Se você já viu uma escultura da Grécia Antiga, como Efebo de Crítio, já notou algo peculiar nas estátuas gregas. As esculturas de mármore marcam a arte grega pelos detalhes surpreendentes e pela maestria dos artistas em criar figuras humanas. Elas também são relevantes até hoje quando o assunto é padrão de beleza baseados em hipertrofia, fatores genéticos e órgãos sexuais reproduzidos nas esculturas.
No último caso, a parte íntima era comumente retratada com um tamanho menor. Isso destoa do resto do corpo forte, apresentando músculos grandes e a aparência de uma pessoa que claramente tem um biotipo mais encorpado. Muitas vezes, é possível até observar a vascularização por veias esculpidas em rico detalhe.
Porém, ainda resta a dúvida: por que o pênis é tão pequeno? A historiadora de arte, Ellen Oredsson, apresenta uma resolução para essa pergunta, segundo a revista Veja em 2017. Basta pensar que os órgãos sexuais estão pequenos por não estarem em posição sexual, ou seja, enrijecidos.
“Se alguém compara com o tamanho da maioria dos pênis moles, (os dos gregos) não são na verdade tão significativamente menores quanto os da vida real”, disse Ellen.
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Ellen destaca que outro fator a levar em consideração para entender o tamanho do pênis é que ele já era uma ferramenta de definição de caráter nos tempos antes de Cristo, na Grécia Antiga. Isso porque a associação do pênis pequeno e mole era diretamente ligada ao respeito da figura ou da pessoa.
Sendo assim, retratado de forma mais humilde, o órgão sexual era um sinal de que a figura era uma pessoa admirável. Portanto, o contrário também vale para entender que a figura era uma pessoa bárbara, incisiva e feia, de acordo com o historiador Kenneth Dover, autor do livro Greek Homossexuality.
“A conclusão mais razoável é a de que se um pênis grande vem com uma face horrível e o pênis pequeno com um rosto bonito, então o pequeno é que era admirado“, apontou o pesquisador.
Já o escritor David M. Friendman disse na obra A Mind of its own: a cultural history of the penis, que aborda a história cultural sobre o órgão masculino, “Os artistas gregos mostravam o seu desprezo pelos estrangeiros e pelos escravos pintando-os com órgãos grandes”.
A história da correlação entre o racismo e as genitálias humanas é antiga. Hebert Samuels, um educador sexual e professor na Universidade de Laguardia, em Nova York, aponta que homens negros eram ditos como “animalescos”. Essa caracterização era aplicada também ao tamanho do membro sexual.
“Voltando a meados dos anos 1500 e continuando a escravidão nos Estados Unidos e ainda mais do que isso, considerava-se homens e mulheres negros animalescos em seus desejos sexuais, particularmente homens negros.”
“O pensamento social ocidental associa a negritude a uma sexualidade incivilizada e selvagem imaginada. Também usa-se essa associação como um eixo central da diferença racial”, aponta a professora Patrícia Hill Collins em
Black Sexual Politics: African Americans, Gender and the New Racism.
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De acordo com o estudo da doutora Busi Makoni da Universidade de Pennsylvania, essa correlação leva a problemas presentes até hoje. Para ela, usar a diferença sexual para pautar a diferença racial acaba “levando ao racismo sexual como evidenciado neste interesse obsessivo.”
“Tais discursos reforçam o estereótipo de homens negros como criaturas lascivas e sexualmente insaciáveis que têm múltiplos parceiros sexuais, causando, assim, a disseminação desenfreada do vírus HIV/AIDS e levando homens negros ao estupro – assim a narrativa vai.”
“Apesar das alegações de que as sociedades pós-coloniais contemporâneas estão se tornando pós-raciais, as visões coloniais sobre corpos masculinos negros continuam a dominar por meio de múltiplas práticas discursivas que ressaltam a associação de corpos negros com ‘animalismo’.”
“Em estudos sobre a sociologia do esporte, por exemplo, se associa o corpo atlético masculino negro e resistente à energia e ao poder animalesco, especialmente em atividades como o boxe.”
“Na mídia e na publicidade, os corpos negros estão sujeitos ao racismo exótico. Enquanto na música popular e nas revistas de moda, apresenta-se a negritude como fisicalidade e não como intelecto. Na sociedade contemporânea, o ‘animalismo’ associado à negritude é mercantilizado para que homens e mulheres negros se tornem os maiores ícones de proezas esportivas, indomáveis, rebeldes, ‘brutos’ e de poder sexual.”
Então, no final das contas, o pênis pequeno nas estátuas da Grécia Antiga não são retratações negativas, culturalmente. Por outro lado, é importante observar como o pênis grande vem sendo ligado aos estereótipos negativos de pessoas não-brancas, sobretudo, as negras.
Fonte: Aventuras na História