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Maior parte das pessoas mentem na terapia. Qual o problema disso e como se expressar melhor?

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Felizmente, estamos vivendo um momento em que falar sobre saúde mental não é mais um tabu, como já foi no passado. As pessoas estão se sentindo mais confortáveis em debater sobre o assunto e procurar ajuda. Uma dessas formas é a psicoterapia. De sessão em sessão a pessoa tem um melhor estado psicoemocional, expressa-se de forma livre e adquire ferramentas para lidar com situações que enfrenta em seu dia a dia.

Além disso, a sessão é um espaço em que a pessoa pode conversar a respeito do seu progresso, suas limitações e suas expectativas com o terapeuta e fazer a avaliação se o tratamento está sendo eficaz ou não.

No entanto, de acordo com um estudo feito por pesquisadores da Universidade Columbia, nos EUA, mentir na terapia é uma coisa comum. Nesse estudo, 547 pessoas responderam um questionário online e como resultado, 93% dos participantes disseram que já mentiram para seu terapeuta.

Dentre as mentiras inventadas, as mais comuns são as a respeito de gostar dos comentários feitos por psicólogos/psiquiatras, criar justificativas falsas para os atrasos ou faltas, e fingir achar o tratamento eficaz. Além disso, existem as pessoas encobrem seus sentimentos e desejos, como por exemplo, querer acabar a terapia.

Sobre o que motiva as pessoas a mentirem para os terapeutas, as principais razões são: querer ser educado, agradar, impressionar ou não chatear o terapeuta; evitar constrangimentos e desconfortos; desviar o foco de assuntos mais complexos; não ser tratado de uma maneira diferente como uma pessoa incompreendida; medo de ser encaminhado para uma clínica psiquiatra; negar insegurança; diminuir sofrimentos e abusos e não ser criticado.

Seja qual for o motivo, mentir na terapia não é uma coisa positiva, mesmo que a intenção possa parecer, de algum modo, louvável.

Melhor falar a verdade do que mentir

Hospital Santa Mônica

De acordo com Flávio Henrique Nascimento, psiquiatra pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), honestidade é fundamental no crescimento pessoal e sucesso no tratamento. Por isso que o paciente e o terapeuta têm que trabalhar juntos para que exista uma confiança e compreensão mútua. “Com informações falsas ou incompletas, a relação acaba minada, o direcionamento fica limitado e o progresso prejudicado”, disse.

Isso quer dizer que, mentindo na terapia, a pessoa atrasa ou impede o autoconhecimento, desenvolvimento de habilidades, enfrentamento de situações e mudanças. “O principal prejudicado com as mentiras é o próprio paciente, que pode ficar também com uma ideia de desvalorização da terapia, pensando que ela não serve para ajudá-lo”, disse Larissa Lauriano, psiquiatra e professora da Afya Educação Médica de Fortaleza.

Além disso, a pessoa pode receber diagnósticos e prescrições erradas, ter sintomas e melhoras falsos e remédios sem necessidade. Também existe o risco de receber uma alta antecipada.

Outro ponto é que se o psicólogo descobrir a mentira, ele pode se ver em uma posição ética complicada, especialmente se estiver envolvido em casos de confidencialidade e proteção ao paciente.

Nem sempre é proposital

Mesmo que exista a recomendação para falar a verdade, a pessoa pode mentir de forma consciente ou inconsciente, o que é algo esperado. Em determinados casos, a mentira dita pode vir da fantasia ou distorção, mas é a “verdade” dele naquele momento.

“É um mecanismo de defesa não intencional”, aponta Yuri Busin, psicólogo pós-graduado pela PUC-RS.

Existem pessoas que não estão preparadas para encararem a si e suas verdades, ou que sofrem com transtornos como a mitomania, que é a mentira compulsiva. “Mas o tratamento não deve ser interrompido por isso de forma alguma. Só é indicado trocar de profissional se a conexão entre as partes não for estabelecida, ou o paciente não se sentir à vontade, mesmo passado algum tempo”, continuou ele.

Como não mentir na terapia

Clude

Claro que mostrar o interior para uma pessoa, mesmo que ela seja especialista em saúde mental, não é uma tarefa fácil. No entanto, isso deve ser feito pelo bem do paciente.

Por conta disso, quando a pessoa quiser contar alguma coisa que aconteceu honestamente e de forma eficaz, ela pode planejar com antecedência para evitar improvisos na hora da sessão de terapia.

Outro ponto é explicar qual problema ou área da vida a pessoa quer falar na sessão para ter pontos de referência que possam medir o progresso e ajudar o terapeuta. “Lembre-se de que o ambiente da terapia é neutro, não há julgamentos, não há críticas. O psicoterapeuta tem o dever de acolher e procurar entender as suas demandas, assim como assegurar seu sigilo”, explicou Lauriano.

Justamente por isso que a pessoa não deve esconder informações e dizer tudo o que vier, mesmo que não pareça ser uma coisa relevante. Até porque, uma coisa que pode parecer sem importância ou pequena, na realidade, pode ter ligações com padrões de pensamento, crenças ou questões mais profundas. Tudo isso dá ao profissional pistas bem importantes sobre a personalidade, experiências e emoções do paciente.

“Contar que mentiu mostra amadurecimento e estar pronto para enfrentar os motivos que estão conectados ao sofrimento. Pode ser um ponto de partida para explorar suas raízes, reconstruir a confiança e evitar novos problemas não somente na terapia, como na vida pessoal”, conclui Nascimento.

Fonte; VivaBem

Imagens: Hospital Santa Mônica, Clude

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