A teoria de que os seres humanos têm cinco apetites

Os biólogos e nutricionistas australianos David Raubenheimer e Stephen J. Simpson afirmam que os seres humanos têm cinco apetites e que eles operam juntos.

No Eat Like the Animals (Coma como os animais, em tradução livre), os especialistas explicam que faz parte do instinto dos seres humanos ter uma alimentação equilibrada. Isso teria sido desenvolvido ao longo de séculos de evolução.

A pesquisa da dupla é o resultado de mais de 30 anos estudando os padrões de como os apetites são estimulados e regulados.

Em entrevista à BBC News Mundo, eles afirmaram que os seres humanos têm sistemas de apetite capazes de nos fazer ter uma dieta equilibrada. Mas isso só é possível quando somos expostos aos tipos de alimentos com os quais esses sistemas evoluíram.

A noção predominante sobre o apetite

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De acordo com David Raubenheimer e Stephen J. Simpson, apesar de muitas pessoas pensarem que o apetite é apenas o impulso que faz comer, para eles, como biólogos, isso é improvável.

Os especialistas apontaram que alguns estudos, especialmente aqueles realizados em ratos, sugeriram que os animais têm apetite não apenas por alimentos, mas por nutrientes específicos, como cálcio e sódio.

Após isso, eles começaram a investigar e descobriram que se os animais tiverem apetites por nutrientes específicos, o mais importante seriam os nutrientes necessários em quantidades maiores nas dietas. Esses macronutrientes são: proteínas, carboidratos e gorduras.

“Também percebemos que, se existem apetites separados, o mais importante é aprender como eles interagem. Eles teriam que operar não isoladamente, mas como uma equipe esportiva que coordena seus esforços para vencer a competição evolutiva”, contou a dupla por e-mail.

Por isso, os biólogos começaram a fazer experimentos com gafanhotos. De acordo com eles, essa foi a primeira vez que foi demonstrada a existência de apetites separados para diferentes macronutrientes em um inseto e a primeira vez que estudaram a maneira como os apetites trabalham para o bem do animal.

Os experimentos com gafanhotos

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Os biólogos informaram que durante o experimento deram a cada gafanhoto dois alimentos: um rico em proteínas em relação aos carboidratos e um rico em carboidratos em relação às proteínas.

De acordo com os pesquisadores, todos os gafanhotos comeram a mesma proporção correta de alimentos. Em um estudo posterior, eles notaram que o equilíbrio entre o carboidrato e proteína é o que permite aos insetos o melhor crescimento e sobrevivência.

Os especialistas afirmam que o experimento mostrou que os gafanhotos têm como alvo a ingestão específica de proteínas e carboidratos que é melhor para eles: a “meta de ingestão”. 

Além disso foi notado que os gafanhotos que tinham dietas ricas em proteínas ingeriram pouco carboidrato em comparação aos que tinham pouca proteína na dieta.

Com isso, os especialistas entenderam que os gafanhotos têm apetites separados por proteínas e carboidratos e que, quando podem escolher entre os alimentos, os dois apetites trabalham juntos para equilibrar a dieta.

O projeto com os seres humanos e os cinco apetites

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Raubenheimer e Simpson projetaram um estudo similar em seres humanos. Quando as pessoas escolhiam o que queriam em um menu de alimentos em que variava o equilíbrio de proteínas, carboidratos e gorduras, eles selecionaram uma dieta próxima da recomendada para os seres humanos (15% de energia proteica).

No entanto, quando a dieta começou a incluir alimentos com um teor de proteína menor ou maior que esse valor foi possível notar uma mudança. Nas dietas com muita proteínas, ingeriam pouca gordura e carboidratos. Já em dietas de baixa proteína, ingeriam grandes quantidades de gorduras e carboidratos.

Nos estudos com seres humanos, os pesquisadores consideraram apenas o apetite por macronutrientes (proteínas, gorduras e carboidratos). Porém, eles destacaram que outras pesquisas sugerem que nossa espécie também tem apetite por sal e cálcio.

As explicações evolutivas para esses apetites específicos desenvolvidos em humanos

Para os especialistas, “apetites por proteínas, gorduras e carboidratos são a maneira de nosso corpo nos dizer quanto de cada um desses nutrientes é necessário a qualquer momento para desempenhar essas funções”.

O mesmo se aplica ao cálcio e ao sódio. O cálcio é necessário para construir e manter os ossos, e, assim como o sódio, fornece eletricidade para o funcionamento do sistema nervoso.

Os pesquisadores apontam que ao regular a ingestão dos cinco macronutrientes, obtemos todos os outros nutrientes e fibras de que precisamos através de correlações em alimentos naturais.

A abordagem dos cinco apetites e a resolução de problemas nutricionais 

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Os pesquisadores afirmam que os seres humanos têm sistemas de apetite capazes de nos dizer como ter uma dieta equilibrada. No entanto, só conseguimos fazer isso quando somos expostos a alimentos que são caçados, coletados e cultivados em fazendas.

Porém, nos últimos 50 anos substituímos os produtos naturais por ultra processados e nosso apetite não sabe lidar com esses alimentos.

Para os biólogos, esses alimentos são criados para induzir a biologia a comer em excesso e com isso beneficiar a indústria de alimentos processados.

Eles afirmam que a solução é nos cercamos de alimentos adequados, em nossas casas e nos restaurantes onde comemos. Isso porque se seguirmos as instruções de nossos apetites conseguiremos uma dieta equilibrada, saudável e agradável que satisfaça todas as necessidades do corpo.

Fonte: BBC