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Por que não nos recordamos dos primeiros anos da nossa infância?

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Você já se perguntou por que não nos lembramos dos nossos primeiros anos de vida? Especialistas apontam que o ser humano costuma lembrar do que aconteceu apenas a partir dos três anos de idade.

Apesar de algumas pessoas pensarem que conseguem se recordar de momentos muito mais antigos, para a ciência, isso provavelmente é parte de um efeito nomeado como “confabulação”.

Esse termo foi desenvolvido pelo psiquiatra alemão Karl Bonhoeffer, em 1900. Ele retrata supostas memórias vívidas e detalhadas de um acontecimento do qual a pessoa apenas ouviu falar. Nesse caso, o episódio de fato aconteceu, porém, a criança era muito nova para guardar aqueles detalhes, que vem à tona conforme os pais relembram a história.

Muitas pessoas possuem a impressão de se tratar de uma memória genuína, quando na verdade a mente apenas assimilou o que foi contado.

Além disso, alguns estudos da área sugerem que as mulheres têm memórias de momentos mais cedo na vida do que os homens, mas isso não é comprovado em todos os estudos. Também é sugerido que o filho primogênito também tende a ter memórias mais antigas do que os outros.

Outro fator que costuma influenciar é se a pessoa se mudou antes dos três anos de idade. Nesse caso, os neurocientistas costumam ligar com a capacidade de datar a memória, em resumo, fica marcando quando aconteceu.

O esquecimento 

Foto: Getty Images

De acordo com Herman Ebbinghaus, pioneiro no estudo da memória (século XIX), o processo do esquecimento ocorre de maneira exponencial: é mais intenso no início, e depois se estabiliza. 

O psicólogo já informou que as crianças se esquecem mais rapidamente, porque o cérebro está se desenvolvendo de forma rápida, e necessita se desfazer de algumas memórias. Com isso, o órgão faz uma “limpeza” de lembranças dos primeiros anos de vida, já que o excesso de memórias armazenadas pode atrapalhar.

“O cérebro está se desenvolvendo rápido. O cérebro de um bebê de um ano tem mais conexões que em qualquer outro momento de sua vida”, explica Catherine Loveday, da Universidade de Westminster, no Reino Unido, em entrevista para a BBC.

A especialista acrescenta que pesquisas apontam que não codificamos uma memória antes de ter um conceito linguístico para cada dado específico.

O cérebro também precisa distinguir a percepção e a memória para que o fluxo de dados recebidos não interfira nos estímulos conseguidos anteriormente. Assim como, para evitar que informações importantes sejam interpretadas de forma incorreta.

Em uma pesquisa publicada em 2020, o professor Blake Richards, da University of Toronto (Canadá), afirmou que é importante que o cérebro esqueça detalhes irrelevantes. No lugar deles, o órgão precisa se concentrar nas coisas que ajudarão a tomar decisões no mundo real.

E as pessoas que se lembram dos primeiros anos de vida?

Foto: Getty Images

Como citado anteriormente, existem pessoas que acreditam se lembrar de memórias dos primeiros anos de vida. Veja porque isso acontece.

“Minha memória mais antiga é de mim acordando no berço. Posso ver as cortinas amarelas e ouvir alguém no quarto ao lado fazendo barulho com água. A casa em que estou é uma da qual nos mudamos quando tinha dois anos, então, devo ter essa idade”, disse Vickey Swindales, em um projeto realizado pela BBC, com 6,5 mil pessoas.

Em “A Experiência da Memória”, os participantes responderam um questionário feito pelo psicólogo Martin Conway, da City University of London, no Reino Unido, em que era pedido que descrevessem sua primeira lembrança e respondessem a outras perguntas, entre elas, a idade em que o fato aconteceu.

“Em minha primeira memória, estou dentro do que imagino ser um carrinho de bebê, com uma capota puxada. Tenho quase certeza que o céu estava azul, ainda que não conhecesse essa palavra, era muito pequena”, disse a escritora A.S. Byatt.

Aproximadamente 40% dos participantes relataram lembranças de acontecimentos ocorridos quando tinham 24 meses, e 861 pessoas mencionaram memórias adquiridas antes de completarem 1 ano de vida. 

Conway afirma que algumas pessoas até afirmam se lembrar do nascimento, mas que isso não é possível. “Uma pessoa pode se lembrar de fragmentos da infância porque sua mãe contou.”

No entanto, o que realmente acontece é que a pessoa cria uma imagem mental do fato narrado e aos poucos isso se transforma em algo que você experimenta como uma memória, baseado no que a outra pessoa contou.

Essa experiência é chamada de “memórias fictícias”. No entanto, Conway explica que “não podemos ter certeza de que essas memórias sejam falsas: não podemos descartar casos excepcionais. Mas, no geral, a probabilidade é muito alta de que não sejam verdadeiras”.

O esquecimento de lembranças na vida adulta 

Fonte: Reprodução

“A memória é o que nos conecta aos outros”, explica a especialista. Isso não significa que as pessoas que dizem se lembrar de fatos do início de suas vidas estejam mentindo. Alguns elementos da nossa memória são verdadeiros, mas é possível que tenhamos acrescentado informações ao longo da nossa vida.

Por isso, muitas vezes nos recordamos de momentos com pessoas que não podiam estar presentes na experiência ou temos certeza de que algo aconteceu e depois nos damos conta do contrário. “Isso acontece com todo mundo”, afirma Loveday.

“Todos fazemos isso, porque estamos construindo memórias com o que está à mão, e, às vezes, esses pedaços se desorganizam. Você se lembra de umas férias em família, e sua memória genérica inclui todos os seus irmãos. É assim que, quando se lembra de um momento específico, coloca todos na mesma cena, ainda que um deles não estivesse ali.”

O especialista acrescenta que, em termos gerais, podemos confiar na nossa memória, como em aspectos ligados a onde vivemos e o que aconteceu. “Mas, quando nos lembramos de momentos muito específicos, é inevitável que haja detalhes que não sejam 100% precisos”, explica.

“Mas isso não importa: a memória não é importante porque é precisa. A memória é o que nos faz ser quem somos e nos conecta aos outros, assim, em certo sentido, as recordações que temos são as que precisamos para existir.”

Fonte: BBC, Canaltech

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