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Viciados em trabalho têm risco maior de doenças cardiovasculares

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Todo mundo já ouviu que o trabalho dignifica o homem. Para a maioria das pessoas, ele é mais que isso. É como a pessoa se mantém e consegue comprar suas coisas. Mas ele também pode ser um grande ponto para definir quem a pessoa é. Até porque, uma das primeiras perguntas que as pessoas geralmente fazem umas às outras é “o que você faz?”

Nesse ponto, as pessoas que são workaholic, ou seja, viciadas em trabalho, podem se definir quase que única e exclusivamente por ele. Contudo, esse comportamento não é uma coisa boa para a saúde. Tanto que, um estudo feito pela Università di Bologna e publicado no periódico Journal of Occupational Health Psychology, mostrou que pessoas viciadas em trabalho tem um risco maior de doenças cardiovasculares.

Conforme o estudo, esse tipo de comportamento tem várias semelhanças com outros vícios, como por exemplo, o alcoolismo. Outro ponto levantado é que o humor negativo que essas pessoas tem pode ser um indicativo dos níveis altos de estresse diário, o que por sua vez pode ser a principal causa para essas pessoas terem síndrome de Burnout e problemas cardiovasculares.

Por conta disso que os pesquisadores dizem que as empresas devem desencorajar qualquer tipo de comportamento que sejam contribuintes para esse vício. Isso porque, quem sofre com ele tende a trabalhar excessiva e compulsivamente. Esse comportamento acaba afetando a saúde, o bem-estar psicológico e as relações com amigos e família de forma negativa.

As pessoas que são workaholic tendem a experimentar um mal-estar, geralmente acompanhado de emoções negativas, como ansiedade, hostilidade e culpa, quando não conseguem trabalhar o tanto que queriam.

Contudo, na visão de alguns pesquisadores, os workaholics sentem um bem-estar e satisfação em seu dia de trabalho. Já outros estudos pontuam que essas emoções positivas se transformam rapidamente em um estado disfórico caracterizado por irritação e depressão.

Estudo

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Nesse estudo em questão, os pesquisadores fizeram a análise de 139 trabalhadores em tempo integral. E um teste psicológico foi usado pela primeira vez para fazer a avaliação do nível de dependência do trabalho de cada um.

Mesmo assim, os pesquisadores também fizeram a análise do humor dos trabalhadores e a percepção de cada um da carga de trabalho através de um app no telefone deles. Com isso, os pesquisadores conseguiam mandar pequenos questionários a cada 90 minutos durante três dias úteis.

Como resultado foi visto que aqueles que eram workaholics tinham, em média, um humor pior que os outros. “Assim, não parece ser verdade que as pessoas viciadas em trabalho obtenham mais prazer na sua atividade laboral; muito pelo contrário, os resultados parecem confirmar que, tal como em outras formas de dependência comportamental e de substâncias, a euforia inicial dá caminho para um estado emocional negativo que permeia a pessoa mesmo durante o trabalho”, concluíram os pesquisadores.

Esses resultados mostram que, geralmente, as pessoas viciadas em trabalho tem consistentemente um estado de espírito mais negativo durante o dia e sem variações significativas mesmo com o passar do tempo.

Trabalho

Canaltech

Existem pessoas que se definem por completo pelo seu trabalho e isso é um ponto problemático. Mas como o trabalho ficou tão emaranhado com a identidade? “Historicamente, a maioria das pessoas não escolhia seus empregos, costumava ser geracional. Seu pai era carpinteiro, então você era carpinteiro. Ou, você simplesmente pegaria um emprego com base nas oportunidades disponíveis”, explicou Anne Wilson, professora de psicologia da Universidade Wilfrid Laurier, em Ontário, no Canadá.

Entretanto, com um acesso maior à educação no século passado, isso gerou um surgimento dos mais variados empregos e, por consequência, mais faixas de renda. Então, as carreiras se tornaram um marcador significativo de identidade, porém mais sutil.

Por exemplo, quando alguém diz que é cirurgião, as pessoas supõem que ele tenha uma boa educação e uma renda alta. E claro que isso é uma via de mão dupla. As pessoas que recebem esse julgamento querem se associar à riqueza e à realização que seus títulos profissionais sugerem.

“Isso é especialmente verdade entre a ‘elite educada’. Para pessoas que têm um certo tipo de trabalho e determinada classe, muitas vezes é sobre como você se identifica e como os outros te identificam”, disse Wilson.

Contudo, as pessoas que permitem que seus trabalhos consumam sua identidade podem estar fazendo isso às próprias custas. “Quando as pessoas investem uma quantidade desproporcional de tempo e energia em suas carreiras  isso pode levar a um estado psicológico denominado ‘enredamento’, em que as fronteiras entre trabalho e vida pessoal ficam turvas. Isso tende a acontecer especialmente com pessoas com empregos que são relativamente autodeterminados, em que você não bate ponto às 9h e às 17h”, explicou Wilson.

Por conta disso, profissionais que estabelecem seus próprios horários, como aqueles em cargos executivos de alto escalão, advogados, médicos, empresários e acadêmicos, podem acabar deixando seu trabalho ocupar muito, ou até mesmo a maior parte das suas vidas.

Mesmo que existam pessoas que se definam majoritariamente pelo seu trabalho, existe uma rara oportunidade de dissociar quem se é do que se faz. A pandemia e tudo causado por ela fez com que várias pessoas avaliassem o que é realmente importante para elas.

Com isso, algumas começaram novos hobbies, outras estreitaram os laços familiares com família e amigos. “Quando enfrentamos experiências que nos lembram que nossa existência mortal é transitória e que a tragédia pode nos atingir com pouco ou nenhum aviso, tendemos a ficar motivados a avaliar o que faz a vida valer a pena”, escreveu Clay Routledge, professor de psicologia na Universidade Estadual da Dakota do Norte, nos EUA.

O professor é um dos coautores de um estudo recente a respeito de como os adultos americanos buscam significado nas suas vidas. E por mais que as carreiras ainda sejam relevantes, as pessoas podem estar vivendo um momento em que os trabalhos se tornaram somente uma peça do quebra-cabeça da vida.

Na visão de Wilson, fazer um trabalho que se ama não é uma coisa ruim, e nem considerar o que se faz para viver uma parte importante da vida. Contudo, deixar para trás um sistema em que as pessoas são definidas, sobretudo, ou exclusivamente, pelo trabalho, irá exigir mais do que somente perceber que existe um problema ou redefinir as prioridades por conta da pandemia.

Toda essa mudança também exigirá uma mudança cultural para que se abandone a ideia de que cada pessoa tem uma “vocação” profissional e que o objetivo de vida deve ser encontrá-la. “Muitas vezes preparamos uma armadilha para que as pessoas se sintam insatisfeitas; se elas não se encontrarem no emprego perfeito, elas fracassaram de alguma forma”, concluiu Wilson.

Fonte: Canaltech, BBC

Imagens: Canaltech

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