Como a mudança climática está afetando os ornamentos dos animais

Atualmente, diversos pássaros estão perdendo as suas cores. Alguns pesquisadores apontam que essa mudança nos ornamentos dos animais ocorre por causa das mudanças climáticas.

Em 1871, o naturalista britânico Charles Darwin escreveu em seu livro “A Origem do Homem e a Seleção Sexual” que a função das características vistosas (ornamentos), como as chamativas caudas dos pavões, não é aumentar a sobrevivência de seus donos, mas sim seu sucesso reprodutivo.

Ou seja, as diversas cores são explicadas pela teoria da seleção sexual, e não pela seleção natural.

A função dos ornamentos

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David López Idiáquez, pesquisador de pós-doutorado em ecologia evolutiva na Universidade do País Basco (Euskal Herriko Unibertsitatea), na Espanha, explica que os ornamentos funcionam como sinais de qualidade: informam sobre a condição física, a saúde ou a personalidade de seus detentores.

Além disso, eles também transmitem informações verdadeiras, já que precisam de diversos fatores para serem produzidos. Isso faz com que somente os animais de alta qualidade consigam produzir ornamentos mais atraentes, com mais cores.

No entanto, o especialista aponta que existem ainda muitas questões para serem respondidas em relação aos ornamentos.

Efeitos das mudanças climáticas

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Os efeitos das mudanças climáticas sobre a fauna e a flora têm recebido muita atenção da comunidade científica. A maioria dos estudos foca em estudar os efeitos no início da floração das plantas ou na data da postura de ovos das aves.

No entanto, estudos sobre os efeitos das mudanças climáticas em outras características, como os ornamentos exibidos por diversas espécies de animais e plantas, são poucos.

Idiáquez aponta que a importância de estudar os efeitos das mudanças climáticas sobre os ornamentos está no fato de que seus custos de produção mudam de acordo com as condições ambientais. Quando elas ocorrem, quando há muita comida, os ornamentos são mais baratos de produzir do que quando as condições ambientais são ruins.

Caso a mudança climática continue piorando as condições ambientais, os custos relativos à produção destes sinais podem aumentar. Além disso, como a energia disponível para um indivíduo é limitada, este aumento nos custos pode limitar o investimento energético em outras funções vitais, como a sobrevivência, o que pode afetar negativamente a manutenção das populações de uma espécie.

Por isso, para entender e prever as respostas das populações às mudanças climáticas, é preciso estudar como isso afeta a expressão dos ornamentos.

O chapim-azul no sul da França

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Idiáquez explica que recentemente, cientistas do Centro de Ecologia Funcional e Evolutiva de Montpellier, na França, e da Universidade do País Basco, na Espanha, estudaram os efeitos das mudanças climáticas na coloração ornamental do chapim-azul (Cyanistes caeruleus).

O chapim-azul é uma ave de pequeno porte, comum nas florestas europeias. Ele possui uma coloração bastante vistosa. Sua coroa azul e peito amarelo são especialmente marcantes.

Devido à atenção que ele recebe da comunidade científica, foi descoberto que suas coroas azuis e seus peitos amarelos são ornamentos que informam sobre a qualidade de seus donos.

O especialista acrescenta que o estudo se concentrou em duas populações de chapim-azul do sul da França. Uma localizada nas proximidades de Montpellier, e outra no noroeste da ilha de Córsega, estudadas há mais de 15 anos.

De acordo com Idiáquez, a cada ano, entre 2005 e 2019, foram capturados todos os chapim-azul reprodutores de cada população. Com isso, foi possível obter mais de 5,8 mil medições sobre a coloração e outras características dele.

Plumagem menos colorida

Foto: Pixabay

Idiáquez, que participou da pesquisa, aponta que os resultados mostraram que em ambas as populações a coloração azul e amarela do chapim-azul diminuiu entre 2005 e 2019.

Atualmente, nessas populações os ornamentos das coroas azuis e os peitos amarelos são menos visíveis do que quando o estudo começou. Além disso, foi descoberto na Córsega que nos verões mais quentes e secos os chapim-azul apresentavam duas formas menos vistosas.

Assim, o aumento da temperatura e a diminuição da precipitação na área de estudo sugere que a diminuição do ornamento nessa população é decorrência das mudanças climáticas

Já na população nas proximidades de Montpellier, não foram detectadas mudanças significativas na temperatura ou relação entre temperatura e cor dos chapim-azul. Isso pode apontar que os efeitos das mudanças climáticas não são os mesmos em todos os lugares.

No entanto, também pode sugerir que a ausência da relação entre a cor e o clima pode significar que a coloração dos ornamentos são sensíveis a outros fatores ambientais que devem ser pesquisados no futuro.

De acordo com o pesquisador, esse estudo e outros realizados com espécies diferentes, como o pássaro papa-moscas-de-colar e as libélulas, mostram que a mudança climática está impactando de forma negativa os ornamentos dos animais.

Ele acrescenta que estudos futuros devem explorar as consequências deste impacto na capacidade de adaptação das populações às mudanças climáticas. Com isso, será possível compreender quais as consequências não só para as aves, mas para o ecossistema em geral.

Fonte: BBC