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O que é a amnésia geracional, perda de memória que afeta o planeta

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Não é incomum encontrar pessoas mais velhas que olham para a juventude com deboche, como se tivessem nascidas já com 70 anos de idade e nunca tivessem passado pelo processo de se descobrir, com todos os erros e acertos. Mas, é possível ter amnésia geracional?

“O desprezo geracional é, na verdade, um eterno comportamento humano”, escreveu o romancista Douglas Coupland em um artigo para o jornal britânico The Guardian no início de junho. Ele foi o responsável por cunhar o termo “geração X”.

Desse modo, ele recorda que os baby boomers desdenhavam dos integrantes da geração X, como ele, que, por sua vez, falavam mal da torrada coberta de abacate e outros hábitos típicos dos millennials. Agora, é a vez da geração Z, com seu uso do TikTok e opiniões sobre identidade e política. Esse deboche para com gerações mais novas é o efeito “dos jovens de hoje”, presente desde os escritos dos Gregos Antigos.

“Desde pelo menos 624 a.C., as pessoas lamentam o declínio da atual geração de jovens em relação às gerações anteriores”, segundo os psicólogos que nomearam o fenômeno.

“A difusão das reclamações sobre os ‘jovens de hoje’ ao longo dos milênios sugere que essas críticas não são precisas nem devido às idiossincrasias de uma cultura ou época em particular — mas representam uma ilusão generalizada da humanidade.”

Segundo os pesquisadores, uma razão para tal é que as pessoas tendem a se esquecer de sua própria evolução. Ou seja, esquecem que elas mudaram com o tempo, presumindo que a maturidade, atitudes e comportamentos dos jovens são fixos. Contudo, essa não é a única perda de memória que acontece com o passar das gerações.

Amnésia geracional

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A amnésia geracional é outra explicação, menos óbvia, que afeta a todos nós. Cada geração recebe um mundo moldado pelas gerações anteriores e, com o passar dos anos, esquece desse fato.

Por exemplo, pense na evolução da tecnologia. Hoje em dia, definimos como tecnologia os smartphones e as criptomoedas, mas, há pouco tempo, a definição era completamente diferente. Um cientista da computação certa vez ironizou que a tecnologia deveria ser definida como “qualquer coisa que foi inventada depois que você nasceu”.

Portanto, algumas tecnologias são tão presentes que esquecemos que são tecnologias. Como Douglas Adams já pontuou: “Não pensamos mais em cadeiras como tecnologia; apenas pensamos nelas como cadeiras. Mas houve um tempo em que não sabíamos quantas pernas as cadeiras deveriam ter, qual a altura que deveriam ter, e muitas vezes elas ‘quebravam’ quando tentávamos usar. ”

Como resultado, as gerações atuais vivem uma vida de luxo e facilidade de uma forma que gerações passadas poderiam apenas sonhar. Além disso, as novas gerações tendem a esquecer, coletivamente, como a mudança social positiva ocorre por meio do ativismo direcionado às minorias, como foi o caso da luta feminina pelo direito ao voto. Nem sempre o sufrágio universal foi visto como obviamente correto, fato este que é dificilmente lembrado. Da mesma forma, as gerações a seguir provavelmente estudarão com o horror o mundo atual.

Um mundo diferente

Além das mudanças positivas, a amnésia geracional também implica que as gerações se esquecem das ações ruins de seus antepassados. Uma das primeiras vezes que esse tipo de amnésia geracional foi identificado foi durante a década de 1990, descrevendo um fenômenos que afetava os pesquisadores que estudavam peixes.

O cientista Daniel Pauly percebeu que, apesar do declínio a longo prazo de certas populações de peixes, cada geração de cientistas parecia estar aceitando a menor abundância e diversidade que observavam como sua “base” de referência. Isso considerando que ouviram as histórias de gerações anteriores de uma vida oceânica diferente.

Então, ele chamou este fenômeno de “síndrome de deslocamento da linha de referência”. Outro exemplo é que as crianças atuais sabem o que é poluição e como ela se manifesta, mas não são capazes de se indignar com a poluição de suas próprias cidades. Elas construíram sua linha de referência para o que pensavam ser um ambiente normal”, disse o psicólogo Peter Kahn, da Universidade de Washington, nos EUA, em um artigo em parceria com a colega Thea Weiss.

Eles apontam que todos nós sofremos com a amnésia geracional, esquecendo de forma coletiva como era o mundo natural antes de nós. “É um dos problemas psicológicos mais urgentes de nossa vida”, eles escrevem.

“Já é difícil resolver problemas, como desmatamento, acidificação dos oceanos e mudanças climáticas; mas pelo menos a maioria das pessoas os reconhece como problemas. A solução que estamos apresentando é, com efeito, ‘uma pequena interação com a natureza de cada vez'”, escreveram Kahn e Weiss.

Sendo assim, ao invés de julgar as gerações mais novas e sua falta de consciência, a ação correta é transmitir as experiências para que elas não se percam.

Fonte: BBC

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