A relação entre Estados Unidos e China sempre foi bastante delicada em diversos âmbitos. Embora a potência norte-americana possua a maior influência ao redor do globo, o país asiático sempre mostrou-se suficientemente independente e, a partir de certo momento, um respeitoso concorrente.
Dito isso, a hegemonia hollywoodiana hoje depara-se com adversários à altura, e a China é um das maiores. Só para ilustrar, em 2020, a China ultrapassou os Estados Unidos como a maior bilheteria do mundo. Em seguida, 2021 chegou provando que a conquista não havia sido fruto da sorte. Como resultado disso, notou-se que os estúdios chineses criaram suas próprias estratégias de produção e, por isso, não têm mais necessitado da importação de filmes de Hollywood.
Dessa forma, o país asiático passou a ter liberdade para determinar o que seria exibido ou não em suas salas de reprodução. Aliás, muito além disso, a potência pôde fazê-lo sem nenhum prejuízo econômico. Em contrapartida, a perda do público chinês afeta diretamente a bilheteria de grandes blockbusters estadunidenses.
Só para ilustrar, em 2021, foram lançados apenas 21 filmes de Hollywood na China. Apesar do Acordo de Cinema EUA-China assinado em 2012 ter estabelecido uma cota de 34 títulos anuais, a nação oriental não se deu ao trabalho de atendê-lo. Assim sendo, filmes do MCU, por exemplo, ficaram fora de cartaz nas salas de exibição do território.
No entanto, um recente sucesso de bilheteria parece ter chamado atenção para a fraqueza de Hollywood na China. Segundo Isaac Stone Fish, em um artigo para a BBC, Top Gun: Maverick é uma prova de que a China tem Hollywood na palma da mão.
Fonte: Paramount Pictures
Pois bem, lançado trinta e seis anos após o longa original, Top Gun: Maverick dá sequência às aventuras de pilotos militares. Contudo, uma sutil mudança fez com que atentos olhares geopolíticos fizessem algumas considerações. Por exemplo, quando lançaram o trailer do longa em 2019, removeram as bandeiras de Taiwan e do Japão da jaqueta do personagem. Isso foi visto como um ato de boa fé com a China, afinal, o país reivindica Taiwan e desaprova o Japão.
Todavia, após o lançamento do filme, notou-se que a Paramout restabeleceu as bandeiras. Essa escolha visual foi suficiente para que alguns críticos alegassem um posicionamento ostensivo de Hollywood para com a China. Porém, sequer mencionam o país da Ásia no longa, uma omissão notável, visto que Pequim é um dos principais desafios de acordo com a perspectiva da segurança americana.
Assim como os demais exemplos aqui citados, Top Gun não está em exibição na China. Porém, isso diz mais sobre a influência do país asiático do que sobre o suposto levante hollywoodiano.
De acordo com Fish, autor do artigo da BBC, não há regras ou padrões claros por trás das escolhas de Pequim para suas salas de exibição. Portanto, o que pode-se tirar disso é que a China não segue uma lógica proibitiva. Ao contrário do que se costuma imaginar, não há tolerância ou punição a estúdios ou atores específicos. Na verdade, esse é o maior trunfo do país, pois dá a ele o poder do capricho, de escolher aleatoriamente o que exibir ou não.
Curiosamente, essa tática é consistente com as técnicas do Partido Comunista Chinês para exercer poder. Além disso, ela garante que os estúdios sempre se questionem sobre o que pode acontecer. Como resultado disso, até mesmo os espectadores passam a acreditar que meros bordados nos figurinos dos personagens sejam suficientes para o banimento de um filme em tal região. Contudo, a China é a prova viva de que Hollywood, ao contrário do que muitos imaginam, não é o centro do mundo.