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Suiço Ernst Götsch ensina a “plantar água” no Brasil

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O suíço Ernst Götsch, de 73 anos, ensina agricultores a “plantar água”, recuperando nascentes e fazendo com que as plantações bombeiem mais água para a atmosfera.

O suíço chegou em Piraí do Norte, no sul da Bahia, nos anos 1980. Na época, quase todos os 510 hectares da fazenda haviam sido desmatados, e os animais silvestres eram raros.

Os donos anteriores criavam porcos e cultivavam mandioca de forma convencional, o que esgotou o solo e assoreou 14 riachos que cruzavam a fazenda.

“Dentro de pouco menos de dois anos, eu tinha reflorestado tudo”, disse à BBC o Götsch, que também viu todos os riachos renascerem no processo.

Atualmente, a maior parte da fazenda tornou-se uma reserva ambiental privada e apenas 5 hectares, menos de 1% do terreno, lhe geram receitas. Nessa área, em meio à grande variedade de frutas, legumes e árvores imensas, ele cultiva um cacau que é exportado para Portugal.

A transformação que Götsch fez na fazenda começou a chamar a atenção de governos, agricultores e empresas. Por causa disso, nas últimas décadas ele rodou o Brasil dando cursos. Os seus conhecimentos alcançaram entidades como o Grupo Pão de Açúcar e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST).

“Água se planta”

Foto: BBC News Brasil

O suíço afirma que tomou gosto pela agricultura desde seus primeiros anos. Com 23 anos, sem ter se formado na faculdade, passou num concurso para trabalhar com melhoramento genético de plantas. 

De acordo com Götsch, os experimentos no laboratório o levaram à seguinte questão: “Será que não seria mais inteligente se nos dedicássemos a melhorar as condições que damos às plantas, em vez de tentar adequá-las às condições cada vez piores que lhes oferecemos?”

Com isso, ele chegou à conclusão de que os sistemas agrícolas deveriam imitar os ecossistemas originais. No entanto, ele precisava pôr à prova, o que seria difícil na Suíça. Depois de trabalhos na Tanzânia e na Costa Rica, um sócio lhe ofereceu um empréstimo para comprar uma propriedade grande na região cacaueira baiana.

Götsch afirma que escolheu uma terra que fosse considerada imprópria para o cultivo de cacau pelo órgão federal responsável pelas políticas para o setor, a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac).

Depois disso, ele precisou enfrentar o desafio de recuperar os riachos assoreados. O suíço conseguiu fazer isso abrindo valas nos cursos originais e reflorestando o entorno.

As raízes protegeram o solo da erosão e permitiram que a água da chuva voltasse a infiltrar, trazendo os riachos de volta à vida.

De acordo com ele, a floresta também aumentou em 70% a quantidade de chuvas na fazenda. Isso foi possível porque ao transpirar, as árvores transferem água para a atmosfera, intensificando a formação de nuvens. Além disso, quanto mais plantas há num local, mais água é bombeada.

Götsch afirma que o reflorestamento de sua propriedade fez com que chovesse mais em áreas que ficam a até 8 km a oeste da fazenda. Já a recuperação dos riachos embasou uma das principais afirmações do suíço: “água se planta”.

Ópera e trabalho intenso

Foto: BBC News Brasil

Aos 73 anos, Gotsch sai às 5h da casa onde mora com a mulher, Cimara Goulart, e as duas filhas adolescentes, Ilona e Genevieve, para observar a secagem do cacau e da banana nas estufas que construiu. Em seguida, ele sobe em árvores altas para colher frutos, poda galhos e golpeia o capim com um facão.

Apesar dessa ser a sua rotina há 40 anos, ele afirma que não se enjoou. O suíço costuma observar como cada espécie interfere no ambiente

Götsch também aponta que é preciso tirar proveito das relações entre as espécies, já que, de acordo com ele, cada bioma desenvolveu ao longo de bilhões de anos interações para que a vida local tivesse o máximo de sucesso possível. Na prática, isso significa respeitar as condições que cada planta possuía em seu estado natural, como, por exemplo, a quantidade de luz.

Além disso, o sistema do suíço busca otimizar o espaço. No lugar de encher um terreno com uma única espécie de determinada altura, produzem-se alimentos em vários estratos, com copas de árvores e plantas sobrepostas.

Em relação aos insetos, vírus e fungos que muitos agricultores encaram como pragas, o suíço afirma que eles são “amigos mensageiros”, já que só agem quando as  plantas experimentam condições imperfeitas e que precisam melhorar. Por causa disso, ele rejeita o uso de agrotóxicos.

“Agricultura sintrópica”

Foto: BBC News Brasil

Götsch batizou seu método como “agricultura sintrópica”. Esse modelo busca os sistemas agrícolas cada vez mais complexos, com cada vez mais energia acumulada.

De acordo com o suíço, atualmente os humanos e seus animais de criação são os únicos seres a tirar mais do planeta do que lhe oferecem. Por isso, ele defende um modelo agrícola que mude o quadro.

“Enquanto não conseguirmos suprir as necessidades diárias do nosso metabolismo de um modo que seja benéfico para o ecossistema, como todas as outras espécies fazem, não vamos ter futuro”, afirma.

No entanto, como já destruímos muitos biomas e afugentamos os animais silvestres, Götsch aponta que devemos usar alguns atalhos para reverter os prejuízos e acelerar a transição para um novo modelo.

Um deles é podar intensamente as plantas. De acordo com Götsch, as podas têm três funções principais: melhorar a qualidade do solo, regular a entrada de luz e forçar o sistema a se desenvolver mais rapidamente.

Outro atalho é não se restringir às espécies nativas das regiões onde as agroflorestas são implantadas. O suíço afirma que “plantas não reconhecem fronteiras” e podem conviver harmoniosamente mesmo sendo originadas em ecossistemas diferentes, desde que ocupem locais apropriados e recebam os nutrientes certos.

Para ele, até mesmo espécies vistas como invasoras podem ter papéis importantes em agroflorestas brasileiras. Isso porque elas são pouco exigentes e produzem bastante matéria orgânica. Além disso, quando podadas com frequência, ficam sob controle, de acordo com o suíço.

Fonte: BBC

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