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Cântico em jogos universitários de estudantes de medicina causa revolta, expulsão de torcida e multa

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A última semana foi marcada por uma notícia que causou revolta ao redor do Brasil. Na segunda-feira (10), repercutiu um canto de estudantes de medicina que ressalta preconceito e soberba, fazendo com que pessoas pressionassem autoridades cobrando por justiça.

Um vídeo em que estudantes de medicina da Unig de Itaperuna provocam os adversários de jogos universitários cantando “Sou playboy, não tenho culpa se seu pai é motoboy” viralizou e causou uma onda de críticas.

Assim, o ato em si ocorreu no final de semana, durante a realização dos Jogos Universitários de Medicina (Intermed) RJ-ES, em Vassouras, no interior do Rio de Janeiro. No entanto, já gerou sanções aos estudantes de medicina.

Isso porque, na terça-feira (11), o prefeito de Vassouras se reuniu com a organização dos jogos universitários e decidiu expulsar os alunos da Unig Itaperuna da cidade. “Pedimos para eles se reunirem hoje mesmo e saírem da cidade. Acredito que o esporte une pessoas, raças, credos e classes. Mas tudo que ouvimos foi o contrário disto”, disse Severino Dias em entrevista ao g1.

Além disso, ele pretende estipular multa para a delegação da Unig Itaperuna. Logo, o valor deve ser de uma moto zero, que será comprada e sorteada entre os motoboys de Vassouras. “Punimos também financeiramente e vamos reverter o recurso da multa para sortear uma moto entre os motoboys. Vamos definir a data do sorteio ainda, mas acredito que a maior punição é a proibição da torcida de participar dos eventos futuros”, disse o prefeito.

Unig estuda punição

Também na última terça-feira (11), a Universidade de nova Iguaçu, que tem campus tanto em Nova Iguaçu quando em Itaperuna, divulgou nota lamentando o fato. “A UNIG não tem ingerência sobre frases ditas por seus alunos, principalmente em ambiente externo, mas que, diante dos fatos e das disposições de seu código de ética e conduta, adotará providências possíveis para que episódios similares não se repitam”, informou.

Assim, representantes da universidades afirmaram que tomaram conhecimento do fato na tarde de segunda-feira (10) e que ainda estão apurando o ocorrido e identificando os participantes do vídeos para realizar as medidas cabíveis. A universidade lamentou novamente e ressaltou que a situação em nada se assemelha com os valores da instituição de ensino.

Filho de motoboy se manifesta

Lázaro Santos Farias filho de motoboy

Arquivo pessoal

O “grito de guerra” dos estudantes de medicina da Unig causaram revolta, inclusive, em Lázaro Santos Farias, de 25 anos, filho de um homem que trabalhou fazendo entregas de motocicleta e estudante de medicina.

Ele ficou ofendido com os versos cantados pelos participantes do evento. Desse modo, Farias cresceu em Nilópolis, no interior de Sergipe, já com o sonho de ser médico. Filho de um motoboy e uma empregada doméstica, quando tomou conhecimento do processo para entrar na universidade, chegou a pensar que deveria tentar outro caminho, já que este seria “muito difícil de visualizar”.

Apesar disso, ele persistiu e se preparou para o vestibular com cursos online. Depois, Farias conseguiu uma bolsa no Projeto Gauss, que dá aulas para jovens com poucas oportunidades e os prepara para ingressar na universidade. Com esse esforço, ele conseguiu passar para três faculdades de medicina no Brasil em 2018.

“Eu sempre sonhei em (cursar) Medicina, desde criança. Mas aquilo não parecia que era para mim, era como se eu tivesse que escolher um sonho que fosse mais fácil. Historicamente, sabemos que o curso de medicina é elitizado”, disse Farias.

O diretor de ensino do Projeto Gaaus, em que Farias estudou, o engenheiro civil Juvenal Junior, também foi o primeiro da família a concluir um curso superior. “Eu falava que Medicina era hereditário. Apenas os filhos dos médicos é que faziam medicina. Agora, vejo pessoas de famílias humildes nesses cursos. Filhos de motoboys, garçons, empregadas domésticas. A educação muda vidas, liberta e faz a pessoa pobre sair dessa condição, e isso incomoda muita gente.”

Lázaro conta que seu pai começou a trabalhar como motoboy para sustentar a família e que isso é motivo de orgulho. “Meu pai começou a trabalhar como motoboy, mas, antes, ele era operário. Só que chegou uma fase em que começaram a aceitar apenas pessoas com ensino médio completo, e ele não tinha. (Apesar disso), meu pai sempre fez de tudo para eu entrar na faculdade e me manter. Hoje, estou no segundo ano (do curso), mas as dificuldades não terminam no vestibular.”

“O curso (de Medicina) acaba sendo elitizado e exige muito do nosso financeiro, com gastos em transporte e alimentação, além dos materiais. Na pandemia, foi difícil, porque eu já estava com um notebook ‘baqueado’ para poder estudar, algo que deveria ser básico para todo mundo.”

Para ele, esses “gritos de guerra” disfarçam o “elitismo e a insatisfação por pessoas pobres ocuparem lugares que, historicamente, não seriam para elas”. Além disso, o jovem cita a desumanização no curso de Medicina. “Será que eles estariam aptos a atender esses motoboys futuramente, quando forem médicos? Como você vai se formar em uma área tão importante como medicina sem ter o mínimo de respeito pelas pessoas?”, questionou.

Fonte: G1

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