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Após 16 anos, gêmeas descobriram que foram separadas para estudo polêmico

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Não é sempre que irmãs são adotadas juntas. No entanto, nos anos 1960, uma agência de adoção de Nova York, nos Estados Unidos, separou gêmeas idênticas deliberadamente. Eles fizeram isso como parte de um estudo cheio de controvérsias.

O mais impressionante é que somente quando Kathy Seckler tinha 16 anos ela fez uma descoberta que mudou completamente sua vida. Ela descobriu que tinha uma irmã gêmea.

O dia em que isso aconteceu foi quatro de setembro de 1977. Nessa data, um amigo disse a Kathy que ela se parecia com uma garota que ele conhecia, chamada Lori Pritzl, e perguntou se ela era adotada.

A outra menina era Pritzl. Ela e Kathy faziam aniversário no mesmo dia e as duas tinham a mesma aparência. Desde sempre Kathy soube que era adotada e foi criada com muito amor e alegria, mas soube somente depois que Pritzl também vinha da mesma agência de adoção.

Encontro das gêmeas

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Quando souberam disso, as meninas conversaram imediatamente por telefone e perceberam que as suspeitas do amigo deviam ser verdadeiras e que elas poderiam ser gêmeas. No momento em que Kathy encontrou Pritzl, ela se desmanchou em lágrimas.

“Eu vi Lori atravessando a rua com um grande sorriso no rosto. Depois nos abraçamos. Foi uma experiência profunda. Eu me senti menos sozinha. Eu sempre me senti diferente por ser uma criança adotada. Eu percebi que ‘uau, tenho uma companheira ali'”, disse Kathy.

As duas gêmeas eram fumantes, tinham interesses artísticos parecidos, como por exemplo, a dança e o desenho, e gostavam de música.

“Foi surreal. Eu me sentia como se estivesse me olhando no espelho”, disse Pritzl.

O encontro das gêmeas poderia ter acontecido antes, já que conhecidos em comum das duas já tinham falado sobre a semelhança delas. No entanto, Pritzl não se importou muito na época. Até porque, as pessoas sempre ouvem que se parecem com alguma outra pessoa.

As irmãs moravam a aproximadamente 24 quilômetros de distância uma da outra e tinham amigos em comum nas famílias. Os pais delas não se conheciam, mas sabiam da outra gêmea há aproximadamente uma década. Contudo, eles foram instruídos a manter segredo.

Estudo

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Nos anos 1960, uma agência de adoção respeitada na época, chamada Louise Wise Services, em Nova York, nos Estados Unidos, separou propositalmente, pelo menos, 10 irmãos gêmeos ou trigêmeos.

No caso de Kathy e Pritzl, elas estavam entre seis grupos de gêmeos idênticos recém-nascidos que foram separados entre 1960 e 1969. Isso aconteceu porque a agência tinha se associado a um grupo de psiquiatras e psicólogos para tentar descobrir o que nos torna quem nós somos. O objetivo deles era saber quanto da identidade das pessoas é definido pela natureza e quanto é pela criação.

“Todos os adotados através da Louise Wise nos anos 1960 têm o direito de pensar que talvez eles tenham um irmão gêmeo”, segundo a geneticista Nancy Segal, especialista em gêmeos e autora do livro “Deliberately Divided”, “Divididos deliberadamente”, em tradução livre.

“Na verdade, eles nos impediram de ser irmãs, que dirá gêmeas. E acho que o que eles fizeram foi simplesmente horrível. Já foi um desafio saber que era adotada, mas privar-me de ter uma irmã gêmea foi simplesmente terrível”, disse Kathy.

Por anos, Segal procurou as pessoas que foram originalmente envolvidas no chamado “Estudo dos Gêmeos do Centro de Desenvolvimento Infantil de Nova York” e qualquer outra pessoa relacionada ao estudo que ela pudesse encontrar.

Em 1980 foi quando essa história veio a público pela primeira vez. Isso aconteceu quando três jovens descobriram, por acaso, com 19 anos, que eram trigêmeos idênticos.

Claro que essa notícia foi manchete no mundo todo. Depois disso se tornou claro que existiam outros gêmeos que também tinham sido separados, fossem eles idênticos ou apenas fraternos.

Objetivo da separação de gêmeos

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Para os pesquisadores, os gêmeos dão uma visão única a respeito da conexão complexa entre a genética e os ambientes em que as pessoas vivem. No caso dos gêmeos idênticos que cresceram separados, eles compartilham somente os genes, não o ambiente. Por conta disso, os pontos em comum descobertos podem ser atribuídos em grande parte aos seus genes.

Nos últimos anos, essa relação entre natureza e criação se mostrou bem mais complicada. Até porque, já foi comprovado que características como a inteligência, a altura e o peso, são bastante influenciadas pela genética. Essa descoberta foi consequência de anos de dados coletados dos estudos de gêmeos criados separados.

“O que estamos descobrindo é que muitos outros comportamentos que sequer imaginávamos realmente têm um componente genético. A genética não é tudo, mas ela explica muito sobre as razões das diferenças entre as pessoas”, explicou Segal.

Contudo, em termos científicos, o estudo foi fundamentalmente inválido. Fazendo uma análise do que aconteceu, Lawrence Perlman, um dos poucos pesquisadores disponíveis, disse que os dados conseguidos a respeito das crianças eram uma bagunça e que o estudo não foi bem organizado.

“Eles realmente não pareciam compreender a forma adequada de lidar com aquilo do ponto de vista científico. Eles foram ameaçados com ações na justiça e nada foi publicado”, contou.

Consequências

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Esse estudo ainda deixa questões não respondidas para as família. O experimento feito com seus filhos é uma sombra permanente. Além disso, nenhuma pessoa viva foi responsabilizada por isso.

Entretanto, um legado que esse experimento deixou, mesmo que inesperadamente, foi o exemplo de como não fazer ciência e como as considerações sobre a ética são importantes em todos os estágios.

Fonte: BBC

Imagens: BBC

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