O metrô de Gaza está se tornando um dos elementos fundamentais da guerra que se instala em Israel.
Isso porque existe uma rede intricada de túneis conhecida como passagens para contrabando e ataques contra o Estado.
As Forças de Defesa de Israel reconhecem informalmente essa segunda rede, um extenso labirinto de túneis, com vários quilômetros subterrâneos, que serve para transporte de pessoas e mercadorias.
Além disso, serve para armazenar foguetes, munições e abrigar centros de comando do Hamas, longe da vigilância aérea de Israel.
Em 2021, o Hamas afirmou ter construído 500 quilômetros de túneis, embora a precisão desse número seja questionável. Se for verdade, esses túneis teriam quase metade do comprimento do sistema de metrô de Nova York.
Via BBC
A complexidade e extensão da rede exigiram recursos significativos do Hamas, considerando as restrições impostas pelo bloqueio terrestre, marítimo e aéreo de Israel, além do bloqueio terrestre do Egito desde 2007.
Gaza, uma faixa costeira empobrecida, não possui a maquinaria maciça típica para construção de túneis profundos, sugerindo que escavadores com ferramentas básicas realizaram o trabalho.
Israel acusa o Hamas de desviar materiais destinados a fins civis para a construção desses túneis.
Enquanto isso, críticos argumentam que os enormes gastos nesses túneis poderiam ter sido direcionados para abrigos antiaéreos civis ou sistemas de alerta precoce, beneficiando a população.
A utilização de túneis como recurso militar remonta aos tempos medievais, e hoje eles representam uma ferramenta atrativa em guerras assimétricas, concedendo vantagens a grupos extremistas, como o Hamas.
Essa estratégia neutraliza algumas das vantagens tecnológicas das forças armadas mais avançadas, como as FDI.
O diferencial dos túneis do Hamas em comparação com os da Al Qaeda nas montanhas do Afeganistão ou dos vietcongues nas selvas do Sudeste Asiático é a construção de uma rede subterrânea em uma das regiões mais densamente povoadas do planeta, onde quase 2 milhões de pessoas habitam os 88 quilômetros quadrados que compõem a Cidade de Gaza.
Lidar com túneis é sempre desafiador, independentemente do contexto, mas quando estão inseridos em uma zona urbana, a complexidade aumenta.
Isso envolve aspectos tácticos, estratégicos, operacionais e a proteção desejada para a população civil, como observado por Richemond-Barak.
Ele também é membro de instituições renomadas como o Instituto Lieber de Direito e Guerra Terrestre, e o Instituto de Guerra Moderna em West Point.
Desde o ataque terrorista em Israel em 7 de outubro, que resultou na morte de pelo menos 1.400 pessoas, principalmente civis, as Forças de Defesa de Israel (FDI) afirmam que o Hamas se esconde no metrô de Gaza.
Dizem, ainda, que muitas delas estão localizadas sob casas e edifícios habitados por civis, efetivamente utilizando-os como escudos humanos.
Os ataques aéreos israelenses desde então causaram a morte de pelo menos 2.670 palestinos, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza.
Acredita-se que as FDI persigam essa rede em uma possível incursão terrestre em Gaza, como parte dos esforços contínuos para eliminar os túneis do Hamas.
Na sexta-feira (13), Israel emitiu um alerta para cerca de 1,1 milhão de pessoas em Gaza, instruindo-as a se deslocarem para o sul antes de uma provável operação militar, conforme informado pelas Nações Unidas.
Críticos argumentam que essa ordem é praticamente impossível de ser executada em curto prazo, especialmente em meio a uma zona de guerra.
O principal defensor dos direitos humanos da ONU condenou a solicitação de evacuação, considerando-a contrária às regras de guerra e à humanidade básica.
Via CNN
Retirar civis da Cidade de Gaza poderia facilitar a eliminação de túneis, mas conforme observado por Richemond-Barak, tais operações ainda representam riscos significativos.
As FDI podem temporariamente tornar os túneis inutilizáveis ou destruí-los, sendo o bombardeio das passagens subterrâneas geralmente a forma mais eficiente de eliminá-las. No entanto, tais ataques podem ter impactos adversos sobre a população civil.
É evidente que a tecnologia, embora avançada, por si só não será suficiente para conter a ameaça do metrô de Gaza.
Apesar dos investimentos de Israel em um sistema inteligente com sensores avançados e paredes subterrâneas, o Hamas conseguiu realizar seu ataque de 7 de outubro por terra, ar e mar.
Richemond-Barak destaca a necessidade de uma abordagem abrangente, que inclua inteligência visual, monitoramento de fronteiras e até mesmo a colaboração dos civis para identificar atividades suspeitas.
Ela ressalta que não há uma solução infalível para enfrentar a ameaça dos túneis e compara, dizendo que não existe Cúpula de Ferro para túneis.
Fonte: CNN