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Quem escreveu a Bíblia Sagrada?

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A Bíblia Sagrada já foi traduzida para quase 3 mil idiomas e, de acordo com dados da Sociedade Bíblica do Brasil, já teve mais de 3,9 bilhões de exemplares vendidos no mundo. No entanto, algo que muitos se questionam é quem foram os autores que escreveram esses textos?

Considerando que esses documentos são antigos, anteriores à noção contemporânea de autoria, é difícil cravar com precisão a resposta a essa pergunta. Por isso, o ponto de partida para responder quem escreveu a Bíblia é delimitar se o debate se restringirá a critérios religiosos ou partirá de princípios acadêmicos e científicos.

“É uma temática bastante espinhosa porque há duas visões. Prevalece ainda uma visão até certo ponto romantizada porque temos um tipo de teologia que é muito eclesial, com a pessoa estudando teologia porque quer ser pastor dentro de uma determinada comunidade, uma visão tradicional”, explica o teólogo e historiador Gerson Leite de Moraes, professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie.

De acordo com ele, a teologia voltada para o sacerdócio precisa “garantir que o texto é inspirado, ou seja, é dito pelo próprio Deus, através do Espírito Santo”. Mas a teologia acadêmica procura “analisar o aparecimento desses documentos dentro do tempo histórico”.

Dessa forma, podemos entender os primeiros livros da Bíblia, aqueles que compõem o chamado Pentateuco ou a Torá judaica, como um compilado de textos escritos por volta de mil anos antes da era Cristã.

São eles: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio, textos que contam desde a criação do mundo até a morte de Moisés.

Torá

Foto: Domínio Público

De acordo com a tradição religiosa, esses cinco livros foram escritos por um único homem, Moisés. Porém, o viés científico descarta a ideia de uma autoria única para estes livros.

De acordo com o estudioso José Luiz Goldfarb, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, uma análise profunda dos documentos permite agrupá-los pelo estilo, pelo vocabulário e pelas concepções em blocos associados a diversos escritores em diferentes momentos da história.

“Sobre épocas e autores é muito complicado falar porque isso se perde no tempo. Investigações acadêmicas concluem que esses textos têm de 2,7 mil a 3 mil anos e, eventualmente, mais do que isso, já que eram transmitidos de maneira oral”, diz o rabino Uri Lam, da congregação israelita Templo Beth-El, de São Paulo.

De acordo com ele, esses textos foram reunidos e considerados integrantes da Bíblia hebraica por volta do século 4 a.C.

Para Moraes, é evidente que foram vários autores que escreveram os textos da Bíblia. “Muito provavelmente as histórias que hoje compõem o texto escrito, antes eram transmitidas de geração em geração de maneira oral. E aquilo permanecia como um tesouro cultural religioso daquele povo”.

Além disso, o professor aponta que naquela época “era comum atribuir um texto a uma grande liderança, a um líder carismático, a uma pessoa muito importante. Isso acabaria dando relevância ao escrito”.

Por isso, seguidores de determinadas doutrinas, quando transformavam o conhecimento em documentos, costumavam assiná-los como se fossem escritos por seus mestres.

“No caso da Torá, quer dizer que esses textos foram escritos por Moisés? Muito provavelmente não. Talvez ele tenha tido alguma participação. Alguns acreditam que não teve participação nenhuma”, acrescenta Moraes. “Mas são textos atribuídos a Moisés.”

Literatura aplicada à Bíblia

Foto: Domínio Público

Para Moraes, faz mais sentido que os livros da Bíblia sejam escritos após o estabelecimento do Estado de Israel do que durante os episódios narrados no livro. De acordo com o especialista, as pessoas que viviam naquela época precisavam criar uma estrutura bélica para poder tomar a terra e não estavam preocupados em escrever texto.

“Muito provavelmente isso só foi ocorrer depois do estabelecimento de uma sociedade mais organizada”, diz o pesquisador.

No entanto, eram histórias soltas, de gêneros literários diversos, que foram juntadas por um ou mais redatores.

Novo Testamento da Bíblia

Foto: Domínio Público

Já em relação ao Novo Testamento, a vaticanista Mirticeli Medeiros defende que os quatro livros que narram a vida de Jesus e que são atribuídos a Mateus, Marcos, Lucas e João, realmente foram escritos por eles.

“No caso dos Evangelhos, não se contesta [a autoria], pelo menos nos estudos recentes. Lembrando que dois de seus autores, Mateus e João, foram apóstolos de Jesus. Os outros dois, Marcos e Lucas, por sua vez, construíram a narrativa colhendo os testemunhos dos apóstolos”, explica.

O estudioso de textos sagrados Thiago Maerki aponta as diferenças de estilo na escrita desses quatro textos.

“Marcos é considerado um autor com estilo mais pedestre, com linguagem direta, mais simples. João tem uma linguagem complexa, mais figurada, cheia de simbolismos. Lucas tem uma linguagem mais aprimorada, mais sofisticada”, pontua ele.

No entanto, especialistas apontam que quase todos os textos do Novo Testamento começaram a ser produzidos cerca de 30 ou 40 anos após a morte de Jesus. Moraes diz que “muito provavelmente, todos esses nomes [dos quatro evangelistas] foram estabelecidos pela tradição”.

“Não há nos documentos mais antigos o título nem o nome do autor”, ressalta.

O que aparenta ser inquestionável é que o primeiro dos evangelhos é o de Marcos. Este evangelista sistematizou a narrativa de Jesus, mas só o que interessava, focando em sua missão, em sua morte e em sua mensagem de Páscoa.

Em relação aos evangelhos que podem causar dúvida sobre a escrita, Moraes aponta que o melhor é assumir a ideia de que se trata de “evangelhos segundo” cada um desses nomes, no lugar de encará-los como autores, no sentido contemporâneo do termo.

Fonte: BBC

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