Curiosidades

Por que o cérebro humano diminuiu?

0

Milhares de anos atrás, aproximadamente 100 gerações antes da nossa, os ancestrais dos seres humanos tinham cérebros maiores que os nossos.

De acordo com Jeremy DeSilva, antropólogo da Faculdade Dartmouth, nos Estados Unidos, o volume médio perdido seria mais ou menos equivalente a quatro bolas de tênis de mesa. Segundo as análises de fósseis cranianos publicadas por ele e seus colegas em 2021, essa redução começou há 3 mil anos.

Atualmente, os pesquisadores tentam responder por que ao longo da expansão das civilizações os cérebros humanos começaram a diminuir de tamanho.

Os cérebros dos animais

Foto: Getty Images/ BBC

Diversas espécies têm cérebros maiores que o nosso, mas a sua inteligência, da maneira como a compreendemos, é diferente. Por isso, especialistas acreditam que a relação entre o volume cerebral e como os seres humanos pensam não pode ser direta, dependendo de outros fatores.

De acordo com DeSilva e seus colegas, os corpos humanos ficaram menores ao longo do tempo, mas não o suficiente para justificar a redução do volume do cérebro. Por isso o motivo da diminuição segue sendo um mistério.

Em um estudo recente, eles buscaram inspiração em uma pequena formiga. Apesar da quantidade de neurônios ser bem menor em comparação ao número presente no cérebro humano, algumas sociedades de formigas são similares às nossas.

Na pesquisa, os cientistas descobriram que as formigas com sociedades maiores evoluíram para ter cérebros maiores, exceto quando também evoluíram essa propensão para cultivar fungos.

De acordo com a pesquisa, para as formigas, ter um cérebro maior é importante para se sair bem em sociedades grandes. Porém, sistemas sociais mais complexos, com maior divisão de trabalho, podem fazer com que seus cérebros diminuam. Isso acontece porque as capacidades cognitivas podem ficar divididas e distribuídas entre muitos membros do grupo, que desempenham papéis diferentes. De forma resumida, a inteligência torna-se coletiva.

“E se aconteceu o mesmo com os seres humanos?”, pergunta DeSilva. “E se os seres humanos atingiram um limiar do crescimento populacional, em que os indivíduos estão compartilhando e exteriorizando informações nos cérebros dos demais?”.

O surgimento da escrita

Foto: Getty Images/ BBC

Outra possibilidade é que o surgimento da escrita, que aconteceu dois mil anos antes de o cérebro humano começar a diminuir, tenha influenciado. DeSilva questiona se isso tenha acontecido devido à “exteriorização de informações pela escrita e [à] capacidade de comunicar ideias tendo acesso a informações fora do nosso próprio cérebro”.

Atualmente, essa ideia segue sendo uma hipótese e existem outras teorias que tentam explicar a redução do tamanho do cérebro humano, mas que deixam de ser consideráveis se a contração cerebral realmente começou apenas 3 mil anos atrás.

Um exemplo é que a domesticação tenha diminuído o tamanho dos cérebros, um exemplo é os cachorros. No entanto, estima-se que a autodomesticação dos seres humanos tenha acontecido há dezenas de anos, bem antes da redução do tamanho do órgão.

Tamanho não é o único fator

Foto: Getty Images/ BBC

Em 2018, um estudo feito por Philipp Koellinger, geneticista comportamental da Universidade Livre de Amsterdã, na Holanda, apontou que, em média, ter um cérebro maior corresponde a resultados levemente melhores nos testes de QI, mas que a reação não era determinante.

Isso significa que algumas pessoas foram bem nos testes, mesmo tendo cérebros pequenos, e vice-versa.

O estudo ainda apontou uma relação entre o volume da massa cinzenta (a camada externa do cérebro, que contém uma quantidade de neurônios particularmente alta), e o desempenho nos testes de QI. O especialista aponta que isso pode ser mais significativo em termos de capacidade cognitiva geral da pessoa que o tamanho do cérebro.

Simon Cox, que estuda o envelhecimento do cérebro na Universidade de Edimburgo, no Reino Unido, afirma que o volume do cérebro pode ser um dos fatores menos importantes.

Vale destacar que o volume do cérebro dos homens é geralmente cerca de 11% maior que o das mulheres, devido ao seu maior tamanho corporal. No entanto, estudos apontam que, em média, as mulheres têm vantagens em algumas capacidades cognitivas e os homens em outras.

Além disso, Cox afirma que algumas pessoas não têm o cérebro completo, por causa de lesões ou características de desenvolvimento, e parecem não apresentar alterações.

Um exemplo é que na França um homem que não tinha 90% do cérebro teve uma carreira bem sucedida como funcionário público e seu QI foi avaliado em 75 (QI verbal de 84), pouco abaixo da média francesa de 97.

A evolução

Foto: Getty Images/ BBC

Amy Balanoff, que estuda a evolução cerebral, na Universidade Johns Hopkins em Baltimore, nos Estados Unidos, explica que o crescimento e a manutenção do tecido cerebral exigem muita energia. Dessa forma, uma espécie não evolui para ter um cérebro grande, a menos que precise dele.

Além disso, ela afirma que algumas espécies, como as aves, parecem ter desenvolvido cérebros maiores com relação ao tamanho do corpo, mas seus cérebros não mudaram, e sim seus corpos ficaram menores.

Nos seres humanos, o neocórtex está envolvido em funções cognitivas superiores. Como nós dependemos muito dessa região, faz sentido que nossos cérebros tenham evoluído para moldar as necessidades dessa região.

Também vale apontar que os bebês humanos nascem com neurônios em excesso (100 bilhões), que vão diminuindo conforme o seu desenvolvimento. Isso ocorre porque o cérebro se adapta de acordo com o desenvolvimento e o ambiente do indivíduo. Apenas as partes necessárias da rede neural são mantidas quando envelhecemos.

Fonte: BBC

Tubarão ataca remador na costa australiana e deixa marca impressionante

Artigo anterior

Quem ganhou e como foi a primeira Copa do Mundo?

Próximo artigo

Comentários

Comentários não permitido