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Hildegard de Bingen, a santa que descreveu o orgasmo feminino

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O fato de que a primeira pessoa a descrever o orgasmo feminino tenha sido uma mulher não é de surpreender. Até o fato de a descrição ter sido feita em 1151 não é tão chocante, apesar da época ser dominada pelos relatos masculinos. No entanto, o que choca é que a descrição partiu de uma freira beneditina do Sacro Império Romano que se tornou santa.

Vale destacar que, por muito tempo, seguir um caminho religioso era a melhor forma de uma mulher de classe mais alta conseguir o tempo e os meios para desenvolver o pensamento. Isso não significa que Hildegard de Bingen escolheu essa vida de santa. Isso porque, como filha de uma família nobre de origem alemã, seu destino foi determinado pelos seus pais desde cedo.

Santa excepcional

Ainda que se entregar à religião significava que a mulher teria uma educação mais rica, nada nesse ambiente ou momento histórico era garantia de que ela se tornasse um ser excepcional como foi. Dessa forma, Hildegard de Bingen passou boa parte de sua vida de mais de 80 anos trancada em mosteiros, mas ela se tornou uma mulher renascentista antes mesmo de acontecer o Renascimento.

Seu trabalho foi além do espiritual, atingindo a cosmologia, medicina, biologia e botânica. A santa chegou a criar a Língua Ignota, ou “língua desconhecida”, a primeira língua artificial da história. Além disso, ela era uma visionária, poetisa e artista visual.

Então, quando a opressão às mulheres se estendeu à Igreja, Hildegard de Bingen compôs obras musicais inovadores, que foram redescobertas em 1979, 800 anos após sua morte. Hoje, as obras são famosas e celebradas.

Dessa maneira, no século XII, quando as diretrizes da Igreja reservavam um papel subordinado ao seu gênero, ela não só decidiu fundar seus próprios mosteiros, como também pregou fora deles, com a permissão do Papa. Isso era algo inédito, sendo que ela até interpretou a Bíblia, que era algo considerado um poder exclusivo para homens.

Reverenciada antes de morrer e cultuada como santa antes de ser canonizada em 2016, Hildegard de Bingen recebeu o título de Doutora da Igreja, dado a certos santos por conta de sua erudição.

Orgasmo

Getty Images

Hildegard de Bingen escreveu sua primeira obra, “Scivias”, e, com o tempo, ela foi capaz de escrever tratados científicos, nos quais ela não transmitia mais suas visões, e sim o que ela aprendeu através de sua observação da natureza. Isso sem ser acusada de bruxaria e censurada. A mulher também conseguiu evitar chocar alguém o suficiente para ser perseguida.

Em um deles, “Causa e cura”, a santa abordou o assunto de sexualidade, sem adicionar uma camada de julgamento moral. Ao contrário de escritores como Constantino, o africano, que em seu “De coitu” descreveu todo tipo de prazer carnal mas excluiu as mulheres, Hildegard de Bingen falou abertamente sobre a experiência masculina e feminina.

Sem julgamento

Logicamente, a santa exaltava a castidade, mas não difamou o casamento e a procriação. “A mulher pode ser feita do homem, mas o homem não pode ser feito sem a mulher.” Além disso, a santa acreditava que o que aconteceu no Jardim do Éden foi culpa de Satanás e não de Eva. Ciumento por ela ter o poder de dar vida, ele envenenou o fruto da tentação de Eva, tão humana quanto Adão.

O sangue que realmente manchou não foi aquele da menstruação, mas o que foi derramado nas guerras. Assim, ela abriu o caminho para afirmar que o sexo não era fruto do pecado e o prazer sexual era uma questão de dois: “Assim que a tempestade da paixão surge com um homem, ele é jogado nela como um moinho”.

“Seus órgãos sexuais são então, por assim dizer, forja à qual a medula entrega seu fogo. Essa forja então transmite o fogo à genitália masculina e as faz queimar poderosamente.”

Desse modo, seu parceiro está longe de ser um vaso insensível. “Quando a mulher se une ao homem, o calor de seu cérebro, que tem prazer em si mesmo, faz com que ele saboreie o prazer da união e ejacule seu sêmen.”

“E quando o sêmen caiu em seu lugar, aquele calor muito forte do cérebro o atrai e o retém consigo, e imediatamente os rins da mulher se contraem, e todos os membros que durante a menstruação estão prestes a abrir se fecham, no mesma maneira como um homem forte segura algo em sua mão.” Essa descrição, vindo de uma santa do século XII, é realmente surpreendente.

Fonte: BBC

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