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O que são agroflorestas?

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Sezefredo Cruz teve o objetivo de domar a natureza e tentou por anos fazer isso. Ele abusava do fogo para limpar a mata e liberar espaço para suas plantações de banana, arroz, milho e feijão em Barra do Turvo, cidade na divisa entre São Paulo e Paraná.

Isso deu certo – por um tempo. O fogo fixa nutrientes de forma rápida, mas o processo desgasta o solo. As pragas começaram a dominar as plantações e Sezefredo tentou a alternativa tradicional: usar fertilizantes e defensivos químicos. Com isso, a cada ciclo, menos dinheiro o agricultor ganhava.

Eventualmente, a paisagem denunciou o estrago feito: uma terra sem vida, com plantas fracas e marcadas por praga. “Com o solo ruim, as bananeiras saíam da terra e, às vezes, dava praga. Era uma tristeza”, relatou o agricultor. Como um dia de trabalho na lavoura rendia o suficiente para comprar uma lata de óleo, ele não viu opção a não ser vender a propriedade.

Em 1995, Oswaldinho apareceu para vender seu peixe. Agrônomo contratado pela Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo, Oswaldo Souza tinha como missão promover feiras entre os produtores locais. Porém, sua paixão era outra: as agroflorestas.

As agroflorestas são um sistema integrado de árvores e plantas de diferentes espécies em uma única plantação, sem o uso de fertilizantes ou agrotóxicos.

Agroflorestas

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Oswaldinho conheceu as agroflorestas com Ernst Götsch, um suíço radicado no Brasil. Ainda nos anos 1970, quando vivia na Europa, o agricultor e pesquisador tentou combinar o cultivo de diferentes espécies de plantas em um espaço, como era de costume para os fazendeiros europeus até o início do século 20.

Então, ele percebeu que seu feijão se fortalecia quando estava próximo de árvores. O resultado era melhor ainda depois que as árvores eram podadas. Portanto, notou que não bastava cuidar de uma única planta, ou espécie, e sim de todo o sistema das plantações.

A população mundial estava crescendo rapidamente e, com ela, a preocupação de como alimentar todos. Como solução, pensaram em reduzir o tempo até a colheita e aumentar a produção. Portanto, usaram maquinário pesado, fertilizantes, veneno e sementes selecionadas. Dessa forma, na lógica da monocultura, qualquer outra espécie de inseto e ervas daninhas, são invasoras que devem ser eliminadas.

No entanto, o problema é que o solo se acaba nesse processo, se tornando compacto e impermeável. Além disso, problemas como erosão, contaminação do meio ambiente por agrotóxicos, assoreamento de rios e fortalecimento de pragas afetaram as plantações. Para combater, usa-se mais fertilizantes.

Isso cria um ciclo cada vez mais caro, um clima cada vez mais seco e uma biodiversidade cada vez menor. Plantações orgânicas funcionam quase da mesma forma, mas com insumos naturais e os únicos que ganham com isso são os grandes produtores. Pequenos agricultores não conseguem fechar as contas sem dívidas. Ernst entendeu as falhas desse ciclo.

No sul da Bahia, entre Ituberá e Piraí do Norte, a Fazenda Fugidos da Terra Seca estava com muitas dívidas e foi para lá que Ernst se mudou em 1984. Então, ele comprou 500 hectares de terras improdutivas. “As bananeiras não ficavam de pé. Ficavam deitadas pelo vento. Vinha a chuva e formava uma grande enxurrada. Depois vinha a seca”, lembra Ernst. “Diziam que gringo é burro. Que não sabe escolher terra.”

Dedicação

Ernst decidiu implementar o sistema de agroflorestas. “Tenho que ser uma presença benéfica naquele meio. E não pensar apenas no que eu posso tirar disso. O resultado é a abundância”, afirma Ernst. Ele criou um sistema complexo com plantas selecionadas para cumprir um papel em cada etapa do processo de regeneração natural. Assim, o gringo que não sabia dominar a terra viu 500 hectares ser dominada pela Mata Atlântica.

A fazenda até ganhou até um novo nome: Olhos d’Água, em homenagem às 14 nascentes que ressurgiram. Oswaldinho vendeu seu peixe e Sezefredo, aos 73 anos, mantém seu sítio equilibrado. Mais do que o processo, a agrofloresta possui uma filosofia, de compreender a importância de cada etapa da vida. A agricultura deveria seguir o mesmo modelo. “Você não é o mais inteligente ali. Não é o dono. É só uma parte, uma célula”, diz Ernst.

Fonte: Superinteressante

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