Argelino se recusa a lutar contra judoca de Israel, que responde: ‘Quem sabe um dia eu possa apertar sua mão’

Essa não é a primeira vez que a política cruza a trajetória olímpica do judoca de Israel Tohar Butbul, que disputa com 73kg. No entanto, essa manifestação chamou atenção da mídia nas Olimpíadas de Paris.

Em sua primeira partida, na última segunda-feira, ele subiu ao tatame da Arena Champ de Mars, cumprimentou os jurados e recebeu a declaração de vencedor por ippon, avançando para as oitavas de final do exame da competição.

Dris Messaoud Redouane, da Argélia, que disse gostar de rezar e ler o Alcorão antes de competir, desistiu na pesagem e não participou. Na véspera da pesagem pesava 73,4 kg, ultrapassando o limite permitido para esta categoria de peso (-73 kg).

No entanto, o verdadeiro motivo é político. Acredita-se que ele se recusou a lutar contra o judoca de Israel devido a diferenças políticas entre os dois países.

Redouane poderá enfrentar sanções da Federação Internacional de Judô se houver evidências de que ele se retirou deliberadamente por razões políticas.

Via Instagram

Manifestação

Tohar, o judoca de Israel, deu sua manifestação sobre o caso. Ele disse respeitar seu oponente, por ser um atleta de elite e chegar até as disputas finais pela medalha. Além disso, reforçou que não o odiava, quaisquer que fossem os motivos.

Na verdade, só quer lutar para representar seu país, mas não foi isso que aconteceu. Tohar também comentou que a política acaba atrapalhando os esportes às vezes.

Seu oponente podia querer lutar, mas o governo ‘não deixou’, ele afirma. Também acredita que os atletas argelinos e muitos atletas muçulmanos não podem competir com os israelitas. Ele pensa serem vítimas e não mantém sentimentos negativos por nenhum.

O judoca de Israel afirmou que deseja a paz algum dia, poder apertar a mão do argelino e lutar, seja em Israel ou na Argélia. Em sua opinião, as Olimpíadas são uma boa oportunidade para transmitir esta mensagem de paz.

Na próxima rodada, Israel enfrenta Hidayat Heydarov, do Azerbaijão, atual campeão mundial e número um do mundo, e foi eliminado das Olimpíadas Paris-2024.

Já aconteceu antes

Tohar enfrentou um boicote semelhante em Tóquio 2020, há três anos. Fethi Nourine, também da Argélia, desistiu da competição contra o judoca de Israel.

Por conta desse episódio, o técnico do Nourine, Amar Benikhlef, teve que receber uma penalidade pesada: suspensão de 10 anos.

Ele comentou que acontece muito e não apenas com ele, mas com outras equipes e atletas. Por exemplo, em Copas do Mundo e outros campeonatos, também acontece, especialmente com os argelinos.

Mas Tohar afirma ser um atleta e que está ali para lutar. Ele batalhou para chegar nas Olimpíadas e sente pena porque seus oponentes também se esforçaram, mas seu governo o força a não batalhar. É nessa situação que ele acredita e sua mensagem é delicada sobre o tema.

Organização e comitê se posicionam

Via Instagram

O Comitê Organizador Olímpico foi informado em comunicado que Redouane Messaoud Dris não se classificou. Em nota oficial, informou apenas que Dris, inscrito na categoria masculina até 73 kg, falhou na categoria de peso e foi cancelado como participante.

Enquanto isso, o Comitê Olímpico Israelense afirmou que sua “equipe continuará a competir com os valores olímpicos”. Eles acreditam que esse “tipo de comportamento não tem lugar no mundo dos esportes”.

O técnico do Tohar, Guy Fogel, também acredita que a decisão pode não ter sido do atleta ou do técnico.

Assim como o judoca de Israel, ele acredita que a decisão pode vir de cima, mas não se importa. A questão é que o oponente não quis lutar, não seguiu as regras e perdeu. Para eles foi uma vitória, apenas de preferir a luta.

Mesmo assim, opina que “não se pode gostar de todo mundo”, mas é um jogo. Eles não chegaram a se comunicar com a equipe de treinadores argelinos.

Em sua opinião, não existe nada que possam fazer e ele não se sente nem feliz, nem triste. Por acontecer muito com seus atletas, acaba ficando neutro e acreditando no melhor da situação.

Também diz não ser cego para a situação em Israel e nenhum dos lados gosta disso. Mas no esporte, os atletas devem disputar e apenas isso, não serem amigos.

Um dos casos mais famosos de boicote olímpico ocorreu nos Jogos Olímpicos de Atenas em 2004, quando Arash Miresmaeili, então campeão mundial de judô, errou deliberadamente o peso para evitar uma partida com o judoca de Israel Udi Wax.

Miresmaeili admitiu abertamente que o fez por razões políticas, dizendo que, apesar de treinar muito nos meses anteriores e estar em forma, se recusou a lutar com o atleta por se solidarizar com o sofrimento do povo palestino.

Enquanto isso, as autoridades iranianas elogiaram Miresmaeili e ele recebeu um “bônus” em dinheiro.

 

Fonte: Globo

Imagens: Instagram, Instagram

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