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Como o açaí se popularizou mundialmente

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O açaí é um dos alimentos mais populares do Brasil. Tradicional da região Norte, no local, ele costuma ser comido com camarão, peixe frito, charque e farinha d’água.

Primeiramente, é preciso destacar que o açaí “raiz” não é o vendido acompanhado de banana, granola e leite ninho, mas sim o açaí com farinha de mandioca, considerado o arroz e feijão do Norte. Esses dois alimentos fornecem a base de nutrientes necessários para aguentar o dia: carboidratos, proteínas, gorduras e vitaminas. 

Uma porção de açaí com farinha costuma passar das 500 calorias – um quarto do que um ser humano médio precisa comer todos os dias para se manter de pé. 

Era assim para os indígenas caçadores-coletores há mil anos e continua sendo para quem tem pouco dinheiro. Por exemplo, 60% das famílias que recebem até um salário mínimo no Pará consomem açaí todos os dias. Vale lembrar que 95% de todo o açaí consumido no mundo vem do Estado do Pará.

História do açaí

Foto: Dmitri Maruta/ Alamy

O açaí possui uma história mitológica que reflete perfeitamente a relação da população com o fruto. Na lenda, uma tribo indígena que vivia onde hoje é Belém viu sua população crescer muito rápido, mais até que a oferta de alimentos.

Por causa disso, o cacique tomou medidas drásticas para evitar a fome, e condenou todos os recém-nascidos à morte. Sua filha, Iaçã, estava grávida, mas a neta não foi poupada. Desolada, Iaçã pediu ao deus Tupã que acabasse com o sofrimento da tribo.

À noite, Iaçã ouviu o choro de uma criança, e seguiu o som até a floresta. No dia seguinte, ela foi encontrada morta na base da palmeira. Seus olhos, abertos, estavam direcionados ao topo da árvore, na direção de pequenos frutos que balançavam nos galhos.

Após isso, a tribo começou a se sustentar com um suco roxo feito a partir da fruta e aboliu a política de sacrifício.

Guaraná

Foto: Oksana Bratanova/ Alamy

Para conquistar o planeta, o açaí de Iaçã precisou passar por uma repaginada. A fruta dura é impossível de mastigar, por isso só é consumida em líquido ou pasta, após ser batida com água. 

Existem três tipos de açaí pastoso: o popular, o médio e o especial. A regulamentação federal determina que o popular tenha entre 8% e 11% de polpa do fruto misturados em água. O médio deve ter concentração entre 11% e 14%, enquanto o especial precisa passar dos 14%. No entanto, vale lembrar que um copo com mais 17% de açaí dificilmente é bem digerido pelo corpo, e provoca um piriri daqueles.

Fora da Região Norte é difícil que você tenha tido oportunidade de escolher um açaí popular ou especial. Isso porque o que os quiosques vendem é o mix, uma mistura feita industrialmente que contém açaí com várias outras coisas.

Para provar o verdadeiro açaí você precisa ser rápido, isso porque após a colheita, o fruto deve ser batido em até 24 horas para preservar a cor, o cheiro e o sabor – de preferência. Além disso, se o açaí não for ingerido em até 72 horas, ele começa a azedar.

Por causa disso, a polpa precisa ser congelada e industrializada para chegar a outras partes do país e do mundo. 

Ao redor do mundo, cada país também tem sua forma de comer açaí. Por exemplo, a Finlândia compra seu açaí doce, os Estados Unidos prefere natural e para a Arábia Saudita, quanto mais concentrado, melhor.  

O mix foi o primeiro passo que tornou o açaí um sucesso internacional. Além de ser feito usando a polpa popular, mais barata e menos concentrada, ele é mais doce. Para isso, é misturado com xarope de guaraná, aromatizantes, estabilizantes e outros ingredientes para dar a consistência de sorvete.

Antes do mix, o consumo de açaí era regional, sendo difícil atrair o interesse de outros estados.

Popularização mundial

Foto: Pulsar Imagens/ Alamy

Na virada do milênio, o açaí conquistou o paladar fora do Norte. No entanto, até os dias atuais, o consumo local segue sendo o maior. Hoje em dia, 60% do açaí do mundo é consumido no Pará, 30% é consumido pelo restante do Brasil, e 10% vai para exportação. 

Já a fama internacional começou em 2000, quando uma dupla de surfistas americanos que visitava o Brasil ficou interessada na fruta. Eles começaram a levar a polpa congelada para os Estados Unidos e vendê-la nas praias de Los Angeles.

Atualmente, essa prática seria impossível, já que a exportação de alimentos naturais segue regras rigorosas para evitar contaminação. Mas naquela época, o açaí era transportado sem passar por nenhum processo industrial e sem adoçar. No país, ele fez sucesso entre quem gostava do toque terroso e a ideia de provar uma fruta da Amazônia, mas não era acessível.

Logo a história chegou ao engenheiro agrícola Ben Hur Borges, que trabalhava com palmito de açaí no Pará. Com isso, ele viu a oportunidade de adaptar o produto ao paladar estrangeiro e adicionar o guaraná à mistura, tornando a polpa mais doce e palatável. Esse é o gosto do açaí que podemos tomar fora do Norte. 

Além disso, o açaí se popularizou na época da onda avassaladora dos “antioxidantes”. Pesquisas apontavam os danos que os radicais livres provocavam e que as substâncias que protegem o corpo da oxidação são chamadas de antioxidantes.

Muitos estudos foram dedicados a entender a influência de uma dieta rica em moléculas antioxidantes. Com isso, a alimentícia percebeu a tendência e abraçou o conceito. A palavra “antioxidante” passou a ser entendida como “antienvelhecimento” e o açaí ganhou um marketing científico.

Isso porque, além de doses altas de ferro, potássio e vitaminas, a fruta é rica em antocianinas. Essas substâncias fazem parte do grupo de antioxidantes e já foram associadas à diminuição de risco de doenças cardiovasculares, com o aumento do colesterol bom e com a redução da formação de gordura nas artérias. 

Fonte: Superinteressante

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