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Como um eclipse solar no Ceará há 103 anos tranformou Einstein em celebridade

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Einstein é um dos cientistas mais famosos de todos os tempos, sendo referência não só para pesquisas até hoje, como para referências no cotidiano e na cultura popular. Porém, poucos sabem que essa fama foi proporcionada, em parte, por um eclipse solar que aconteceu no Ceará.

“A população estacionou nas praças públicas, impressionada com o surpreendente espetáculo que a natureza lhe oferecia. Parecia que a aurora ia romper e, naquela escuridão, os galos cantavam e as avezinhas procuravam agasalho.”

Foi assim que o jornal Folha do Littoral descreveu o momento em que a população de Sobral, no interior do Ceará, viu o eclipse total do Sol no ano de 1919. No entanto, aquele eclipse era especial.

Isso porque o fenômeno astrológico permitiu que um grupo de cientistas comprovasse, pela primeira vez, a teoria da relatividade geral do físico alemão Albert Einstein. Com isso, consolidaram uma das maiores revoluções da história da ciência.

Portanto, apenas meses depois do fim da Primeira Guerra Mundial, o evento fez com que Einstein alcançasse a fama mundial. “Alguns cientistas dizem que o anúncio dos resultados do experimento feito nesse eclipse foi um dos maiores momentos da ciência”, disse à BBC News Brasil o físico Luis Carlos Bassalo Crispino, da Universidade Federal do Pará (UFPA), autor de artigos sobre o episódio.

Eclipse solar no Ceará fez Einstein ficar famoso

Nos anos que se seguiram, a relatividade geral de Einstein permitiu a formulação da teoria do Big Bang, que é o modelo que explicamos o começo do nosso universo. Além disso, um ramo específico da astrofísica, a cosmologia física, foi criado unicamente para estudar o tema.

A ideia de Einstein também serviu de base para que cientistas desenvolvessem teorias sobre buracos negros. Muitos anos depois, foi em parte responsável para explicar o funcionamento do sistema de GPS, que usa a posição de satélites no espaço para localizar aparelhos na Terra.

Porém, todos esses efeitos criados pelas teorias de Einstein começaram com uma ideia pouco convencional.

Revolução na ciência

Foto: Getty Images

O século 19 foi importante para a física como área de estudo, que avançava a passos largos. Entre as descobertas, temos a eletricidade, energia cinética, termodinâmica e a luz, entendida como onda eletromagnética.

Sendo assim, com essas ideias, o físico alemão Albert Einstein começou a pensar sobre o comportamento da luz e sua velocidade. Ele usou uma série de “experimentos mentais”, que eram problemas cujo resultado ele previa apenas em sua mente.

Então, em 1905, ele afirmou que as medidas do espaço e tempo poderiam mudar de acordo com o ponto de referência. Vale destacar que, até então, toda a física se pautava na ideia de que tempo e espaço eram absolutos.

Novos pensamentos

Logo, a teoria da relatividade espacial causou espanto entre a comunidade científica, mas serviu apenas para alguns casos. Nos anos seguintes, Einstein se colocou a pensar sobre a Lei da Gravitação Universal de Isaac Newton. Porém, publicada em 1915, sua teoria de relatividade geral confrontava um dos fundamentos da física clássica.

Isso porque, nessa teoria, Einstein afirma que o espaço e tempo, interligados, formam uma espécie de tecido, que pode se conformar de acordo com a massa dos corpos. Assim, essas curvaturas explicam desde a gravidade até o movimento dos planetas e estrelas no espaço, buracos negros e a formação de todo o universo.

“Filosoficamente, a relatividade geral foi quase tão importante quanto a ideia de Copérnico de que o Sol, e não a Terra, estava no centro do universo. Ela revolucionou completamente a maneira como os cientistas deveriam pensar sobre o funcionamento do mundo ao seu redor. As coisas ficaram mais complexas”, disse à BBC News Brasil Teresa Wilson, física do Observatório Naval dos Estados Unidos.

Ceará e Einstein

Assim sendo, para comprovar a teoria de Einstein, o cenário ideal é um eclipse solar. “Para comprovar que o campo gravitacional do Sol desvia a luz de uma estrela, ela precisa estar próxima do Sol, senão você não consegue perceber esse efeito. Mas o Sol é tão brilhante que normalmente não se consegue ver as estrelas durante o dia. Por isso era necessário fazer o experimento durante um eclipse total”, explica Daniel Kennefick.

Então, em 1917, os astrônomos Frank Watson Dyson, diretor do Observatório Real de Greenwich, e Arthur Stanley Eddington, queriam comprovar – ou não – a teoria.

“Dyson já havia observado muitos eclipses e sabia que aquele experimento era importante e possível. Era um momento em que os instrumentos já tinham evoluído o suficiente pra medir com confiança os resultados que Einstein previa”, disse Tom Kerss.

Por meio de cálculos, viram que, em 1919, um eclipse seria visível na América do Sul e na África. Logo, encontraram a oportunidade perfeita. “Na Bolívia e no leste da África não funcionaria, porque o Sol estaria ainda nascendo ou já começando a se pôr, e isso causaria distorções atmosféricas que prejudicariam a medição. A maior parte do trajeto também seria em áreas de floresta tropical de um lado ou de outro. No oceano Atlântico também não era bom, porque um navio não teria estabilidade suficiente para os instrumentos”, diz o historiador.

Bem-vindos ao Brasil

Dyson tomou a decisão de ir ao Brasil após receber carta do engenheiro Henri Charles Morize, diretor do Observatório Nacional do Rio de Janeiro e um dos fundadores da Academia Brasileira de Ciências. Assim, na carta, Morize dizia que Sobral, segunda maior cidade do Ceará, seria o melhor lugar.

“Apesar do risco, eles estavam determinados a aproveitar essa oportunidade, porque sabiam que aquele eclipse, com uma duração longa e estrelas tão brilhantes, seria especial”, disse Kennefick. Desse modo, observaram o eclipse e os dados pareciam favoráveis à teoria de Einstein, levando seu nome ao estrelato.

Fonte: BBC

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