História

Carta de Pero Vaz de Caminha: o primeiro documento redigido no Brasil

0

Hoje em dia, existe documento para tudo. Contratos de vendas, certidões de casamento e testamentos de herança são alguns exemplos disso. Afinal, a finalidade destes textos escritos é registrar algo. Sendo assim, podemos nos perguntar qual foi o primeiro documento redigido no Brasil. A resposta dessa questão vem de navio: a carta de Pero Vaz de Caminha.

Em síntese, o relato do escritor se tornou um marco na literatura brasileira. Com rigorosos detalhes, o viajante descreve as impressões iniciais dos portugueses acerca das terras brasileiras. Dessa forma, a história tem em mãos os episódios do encontro entre índios e lusos.

Fonte: Oscar Pereira da Silva

Finalidade da carta?

De início, vale lembrar que Pero Vaz não escreveu a famosa carta apenas porque gostava de palavrear. Afinal, ela tinha a finalidade de prestar informações sobre as terras que os portugueses alcançaram por meio das grandes navegações.

Sendo assim, a tripulação contava com alguém que se encarregava de relatar cada detalhe das expedições. No caso da viagem ao Brasil, Pero Vaz de Caminha foi o escolhido para manter a Coroa Portuguesa muito bem informada. Inclusive, os primeiros parágrafos de sua carta se dedicam exclusivamente a cumprimentar Dom Manoel I, rei lusitano da época.

Em outras palavras, o escritor buscou colocar o monarca dentro daquele momento na praia de Porto Seguro, em 22 de abril de 1500. Além disso, a carta tinha a finalidade de contemplar as impressões portuguesas também depois do encontro. Por isso, o relato foi redigido dentro de 7 dias: de 26 de abril a 1° de maio.

Uma vez que a carta estava pronta, ela embarcou junto com o navegante Gaspar Lemos. Assim, o relato rumou à Europa levando notícias sobre o “Novo Mundo”. Infelizmente, não havia nenhuma câmera ligada gravando o “react” do Rei Manoel ao conteúdo…

Das bagagens para a História

Ao atracar em Portugal, a carta de Pero Vaz passou para os cuidados da Coroa Portuguesa. Esta, por sua vez, não teve tanto zelo assim. Como consequência, o documento ficou desaparecido por séculos e só foi encontrado em 1808.

A propósito, a localização do relato por Aires de Casal se deu após a Família Real migrar para o Brasil. Posterior ao encontro, o localizador transcreveu o documento manuscrito e o publicou. Daí em diante, diversas pessoas puderam ter acesso aos episódios do desembarque dos portugueses em terras desconhecidas.

Fonte: Flávia Santos Leilões

Detalhes da carta

A princípio, o documento não é muito extenso. Ele consiste em sete folhas, cada uma delas contendo quatro páginas. No entanto, isso não inibe o grande detalhamento que Pero Vaz de Caminha traça em sua escrita.

Dessa forma, o redator se deixa influenciar pelos modelos literários que tomavam conta de Portugal na época. Por isso, ele busca organizar os acontecimentos com muita precisão cronológica, sempre prezando pela riqueza de detalhes naturais. Logo, ao produzir o escrito, o viajante instala a primeira obra literária em solo brasileiro.

Além disso, a escola literária que lhe abraça tem nome: o Quinhentismo. Tal movimento trazia em si os relatos das grandes navegações implementadas pela Europa mundo a fora. Em síntese, as escritas eram eloquentes e contaminadas pela sensação de superioridade cultural que alimentava as mentes europeias.

Na carta de Pero Vaz, esse sentimento fica nítido. Em um certo trecho da carta, ele delibera com desprezo sobre a nudez das mulheres indígenas. “E suas vergonhas tão nuas, e com tanta inocência assim descobertas, que não havia nisso desvergonha nenhuma”.

Por outro lado, o relato contempla os dois lados do choque cultural. Enquanto os portugueses entregavam itens aos índios, é possível assistir às reações dos nativos através das palavras do escritor. “Trouxeram-lhes vinho em uma taça; mal lhe puseram a boca; não gostaram dele nada, nem quiseram mais.”

Atualmente, quem quiser dar uma conferida no documento precisa atravessar o Oceano Atlântico. Isso porque a carta está trancada a sete chaves em um cofre na Torre do Tombo em Lisboa. No entanto, em ocasiões especiais, ela costuma vir à apreciação do público.

Fonte: Recreio, Toda Matéria.

Veja a evolução do deepfake, o futuro da criação de conteúdo

Artigo anterior

O guitarrista que salvou centenas de vidas em um cruzeiro

Próximo artigo

Comentários

Comentários não permitido