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Como foi a ‘tarefa impossível’ de recriar o DNA Neandertal?

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Todo mundo sabe que os humanos modernos são uma mistura de diversos outros hominídeos, que viveram antes de nós: os nossos ancestrais. Segundo a história, os primeiros humanos modernos começaram a emergir na África e se espalharam por toda a Eurásia. Lá, eles se depararam com vários hominídeos mais antigos, tais como os neandertais e os denisovanos. Mas como descobrir como aconteceram todas essas interações sem saber o DNA dos nossos ancestrais?

É como se todas as páginas de um dicionário tivessem sido destruídas em um triturador. Além do dicionário, tiras de milhares de outros livros também foram trituradas juntas. E o trabalho é reconstruí-las a partir disso. Claro que todo esse trabalho não é fácil. Mas será que ele é possível?

Foi justamente assim que o cientista sueco Svante Pääbo se referiu em seu documentário “First Peoples”, “Primeiros Povos” traduzido, para descrever a dificuldade que enfrentava na reconstrução do DNA neandertal após dezenas de milhares de anos da extinção dessa espécie.

Além disso, a reorganização dessas peças genéticas foi impossibilitada por vários fatores, como por exemplo, a passagem do tempo, a corrosão dos possíveis restos desses parentes do Homo sapiens, a interação com bactérias e fungos ao longo de centenas de séculos e o contato com os humanos modernos.

“Existem todos os tipos de danos no DNA que podem fazer com que você determine sequências erradas, especialmente quando se começa com poucas moléculas. Também há contaminação do material por DNA humano, que está em quase toda parte”, escreveu Pääbo em um artigo em 1989.

Mesmo assim, Pääbo e sua equipe conseguiram fazer aquilo que parecia improvável. Isso lhe rendeu o Prêmio Nobel de Medicina de 2022 na segunda-feira dessa semana.

“Por meio de sua pesquisa pioneira, Svante Pääbo alcançou o impossível: sequenciar o genoma neandertal, um parente extinto dos humanos modernos”, declarou o comitê do Nobel quando anunciou sua decisão.

Recriação

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Todo o processo que fez Pääbo reconstruir o DNA neandertal é entendido quando se volta à sua adolescência. Quando ele tinha 13 anos, sua mãe o levou de férias para o Egito. Foi então que ele se fascinou com a cultura antiga e com a arqueologia do país. Tanto é que voltou convencido de que se tornaria um egiptólogo.

No momento de entrar para uma graduação, Pääbo entrou na Universidade de Uppsala e começou a fazer egiptologia. Contudo, depois de dois anos ele percebeu que esse não era o caminho que ele queria seguir. “O trabalho não era do tipo romântico, meio Indiana Jones, que eu pensava”, disse Pääbo.

Então, ele começou a cursar medicina. Em seu doutorado, ele decidiu estudar genética molecular. Isso levou Pääbo a relacionar o interesse que tinha desde a adolescência ao campo profissional.

“Comecei a perceber que tínhamos todas essas tecnologias para clonar o DNA, mas ninguém parecia tê-las aplicado a vestígios arqueológicos, principalmente às múmias egípcias”, disse ele.

Com essas ferramentas, ele poderia criar uma “máquina do tempo” orgânica. Com isso em mente, Pääbo estudou o genoma das múmias e, alguns anos depois, ele se mudou para os EUA com o objetivo de investigar DNAs antigos na Universidade da Califórnia, em Berkeley.

Mesmo com todas as dificuldades encontradas, ele não desistiu. E com o tempo, Pääbo se propôs a fazer uma coisa bem ambiciosa: decifrar o DNA neandertal e o que o diferencia dos seres humanos atuais. Dessa forma, ele criou, meio que sem querer, uma nova disciplina na ciência: a paleogenômica.

DNA neandertal

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No fim da década de 1990, Pääbo foi contratado pelo Instituto Max Planck de Antropologia Evolucionária, em Leipzig, na Alemanha. Nessa época, ele já estava trabalhando com partes do DNA dos neandertais. Mas em seu novo local de trabalho, ele teria a oportunidade de investigar diretamente o núcleo do DNA dos nossos parentes próximos.

“No novo instituto, Pääbo e equipe melhoraram constantemente os métodos para isolar e analisar DNA de restos ósseos arcaicos. O time de pesquisa aproveitou os novos avanços tecnológicos, que tornaram o sequenciamento de DNA muito eficiente”, detalhou o comitê encarregado de conceder o Prêmio Nobel de Medicina.

Para o estudo do genoma neandertal foi usado ossos da espécie que estão preservados há mais de 40 mil anos. Com esse material foi possível conseguir uma quantidade suficientemente boa de DNA. E uma coisa que contribuiu com o sucesso do estudo foi o canibalismo entre os hominídeos.

“Quando analisamos as amostras, notamos que, muitas vezes, tivemos mais sucesso com fragmentos de ossos que realmente tinham marcas de corte ou foram deliberadamente quebrados. Segundo paleontólogos, isso sugere que esses indivíduos haviam sido comidos. Se você separar os ossos da carne e jogá-los no canto da caverna, onde secam rapidamente, eles terão menos atividade microbiana e ficarão preservados. Temos de agradecer ao canibalismo pelo sucesso do nosso projeto”, disse Pääbo.

Através da tecnologia de sequenciamento de DNA, Pääbo analisou milhões de fragmentos de material genético e usou técnicas estatísticas para isolá-los de genes modernos, vindos de seres humanos, bactérias e fungos. Como resultado, ele conseguiu não somente reconstruir o genoma neandertal, mas também encontrar ligações entre esse material genético e o do humano moderno.

Fonte: BBC

Imagens: BBC

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