como Febre Hemorrágica Brasileira.

Vírus

Se olharmos o vírus por um microscópio eletrônico, ele não é muito diferente do coronavírus. É possível ver um círculo externo, que é o envelope viral, cravejado com pequenos alfinetes proteicos. Mas, se aplicar um olhar mais detalhado, é quando começa a aparecer as diferenças.

O genoma do vírus Sabiá é uma molécula de RNA com aproximadamente um terço do tamanho do genoma do vírus da Covid-19. Além disso, enquanto o RNA do coronavírus está montado numa longa e única fita, o do Sabiá se divida em suas fitas, como se fossem dois cromossomos virais.

Vincent J. Musi, Nat Geo image collection

Dessa forma, o vírus Sabiá é transmitido quando inalamos urina ou fezes de roedores, que são seus hospedeiros naturais. Basicamente, isso é possível ao entrar num galpão onde esses animais tenham deixado suas excreções, e então você respira o ar contaminado, por exemplo.

Essa ação é o suficiente para se contaminar. A transmissão pode ocorrer tanto em ambientes selvagens ou rurais quanto em áreas urbanas. Então, uma vez instalado no organismo, o vírus destrói as plaquetas, que são as células do sangue necessárias para a coagulação. Portanto, causa a hemorragia generalizada.

Segundo caso

Um segundo caso fatal da infecção pelo vírus Sabiá aconteceu em 1999, em Espírito Santo do Pinhal, no interior de São Paulo, em um trabalhador rural. Depois, o sabiá reapareceu em 2019, com mais dois casos fatais no mesmo estado. Com tanto tempo entre os casos, parece que o vírus ficou dormente ou então que ninguém estava tendo tanto contato com roedores. Porém, pode ser que o vírus estava sendo subnotificado até então, confundido com outras doenças.

Independente do motivo pelo qual o vírus não foi registrado nessa últimas décadas, sabemos que ele ainda existe e está por aí. Vale destacar que não existe uma vacina e nem tratamento específico para tal enfermidade. Então, por ora, temos apenas um olhar atento.

Fonte: Veja

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