Os pesquisadores revelaram uma planta rara que tem o organismo vivo e o maior genoma do mundo. A nova espécie veio à tona em um estudo publicado em 31 de maio na revista Science.
Trata-se da planta Tmesipteris oblanceolata, com poucos centímetros de altura, mas contendo mais de 100 metros de DNA – e 50 vezes mais genes do que nós, humanos.
A pesquisa aconteceu no Royal Botanic Gardens de Kew, no Reino Unido, e do Instituto Botânico de Barcelona (IBB-CSIC), na Espanha. A samambaia T. oblanceolata é uma espécie rara encontrada na Nova Caledônia, território francês que inclui várias ilhas no sul do Oceano Pacífico.
T. oblanceolata alcançou três marcos no Guinness World Records: é o organismo, planta e samambaia com o maior genoma do mundo. A samambaia quebrou o recorde da planta japonesa Paris japonica desde 2010.
Ilia Leitch, chefe de pesquisa evolutiva do Royal Botanic Gardens de Kew, disse que jamais imaginaria que essa planta rara, discreta e pequena, teria tantos genomas. Ela foi ignorada pela maioria das pessoas, e agora detém o recorde mundial de tamanho do genoma.
Planta rara
O gênero de plantas Tmesipteris é um grupo pouco estudado e inclui cerca de 15 espécies, a maioria delas encontradas em diversas ilhas do Pacífico e da Oceania.
Até o momento, os pesquisadores estimaram apenas o tamanho dos genes de duas espécies do grupo: T. tannensis e T. obliqua, em 73,19 e 147,29 pares de gigabases (gbp), respectivamente.
T. mesipteris é um gênero único e interessante de samambaias, cujos ancestrais surgiram há cerca de 350 milhões de anos – muito antes dos dinossauros pisarem na Terra – e se distinguem por seus hábitos amplamente simbólicos, no caso, aqueles que crescem principalmente em troncos e galhos de árvores. Jaume Pellicer, um pesquisador evolucionista, relata sua distribuição limitada na Oceania e em algumas ilhas do Pacífico.
Viagem à França
Em 2023, os principais autores do estudo, Pellicer e Oriane Hidalgo, viajaram para a Nova Caledônia para coletar amostras de Tmesipteris e analisar o tamanho do seu genoma. Para isso, é necessário separar os núcleos de milhares de células e aplicar corante neles.
Em seguida, os investigadores mediram a quantidade de ligação entre o corante e o ADN de cada núcleo (quanto mais corante, maior é o genoma).
Com essa análise, descobriu-se que o tipo T. oblanceolata tem genoma recorde de 160,45 libras esterlinas – cerca de 7% maior que o P. japonica, com 148,89 libras esterlinas.
Para efeito de comparação, se o DNA de cada célula desta samambaia fosse coberto, ela teria mais de 106 metros de altura – isso é mais alto que a Torre Elizabeth em Westminster, Londres, que tem 96 metros de altura e abriga o Grande Sino.
Em comparação, o genoma humano contém cerca de 3,1 libras esterlinas espalhadas por 23 cromossomos. Assim, quando esticado, o comprimento do DNA de cada célula mede cerca de 2 metros.
Até o momento, cientistas de todo o mundo estimaram o tamanho do genoma de mais de 20.000 eucariotos. Em animais, os maiores genes são do peixe pulmonado africano (Protopterus aethiopicus), com 129,90 libras esterlinas, e do anfíbio Necturus lewisi, com 117,47 libras esterlinas. No entanto, dos grandes genomas eucarióticos descobertos, seis são de plantas.
Vantagem?
Ter um genoma grande não é uma vantagem. No caso das plantas, as espécies com grandes quantidades de DNA estão limitadas a plantas que crescem lentamente, fotossintetizam com menos eficiência e requerem mais nutrientes (especialmente nitrogênio e fosfato).
Ou seja, pensar que essa planta rara aparentemente inofensiva tem 50 vezes mais DNA do que os humanos é um lembrete de que ainda há muito sobre o reino vegetal que não sabemos.
Além disso, aqueles que detêm esse recorde são mais do que apenas os protagonistas. Eles possuem um papel importante no mundo lá fora.
Fonte: Revista Galileu