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Faltam mulheres negras em companhias aéreas do país, revela estudo

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O racismo é um assunto importante e que devemos discutir diariamente, até porque ele ainda é muito presente em nossa sociedade. Ele não é visto apenas nos insultos às pessoas negras, mas também em coisas que podem passar despercebidas para muitos, como por exemplo, a falta de mulheres negras como piloto nas companhias aéreas.

Esse dado foi visto através de uma pesquisa feita pela Organização Quilombo Aéreo em parceria com a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Para se ter uma noção, ano passado tinham 3.283 mulheres formadas, mas as que estavam atuantes nas companhias aéreas eram somente 992. Isso representa somente 2,3% de todos os trabalhadores dessa função. O que consequentemente mostra que 97% das vagas são de homens, e desses somente 2% são negros.

Com relação aos comissários de bordo, somente 5% de quem está atuando são pessoas negras e aproximadamente 66% são mulheres.

Mulheres negras na aviação

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Vendo toda essa discrepância e falta de mulheres nesses posições, a Organização Quilombo Aéreo, com o apoio do Grupo de Pesquisa Gênero, Raça e Interseccionalidades no Turismo (GRITus), junto com a Universidade Federal de Pelotas (UFPel), fez entrevistas com mulheres negras que estão trabalhando ou que já trabalharam no setor. Dentre as entrevistadas por eles tem comissárias de bordo e pilotas que não estão no setor no momento.

Outro fato que a pesquisa mostrou foi que existem cinco barreiras para que as mulheres negras consigam entrar no setor da aviação civil nacional. São eles: o custo da formação, a falta de informações sobre a carreira e de representatividade, os processos seletivos desiguais, e por último, a rejeição de corpos negros.

E as que conseguem ultrapassar essas barreiras e entrar no setor, para permanecer nele, enfrentam outras sete, como o nível de cobrança, a falta de representatividade, a negação do corpo negro, a não aceitação do cabelo, lidar com a saúde laboral e mental, além do machismo e assédio.

“As mulheres negras enfrentam barreiras para entrar no mercado de trabalho da aviação civil brasileira, assim como para permanecer atuando no setor”, disse Laiara Amorim, comissária de bordo, pesquisadora e idealizadora do Quilombo Aéreo.

Mudança

Época negócios

Em 2018, ela e Kenia Aquino criaram o Quilombo Aéreo a partir de dois projetos, o “Voe Como Uma Garota Negra” e “Voo Negro”. Com isso, elas querem dar mais visibilidade para os profissionais negros da aviação, empregabilidade, falar sobre saúde mental e realizar pesquisas acadêmicas inéditas no setor.

“Já sabíamos aproximadamente desses dados, o registro científico desses números foi uma constatação. Então, para as pesquisadoras do Quilombo Aéreo não foi nenhuma surpresa, mas é uma surpresa para sociedade e, também, para as companhias aéreas, que não olhavam para esses números até um ano atrás”, disse Laiara.

“O corpo negro incomoda e é rejeitado. Olhando para o cabelo da mulher negra, por exemplo, identificamos profissionais negras que foram barradas em processos seletivos, porque estavam com seus cabelos naturais soltos nas entrevistas de emprego. É explícito como essas mulheres não são selecionadas, mesmo tendo um currículo bem qualificado ou até melhor que outras candidatas brancas”, pontuou Natália Oliveira, professora na UFPel e coordenadora do GRITus.

Embora sejam a maioria nos cursos na área de turismo, as mulheres ainda estão em posições precárias no mercado de trabalho. “O mercado de trabalho no setor do turismo é bastante dividido em relação às ocupações, levando em conta o gênero dos profissionais. Acompanhamos o processo seletivo de uma das entrevistadas que participou da nossa pesquisa, por exemplo. Ela conseguiu uma vaga como comissária, apesar de estar capacitada para atuar como piloto. A empresa alegou que ela não estava preparada, mas contratou um homem que tinha as mesmas especificidades que ela no currículo”, ressaltou Laiara.

A pesquisa também mostrou que as mulheres negras têm que lidar com o assédio, seja ele moral ou psicológico, vindo de colegas de trabalho ou de clientes. No setor de turismo, o assédio é visto frequentemente pelas comissárias de bordo, recepcionistas e camareiras. Contudo, as mulheres negras sofrem ainda mais com ele.

Esse assédio, de acordo com as entrevistadas, pode acontecer dos mais variados jeitos, como por exemplo, com a pessoa questionando a mulher por simplesmente estar em determinado lugar. “Uma das profissionais ouviu de uma pilota que ela parecia uma passista de escola de samba. Em outros casos, homens já perguntaram quanto a tripulante ganhava de salário e se ofereciam para pagar mais”, disse Gabriela Santos, uma das pesquisadoras.

Inclusão

Quilombo aéreo

Mesmo com essa discrepância, o Quilombo Aéreo trabalha para mudar essa realidade seguindo seus três pilares: empregabilidade, acadêmico e formação técnica.

Um dos projetos deles, o “Projeto Pretos que Voam”, teve sua primeira turma em 2021 e, de acordo com um representante do Quilombo Aéreo, todos que fizeram parte dele já estão aprovados na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e alguns já trabalham como comissários.

Na visão de Laiara, é essencial que existam ações para inserir mulheres negras nesse setor. E com relação ao gênero e à raça, ela pontua que é preciso pensar em ações afirmativas.

“No mapeamento do Quilombo Aéreo, por exemplo, não temos nenhuma mulher negra que preencha os requisitos da vaga em específico, como por exemplo o número de horas de voo, o que reforça as barreiras identificadas na pesquisa, a barreira de acesso à formação. A maioria das mulheres negras são arrimo de família e geralmente têm que escolher entre a formação e a sobrevivência. Quando se consegue fazer os dois não é na mesma velocidade que as mulheres ou homens brancos. As companhias que realmente querem se comprometer com a equidade racial e de gênero, na cabine de comando, vão ter que olhar para o antes e o durante da formação e para a situação atual das mulheres negras no nosso país”, concluiu ela.

Fonte: Diário de Pernambuco

Imagens: Facebook, Época negócios, Quilombo aéreo 

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