O estudo com as moscas-das-frutas tem um valor imenso

Ninguém quer ter moscas em casa, ainda mais porque elas carregam e transmitem vários germes, bactérias e patógenos nocivos. E quando elas entram em contato com alimentos, utensílios de cozinha e lugares onde os alimentos são preparados, elas podem contaminá-los e acabar causando infecções e doenças, como por exemplo, diarreia, intoxicações alimentares, gastroenterites e até doenças mais graves.

No entanto, por mais que as moscas sejam irritantes, no caso específico das moscas-das-frutas, elas foram bem importantes na revolução da ciência biológica e médica. Por isso que esses insetos não devem ser julgados somente pelos seus comportamentos ruins.

De acordo com a entomóloga Erica McAlister, as moscas têm uma importância econômica e ambiental gigante. Por exemplo, várias plantas dependem delas como seus polinizadores.

No caso das moscas-das-frutas, que podem ser menores do que uma unha, elas foram mencionadas em 1830 pela primeira vez pelo entomologista alemão Johann Meigen. Desde então, o inseto foi bastante estudado pelos cientistas. Tanto é que ele se tornou o organismo animal mais bem entendido do planeta e 10 cientistas que a estudaram receberam o prêmio Nobel de fisiologia ou medicina.

Foi no começo dos anos 1900 que o interesse da ciência por essas moscas começou. Nessa época, o biólogo Thomas Hunt Morgan, da Universidade de Columbia, em Nova York, testou teorias evolutivas, como por exemplo, a maneira como as mutações genéticas estão relacionadas com outras caraterísticas.

Importância das moscas

Seagri

Por mais que Morgan não tenha sido o primeiro a estudar essas moscas, a ideia dele de aproveitar a criação barata e reprodução rápida do inseto faria com que fosse possível estudar a evolução em laboratório. Isso é possível porque as mudanças evolutivas são mais fáceis de serem vistas em populações grandes de uma espécie que tem uma rotatividade alta.

Através de experimentos de reprodução em massa, feito com centenas de milhares de moscas, foi descoberta uma única mosca com olhos brancos ao invés dos comuns olhos vermelhos. Os outros estudos feitos depois disso mostravam que os genes podem ter mutações e são organizados em mapas reprodutíveis.

Foi esse entendimento que fundou o campo da genética clássica, dando, por exemplo, o entendimento de como as pessoas herdam uma doença genética.

Além de Morgan, outros pesquisadores fizeram o mapeamento da estrutura da hélice do DNA. Através disso, questões que eram debatidas há tempos ficaram em foco, como por exemplo, como os genes regulam processos biológicos complexos.

Com o passar do tempo, os cientistas criaram técnicas usando microscópios para estudar os embriões das moscas-das-frutas. E da mesma forma que as mutações genéticas humanas têm o poder de causar más formações corporais, os embriões dos insetos também têm esses defeitos.

Por conta disso, é possível que os cientistas estudem essas mutações mesmo que os ovos nunca eclodam, e com as tecnologias atuais, como a clonagem de genes, os pesquisadores entenderam melhor como as redes de genes influenciam o desenvolvimento de um corpo e como elas podem causar distúrbios.

Semelhança

Jornal ciência

Outro ponto que faz com que esses insetos sejam importantes para a ciência é sua semelhança de genomas inteiros e mecanismos e processos que, geralmente, eram vistos em organismos mais complexos.

Ao que tudo indica, o ancestral comum das linhas evolutivas tanto das moscas como dos humanos meio bilhão de anos atrás, pode ter tido uma biologia bastante elaborada, sendo que vários pontos ainda são vistos atualmente.

Por conta dessa semelhança, vários pontos de doenças humanas e da própria biologia foram analisados nas moscas primeiro. E o melhor de tudo é que esses estudos em moscas são rápidos, econômicos e bem versáteis. Por conta disso que ele é ideal para descobertas científicas.

Mas claro que esses insetos não são mini-humanos. Contudo, eles podem ser usados para estudar os neurônios que morrem em doenças cerebrais, como a doença de Alzheimer, e ajudar no entendimento desse tipo de doença.

Fonte: Science alert

Imagens: Seagri, Jornal ciência