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A história original de Pinóquio, conto italiano adaptado pela Disney

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Pinóquio ficou conhecido mundialmente devido à sua adaptação cinematográfica, mas poucos leram suas histórias. Inclusive, a maioria das pessoas acredita que Pinóquio é sinônimo do filme de animação da Disney sobre uma marionete de madeira, em que o nariz cresce toda vez que ele diz uma mentira.

No conto italiano, Pinóquio está longe de ser ingênuo e distraído. Diferente do personagem apresentado por Walt Disney em 1940, na versão original o boneco é cheio de contradições.

Criado pelo escritor italiano Carlo Collodi, o personagem possui aventuras que oscilam entre moralismo e humor ácido. Além disso, apesar de não cair no sentimentalismo, ele reflete os problemas da Itália do século 19.

“A história original tem um certo tom sombrio”, explica Roberto Vezzani, da Fundação Nacional Carlo Collodi, na Itália, à BBC News Mundo.

Ele informa que a história foi escrita 20 anos depois da reunificação italiana, época em que o país passava por muita pobreza e problemas sociais.

“As versões da Disney sempre são um pouco mais doces e atenuam as versões originais dos livros infantis escritos entre os séculos 17 e 19, que sempre são contos mais obscuros, tristes e desoladores que as versões da Disney”, acrescenta Fredy Ordóñez, tradutor de uma versão colombiana de Pinóquio.

Logo em seguida, ele explica que naquela época não existia diferença entre a psicologia infantil e a adulta. Por causa disso, algumas cenas da versão original ficaram de fora das adaptações.

“Fiquei muito impressionada pela brutalidade, pela violência de algumas cenas, como, por exemplo, quando Pinóquio apoia os pés em um braseiro e eles são queimados enquanto ele dorme. É uma cena terrível”, comenta Francesca Barbera, tradutora da versão publicada recentemente pela editora chilena La Pollera.

As origens do livro As Aventuras de Pinóquio

Foto: Getty Images

Carlo Collodi (1826-1890), nome artístico de Carlo Lorenzini, nasceu em Florença, na Itália, onde seu pai trabalhava como cozinheiro de uma família aristocrática. Após ser voluntário no exército toscano durante as guerras da independência da Itália, ele criou um semanário satírico intitulado Il Lampione, em que a meta era “iluminar a quem permanece nas trevas”.

Em 7 de julho de 1881, Collodi publicou no Giornale per i Bambini (“Jornal para as Crianças”, em tradução livre) os primeiros capítulos da série “História de uma Marionete”. Dois anos depois, as histórias foram publicadas em um livro chamado “As Aventuras de Pinóquio”.

“Collodi era uma pessoa desiludida. O texto é recheado de fé e desesperança ao mesmo tempo. Existe uma sátira, uma crítica à classe social, à justiça e ao desejo de enriquecer”, explica Barbera.

Vale destacar que primeiramente Collodi desejava finalizar a história no capítulo 15, quando a Raposa e o Gato enforcam Pinóquio em um grande carvalho para roubar suas moedas de ouro.

Para Vezzani, Collodi “queria terminar a história com uma espécie de lição de moral, ou seja, se você não for um bom menino, pode acontecer algo ruim”.

No entanto, os jovens leitores não concordaram com o final e enviaram cartas ao jornal, pedindo mais histórias sobre Pinóquio.

Collodi acabou sendo convencido de continuar a história, que se tornou um reflexo ao redor do mundo, mas isso apenas após a morte do autor.

Reflexo de uma época

Foto: Getty Images

Com as aventuras de Pinóquio, Collodi desejava apresentar os problemas do seu tempo.

“O que caracteriza o romance original é que ele mostra a imagem da Itália daquela época, mas, ao mesmo tempo, é um romance universal. Seu protagonista, Pinóquio, comete erros com frequência, mas logo os reconhece devido ao seu caráter bondoso”, diz Vezzani.

Vezzani acrescenta que o boneco vive diversas aventuras que permitem com que ele amadureça e entenda que as pessoas devem equilibrar a parte divertida da vida com a necessidade de trabalhar e cumprir com suas obrigações

“Estes são os temas universais do romance, que fazem com que todos reconheçam alguma parte do livro nas suas vidas e explicam por que é um dos livros mais traduzidos do mundo”, conclui Vezzani.

Além disso, a história de Pinóquio mostra os danos causados pela pobreza e as dificuldades para seguir adiante. Apesar de no conto Gepeto ser pobre e carpinteiro, na história criada por Walt Disney, ele é relojoeiro bonachão sem grandes dificuldades financeiras.

“Collodi conseguiu criar uma história para crianças, que também expressa algo profundo sobre a sociedade, sobre a dificuldade de tornar-se adulto. Ele criou Pinóquio, cuja humanidade é excepcional”, acrescenta.

Grandes diferenças

Foto: Getty Images

Grilo Falante também aparece como um dos personagens mais queridos do público infantil. Apesar de ser conhecido como a voz da consciência na versão da Disney, no conto ele morre logo no início quando Pinóquio mata o grilo quando ele está dando conselhos.

Após isso, o Grilo Falante ainda se aproxima em algumas ocasiões, mas em espírito. “É algo que a Disney nunca faria porque poderia ser considerado muito sombrio”, aponta Vezzani.

Já a Fada Azul tortura Pinóquio, fazendo o boneco acreditar que ela morreu por culpa dele. “Aqui jaz a menina de cabelo azul que morreu de dor após ter sido abandonada por seu irmãozinho Pinóquio.”

No livro, é possível notar ainda a mistura da presença da morte seguida de risadas, da comédia.

“É uma história de aventura na qual Pinóquio vive diversas peripécias, algumas das quais ficaram muito famosas com as adaptações para o cinema, como na versão da Disney. Mas, no romance original, existem diversos personagens e aventuras que nunca foram incluídos nas adaptações cinematográficas. Podemos observar que o romance original inclui muitos episódios que as pessoas não conhecem porque só estão no romance”, explica Vezzani.

Fonte: BBC

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