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Cadeirantes brasileiras relatam falta de acessibilidade e preconceito em voos

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Na última semana, a imagem de uma passageira tetraplégica chamada Victoria Brignell, que ficou sozinha em um avião por 1h30, viralizou. Isso porque ela estava à espera de uma equipe para se retirar, no aeroporto de Gatwick, em Londres, fato que expõe a falta de acessibilidade.

Representantes do aeroporto pediram desculpas pelo ocorrido e descreveram o tratamento como “inaceitável”. No entanto, o que aconteceu com Victoria não é tão incomum para pessoas com deficiência, segundo a empresária Andrea Schwarz. Natural de São Paulo, ela é referência em palestras sobre inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho.

Assim sendo, cadeirante há 22 anos, Andrea já viajou para 40 países e, na maior parte das vezes, passou pela falta de acessibilidade. Em um voo para o exterior, ela chegou a ficar sozinha no avião por mais de uma hora, assim como Victoria Brignell, aguardando ser retirada.

“Meu marido estava comigo e a cadeira estava no porão. Quando o avião pousasse, ele teria que ir até a porta da aeronave para montar a cadeira e me tirar”, conta.

“Então, assim que o avião pousou, ele já saiu. Quando voltou para me buscar, não deixaram ele entrar alegando que era uma ordem de segurança. Ficou, então, ele explicando que precisava me pegar e eu sozinha, esperando. Foi uma hora e meia até que trouxeram uma cadeira e me tiraram. Ou seja, a gente sempre é esquecida.”

Falta de acessibilidade em voos

Além desses relatos, Andrea lembra de outra experiência ruim. Na ocasião, ela viajava de São Paulo para Brasília para fazer palestra.

“Havia muitas pessoas com necessidades e ele não sabiam como agir”, recorda. “Não tinha o ambulift [espécie de caminhão com um container que sobe e desce para levar a pessoa até a porta lateral da aeronave]. Então, houve demora para todos entrarem.”

“Quando chegamos, o comandante não me fala que queria se desculpar pelo atraso porque tinha muitos passageiros com necessidades especiais no voo e por isso atrasou? A culpa ficou para a gente…”, lamenta Andrea.

“Um amigo meu, tetraplégico, chamou esse comandante e pediu para ele nunca repetir isso, que é algo que reforça o preconceito”, reforça.

“Quem tem que mudar é o meio. O meio que é deficiente por não nos dar o direito de ir e vir.”

Relatos de cadeirante

Cadeirante sofre falta de acessibilidade

Arquivo pessoal

A estudante de direito, Karla Caroline Barbosa, de 34 anos, moradora de Recife, também possui relatos parecidos. Ela conta que ficou dentro do avião esperando alguém para retirá-la, expondo mais um caso de falta de acessibilidade.

“Em março, eu estava vindo de Maceió para Recife quando fiquei mais de 30 minutos no avião esperando a cadeira. Aí eles perguntaram se eu me incomodava de sair carregada. Disse que não porque eu precisava sair do avião. Acontece muito”, relata.

Assim, Andrea ressalta que sua principal preocupação quando viaja de avião é com a acessibilidade. “[A cadeira] não é um objeto e, sim, meu meio de locomoção. E já aconteceu mil vezes de vir quebrada, de ter o pneu estourado… E, quando ocorre, a companhia aérea quer emprestar a deles, mas não adianta para nada porque minha cadeira é feita para meu corpo”, justifica. “Ela é personalizada e demora 120 dias para chegar uma nova. Então, você inviabiliza a viagem.”

Humilhação

Katya Hemelrijk da Silva passou por uma situação chocante, se arrastando pelas escadas para poder embarcar após um voo entre Foz do Iguaçu (PR) e São Paulo, onde mora. O caso, que aconteceu em dezembro de 2014, chegou a chamar atenção de internautas nas redes sociais.

“Na hora de embarcar, a mulher falou que o gerente queria conversar comigo. Ele me deu três alternativas: ou eles me subiam no braço, ou me levavam na própria cadeira, com dois me carregando, ou eu teria que esperar o próximo voo, que daria tempo de carregar o aparelho [que funciona como elevador portátil]”, conta. Ela rejeitou as três opções, isso porque considerou a sua segurança.

“Se fosse para alguém me carregar, seria meu marido, mas mesmo assim não é a solução ideal. A escada estava escorregadia com o sereno. E como eu tenho esse problema dos ‘ossos de vidro’, qualquer forma que me peguem, uma forma mais bruta, acaba me machucando”, explicou na época. “Em 2008, tive que me arrastar na viagem de lua de mel para Maceió. Pensa na situação?”.

“O fato de ser carregada é bem desconfortável e, para acelerar o processo e não deixar pessoas esperando, a gente se sujeita às situações desconfortáveis e temos refletido sobre isso. Estamos longe do mundo ideal na aviação, no transporte como um todo. Precisamos mudar esse cenário”, diz.

Fonte: G1

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