História

Como era a América antes da chegada de Colombo?

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Cristóvão Colombo chegou ao outro lado do Atlântico em 12 de outubro de 1492 e encontrou um lugar complexo e diverso. A América era muito povoada e abrigava sociedades dinâmicas e que possuíam culturas diferentes da Europa.

De acordo com estimativas recentes, nas Américas viviam entre 40 e 60 milhões de pessoas, que falavam cerca de 1.200 idiomas diferentes, agrupados em 120 famílias linguísticas. Conforme Charles C. Mann, autor do livro “1491 – Novas revelações das Américas antes de Colombo”, eram estruturas sociais quase democráticas. Além disso, dominavam a matemática e a geografia. Os povos originários também ajudaram a criar parte do mundo que vivemos. 

Além disso, os nativos tinham uma dieta regrada a molho, batata, abacate, tomate e abóboras. De acordo com Charles C. Mann, nas Américas não havia evidência de períodos de fome.

Apesar das plantas serem o principal indício de que existia um intercâmbio entre norte e sul, biólogos não sabem explicar como as espécies domesticadas na Amazônia chegaram ao Canadá, sem uma rota direta, animais de cargas e caravanas.

Vale lembrar que no século 15 muitos povos morreram por causa das doenças trazidas por meio dos rios, animais e contato com os europeus. Com a chegada de Colombo, muitas formas de vida foram destruídas e por isso é difícil conseguir informações sobre a América pré-colombiana.

América do Norte

Foto: Seguros Promo

As culturas que habitavam o atual Canadá até o extremo norte do México costumavam se organizar em comunidades mais igualitárias. A estimativa é de que havia cerca de 5 milhões de pessoas nessa parte do continente.

“Em geral, eram povos que viviam em grupos relativamente pequenos e se juntavam para ajudarem-se mutuamente, mas colocavam limitações muito claras ao poder das suas autoridades”, afirma Charles C. Mann.

Em algumas comunidades, tudo tinha que ser decidido por consenso e os líderes podiam ser destituídos pelo povo.

A América do Norte pode ser dividida em três pontos de estudo: o haudenosaunee, as culturas mississipianas e as culturas pueblo.

Haudenosaunee

Foto: Gety Imagens

O povo Haudenosaunee era formado pelas nações indígenas Mohawk, Onondaga, Oneida, Cayuga e Seneca. Eles viviam em áreas rurais e densamente povoadas. As grandes aldeias ficavam próximas, mas não existia uma capital específica.

“Dessa forma, todos ficavam mais próximos do suprimento de comida. Na América do Norte não havia animais de carga como o cavalo. Por isso, transportar alimentos até uma cidade grande era mais difícil”, diz Charles C. Mann.

Os haudenosaunee eram regidos por um governo com leis aprovadas pelo conselho formado por homens e mulheres que decidiam até mesmo sobre as guerras. Era quase uma democracia sem partidos.

Isso impressionou os europeus que ainda viviam em monarquias absolutas quando chegaram à América. Atualmente, os haudenosaunee são reconhecidos nos Estados Unidos como a única nação indigna de povo originário, influenciando na constituição e no governo americano.

Para Charles C. Mann, as semelhanças entre a política nativa e a atual são bem pequenas, porém, o impacto cultural provocado pela forma de vida das nações indígenas é fácil de ser notado.

“Os europeus encontraram povos que não tinham medo de seus governos, que eram autônomos e que riam da ideia de que a nobreza era hereditária. Essas foram lições importantes que aprenderam com eles”, disse para a BBC.

Culturas mississipianas

Foto: Caleb O’Connor, Museus de Universidade do Alabama

Já as culturas mississipianas eram um grupo de cidades que compartilhavam a mesma religião e visão de mundo. Elas se estendiam dos Estados Unidos até a fronteira com o Canadá.

“Em seu apogeu, pouco antes do ano 1400, a extensão territorial desses povos era equivalente ao que chamamos de ‘cristandade’ na Europa na mesma época. Isso nos dá uma ideia de quão influente essa cultura foi na América do Norte”, explica Charles C. Mann.

As cidades mississipianas mais importantes tinham centros políticos importantes como Cahokia e Moundville. Os locais também funcionavam como um ambiente de vida social e mística. Porém, pouco antes da chegada dos europeus, os locais deixaram de ser habitados e foram reservados apenas para enterros e peregrinação religiosa.

“Hoje se consideram duas possibilidades: uma delas, segundo os indígenas descendentes dos mississipianos, é que eles acreditavam que as cidades tinham uma missão e um ciclo de vida. Depois de algum tempo, saíam delas para que se transformassem em outra coisa. A segunda possibilidade é que abandonaram Moundville porque se cansaram de sua estrutura elitista e só mantiveram as cidades onde o poder era mais compartilhado”, explica Mann.

Culturas pueblo

Foto: Gety Imagens

Entre o atual sudoeste dos Estados Unidos e o noroeste do México havia mais de 20 comunidades com cultura e religião em comum, mas idiomas e etnias distintas. Os pueblos (vilarejos) tinham comunidades tão grandes que os primeiros relatos as definiram como reinos. Esse é o caso de Zuni e Acoma.

Apesar de algumas cidades serem maiores que as outas, não havia uma dominante, assim como em tempos de seca e fome, as pessoas se deslocaram para a outra comunidade, onde eram abrigados. De acordo com Kurtz Anschuetz, especialista na agricultura de povos pré-colombianos da América do Norte, os pueblanos eram agrônomos e agricultores talentosos.

Eles desenvolveram uma variedade de milho e tecnologia para cultivo em diversos tipos de solo. Isso garantiu alimento para todo o ano, assim como reservas e o separado para os rituais. Apesar disso, as técnicas não impressionaram os europeus, porque eles buscavam riquezas minerais.

Mesoamérica

Foto: Reprodução

Organizados como grandes impérios ou estados independentes, os mesoamericanos eram o mais próximo do que os europeus identificavam como civilizações. Na época em que Colombo chegou, aproximadamente 24 milhões de pessoas habitavam o coração da América.

Os poucos nativos implantaram inovações e avanços tecnológicos que fizeram o local funcionar melhor do que a Europa. Entre as inovações está a construção de lagos e desvio do curso natural dos rios.

Os maia, pouco conhecidos na época, eram os únicos a desenvolver escrita independente. Porém, isso não impediu que outras culturas da região registrassem o conhecimento de astronomia, matemática e poesia oral.

A época pode ser estudada em três partes: o império mexica, império tarasco e civilização maia.

Império mexica

Foto: Gety Imagens

No fim do século 15, o império mexica (mais tarde chamado de asteca) estava em seu auge. As cidades-estado de Tenochtitlán, Texcoco e Tacuba tinham formado uma aliança político-militar que conquistou a maior parte do sul do atual México.

Apesar dos mexicas não precisarem ter militares nos terrenos conquistados, eles obrigavam os súditos a enviar produtos e soldados para Tenochtitlán. Também casavam com as filhas de chefes locais pensando nos futuros herdeiros que comandariam as regiões. Com isso, o império era homogêneo, mesmo que falassem muitos idiomas além do náuatle, o oficial.

Os mexicas exibiam poder por meio da riqueza e dos palácios e jardins de Tenochtitlán, cidade que era maior que Paris quando Colombo chegou. No local viviam cerca de 250 mil pessoas. 

“Era uma cidade refinada, com banheiros públicos, mais de 30 palácios que tinham cerâmicas finas e tecidos elegantes. E ficava em meio a mais de 2 mil km² de lagos ricos em peixes, enquanto que a agricultura nos arredores era bastante produtiva e permitia sustentar a população da região”, contou à BBC News Mundo, Esteban Mira Caballos, doutor em História da América pela Universidade de Sevilha, na Espanha.

Além disso, os mexicas possuíam uma engenharia incomparável, com um sistema de canais e represas que permitiam controlar a quantidade de água que chegava à capital. Com isso, evitavam inundações.

Após os espanhóis conquistarem o local, eles destruíram o sistema hidráulico e reconstruíram no estilo europeu. Depois disso, a atual Cidade do México inundou por diversas vezes. 

Império tarasco

Foto: Gety Imagens

Os inimigos dos mexicas são pouco conhecidos porque sobraram menos registros de sua sociedade e relatos de como viviam antes dos espanhóis. Porém, eles tinham o segundo maior Estado da Mesoamérica na época.

Na mitologia mexicas, os tarascos eram uma das tribos que saíram de sua terra ancestral, Aztlán, porém não chegaram com eles em Tenochtitlán.

Além disso, a capital tarasca, Tzintzuntzan, tinha quase 30 mil habitantes, no século 15, e era formada por três cidades perto de um lago. Os mexicas também são relatados como respeitados metalúrgicos.

Os tarascos conseguiram se manter no poder até o início do século 17, por meio de negociações com os espanhóis após a queda de Tenochtitlán.

Civilização maia

Foto: Gety Imagens

No século 15, grande parte das atrações turísticas populares maias já estavam em decadência. De acordo com Nikolai Grube, da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, quando o sistema controlado pela nobreza entrou em colapso no século 9, as pessoas aproveitaram para ter mais acesso a itens de luxo como joias feitas de jade e cerâmica. No entanto, sem os reis, a arquitetura ficou modesta e restou só grandes templos e palácios.

Na península de Yucatán, no atual México, Mayapán foi a maior cidade maia antes da chegada dos europeus, mas já tinha sido abandonada quando eles chegaram.

Além disso, vale ressaltar que os maias eram os astrônomos mais avançados do continente, com muito conhecimento matemático. Por causa deles, a humanidade conhece o símbolo do zero.

O sistema de escrita maia era parecido com os hieróglifos egípcios, assim como permitia escrever todas as palavras do seu idioma. No entanto, apenas quatro livro foram preservados até os dias atuais.

América do Sul

Foto: Conhecimento Científico

No ano de 1492, a América do Sul tinha cerca de 25 milhões de habitantes e povos muito diferentes. Entre eles, os grandes impérios andinos, como o chimú e o inca, assim como os povos do sul que resistiram à conquista.

Já a sociedade pré-colombiana menos conhecida é a amazônica, que teve o primeiro encontro com os europeus no século 16. A estimativa dos pesquisadores é de que entre 8 e 10 milhões de pessoas viviam na Amazônia e falavam aproximadamente 300 idiomas.

Além disso, a floresta amazônica não era virgem quando os europeus chegaram, os povos originários já haviam a transformado, com plantações e a tornado mais resistente ao clima.

Enquanto isso, a costa atlântica do continente abrigava uma variedade de povos como os tupinambás, os guaranis e os charrúa, porém, os colonizadores apagaram grande parte de evidências materiais da vida desse povo antes da chegada de Colombo.

A América do Sul pode ser estudada com as divisões: império inca, império chimu, culturas dos Llanos de Moxos, povo do Singu, aisuaris, cultura santarém e mapuches.

Império inca

Foto: Gety Imagens

No final do século 15, o império inca era o maior do mundo, sendo comparado apenas ao império romano. Cusco, a capital, foi redesenhada pelo líder expansionista Pachacuti para representar um puma, animal sagrado dos Andes.

De acordo com Sonia Alconini, da Universidade de Virgínia, nos Estados Unidos, o local que abrigava o templo do Sol, era o Vaticano dos Andes.

O império tinha cerca de 3 milhões de quilômetros quadrados, indo do norte do Equador até a região central do Agile, dividido em quatro grandes regiões. Elas eram conectadas por pontes, escadas para subir as montanhas e estradas que ainda são usadas.

Para dominar uma parte grande do continente, os incas estimularam os lobos da região a trabalhar em obras de infraestrutura, que incluíam os templos e palácios. Além disso, o império se tornou extenso e viável, mesmo sem moeda e mercado, devido à distribuição de recursos feita pelos incas.

Além disso, havia o sistema de censo de recursos locais e de todas pessoas, o que permitia determinar o tributo que cada um tinha que pagar, em forma de trabalho, para o Estado. Após o censo ser feito, todo recurso produzido era dividido em três partes, um terço para o Estado, outro para o soberano e a família imperial e o que sobrou para as comunidades.

O dinheiro dedicado ao Estado era uma garantia de segurança à população, além de manter as obras e ajudar no trânsito de soldados, construindo armazéns para que eles pudessem viajar sem peso.

Apesar do sistema parecer bom, isso não significa que os povos aceitaram ser dominados pelos incas, que exigiam que eles falassem o quechua, idioma do império. Os que se rebelavam, eram levados para outras áreas, como a Bolívia.

A mão de obra desse povo conquistado ajudou a expandir a fronteira agrícola do império, o que permitiu a expansão dos incas. No entanto, a derrota para o império espanhol ocorreu devido às crises políticas provocadas pela sucessão dos líderes.

Império chimú

Foto: Gety Imagens

Até os anos de 1970, o império chimú era um dos mais poderosos dos Andes. Ele possuía cerca de 500 km indo do sul do Equador até o norte do Peru. No local viveram cerca de 100 mil habitantes.

Nas cidades ficavam grandes palácios reais, praças em ordem descendentes, e arquitetura que mostravam que nem todos tinham acesso a espaços da elite. Além disso, os edifícios eram decorados com motivos marinhos porque para os chimú o mar era seu local mitológico de origem.

No entanto, o principal investimento desse povo ocorreu na terra com a construção de sistemas de irrigação para zonas desérticas. Assim, a capital foi construída em um vale artificial que trazia água desse sistema, porém, atualmente a região é desértica.

Já na região de Chan Chan foram encontrados vestígios de oficinas de tecelagem, cerâmica e metalúrgica. Apesar das grandes riquezas, o império perdeu força antes da chegada dos Europeus quando entrou em conflito com os incas.

América: Povos amazônicos

Foto: BBC

Na atual Bolívia, arqueólogos encontraram muitas obras monumentais de diferentes povos da floresta úmida dos Llanos de Moxos. O principal tipo de estrutura encontrado na região são as lomas – montículos em forma de pirâmides que medem até 20 metros de altura. Elas eram usadas em casas, cemitérios, áreas de cultivo e casas agrícolas.

Na foz do rio Madeira foram localizadas mais de 500 Lomas e a estimativa é que foram construídos mil desses em todo o Beni. Na região também foram encontradas plataformas elevadas de cultivo de vários tamanhos e perto da fronteira com o Brasil foram notados desenhos no solo, que serviam como trincheiras de até 4 metros de profundidade para proteger as aldeias.

Por causa de toda essa complexa estrutura, foi estimado que as sociedades de Beni eram maiores do que se esperava, visto que era preciso muita mão de obra.

Foto: Gety Imagens

Outro povo amazônico são os Xingu. Ao todo são aldeias espalhadas em uma área de cerca de 20 mil km² na região do Alto do Xingu, no Centro-Oeste brasileiro. Atualmente, no local existe apenas uma aldeia, que seria até 20 vezes menor que as que existiam antes da chegada de Colombo. Além disso, estima que na região viveram até 50 mil pessoas.

O complexo de Kuhikugu tem um centro de 50 hectares, algumas residências, e uma grande praça rodeada de trincheiras. Ao seu redor ficavam sítios parecidos. Para os pesquisadores, toda região de Xingu estava conectada.

Os indígenas da Amazônia brasileira mostraram há 800 anos que a natureza podia ser incorporada na cidade. Além disso, os Xingu escolhiam o local ideal para que determinadas espécies de plantas fossem cultivadas.

América Amazônica

Foto: Gety Imagens

Os povos aisuari entraram em contato com padres espanhóis pela primeira vez em 1639. Essa população vivia em uma terra povoada com pelo menos 30 aldeias, fora os povos vizinhos. Eles estavam às margens do rio Amazonas, perto da atual cidade de Tefé (AM).

De acordo com relatos, os aisuari tinham aldeias lineares nas barrancas dos rios. Arqueólogos encontraram assentamentos que ocupavam até 18 hectares. Devido ao fato de estar degradado por causa do tempo, acredita-se que a aldeia original seja ainda maior.

Além disso, a estimativa é de que a comunidade aisuari pode ter tido até 60 mil pessoas no final do século 15. Vestígios arqueológicos também apontam que os nativos domesticavam tracajás.

Outra descoberta é que os aisuari faziam intercâmbio de peixe seco e de cerâmica e recebiam adornos de ouro. Essa teoria pode ser confirmada pelas cerâmicas encontradas na região

Esse povo teria sofrido um declínio populacional após o contato com os colonizadores.

Foto: Departamento de Arqueologia do Museu Nacional/UFRJ

Outra civilização pré-colombiana foi o povo de Santarém (PA). Essa população era tão valorizada, que suas peças chegaram até o caribe por meio das redes de intercâmbio. Eles viveram seu apogeu entre os anos de 1200 e 1400. 

O centro da cidade tinha 400 hectares com seções semelhantes a bairros, fileiras de casas e estava localizada na atual cidade de Santarém, no Pará. No local foram encontrados cerâmicas e adornos típicos da América.

A cultura de Santarém também tinha o culto de mumificar os corpos, os vestir e sair com eles na rua, sendo considerados seres vivos. No entanto, após eles se deteriorarem, eram cremados e as cinzas eram diluídas em um líquido que as pessoas bebiam. Além disso, as cinzas eram transformadas em adubo para o solo.

Os primeiros europeus que chegaram à região, em 1542, foram ladrões que tiveram contato com o povo tapajó, extinto após o encontro com os colonizadores, que podem ser descendentes dos lobos Santarém.

Mapuches

Foto: Gety Imagens

No começo dos anos 1540, quando os espanhóis chegaram à região do Chile e Argentina, perto da Patagônia, encontraram os mapuche. Uma organização social que nunca conseguiram dominar e que resistiu mais à conquista do território que qualquer outro povo americano.

Apesar de não terem um governo central, os nativos daquela região enfrentaram uma guerra com os incas, perdendo parte do território chileno, mas impedindo o avanço do império, e fizeram que a Espanha assinasse um acordo de paz, garantindo respeitar o território mapuche. Na época, cerca de 1,2 e 1,3 milhão de pessoas habitavam o local.

Os povos mapuche eram unidos ideologicamente, culturalmente e para fins militares. Além disso, se organizavam em estrutura de parentesco que se uniam durante as guerras, sendo comandados por chefes militares.

Eles conseguiram resistir até o século 19, quando militares chilenos conquistaram o território e submeteram a população às autoridades do país.

Fonte: BBC

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