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Entenda a hipótese de Gaia, que defende que a Terra “está viva”

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Na década de 1970, James Lovelock, um biólogo britânico, propôs a hipótese de Gaia, afirmando que a Terra estava viva. Essa declaração causou escândalo e admiração.

Lovelock, que trabalhava na época para a Nasa, era considerado um cientista respeitável que não se embasava em crenças animistas.

Apesar de ser chamada de hipótese de Gaia, referindo-se à deusa primordial da mitologia grega, a ideia era embasada em paradigmas científicos. Lovelock fez uma pesquisa e vislumbrou um sistema que refletia o equilíbrio entre os seres vivos e o resto do planeta.

A hipótese de Gaia foi transformada em teoria e ficou popular nas universidades do mundo todo. Anos depois, ajudou a entender o impacto humano no clima.

Mesmo que tenha sido questionada, a teoria consagrou seu principal teórico. Ele morreu em 26 de julho de 2022, data em que completou 103 anos.

Considerado um dos biólogos mais importantes do século 20 no Reino Unido, Lovelock também descobriu que era possível medir a concentração atmosférica de clorofluorcarbonos, compostos que eram utilizados para esfriar geladeiras e o ar-condicionado. Isso levou ao descobrimento do buraco na camada de ozônio e à proibição dos clorofluorocarbonos em 1987.

O cientista também desenvolveu um dispositivo usado para medir a propagação de compostos tóxicos criados por humanos na natureza, o que ajudou nas suas teorias sobre a ação humana sobre o planeta.

No entanto, a sua grande fama foi por causa da hipótese de Gaia, que aponta que cada ser vivo tinha um papel na Terra.

Da astronomia à ecologia

Foto: PA MEDIA

Lovelock baseou a hipótese inicial em sua observação científica da atmosfera da Terra e de Marte. Nos anos de 1960, ele trabalhava na equipe de exploração espacial da Nasa no Laboratório de Propulsão a Jato, em Pasadena, Califórnia. O especialista em composição química dos planetas  questionou por que nossa atmosfera era tão estável.

De acordo com ele, diferente de Marte, na Terra, algo deveria estar regulando o calor, o oxigênio, o nitrogênio e outros componentes essenciais.

“A vida na superfície é o que deve estar fazendo a regulação”, afirmou junto à microbióloga americana Lynn Margulis, que foi coautora em seu estudo sobre a hipótese de Gaia.

A dupla apontou que os organismos e seu entorno inorgânico na Terra estavam estreitamente integrados para formar um sistema complexo, único e autorregulado. Isso era o que mantinha as condições para o desenvolvimento da vida.

“O clima e a composição química do meio ambiente da superfície da Terra estão e têm estado regulados num estado estável para a biota (o conjunto dos organismos vivos)”, dizia a pesquisa.

Daisyworld

Foto: Nasa Goddard Media Studios

Lovelock trabalhou em sua hipótese inicial por anos e utilizou modelos e dados de outras ciências para tentar criar uma teoria. Dessa forma, ele desenvolveu o modelo chamado “Daisyworld” (sobre como crescem as margaridas em universo imaginário), que serviu para ilustrar como pode funcionar Gaia.

De acordo com a teoria, em um planeta imaginário, similar em muitos aspectos à Terra, só crescem margaridas se existir abundantes nutrientes e água.

No entanto, as margaridas brancas e negras competem por espaço. Mesmo que os dois tipos de margaridas cresçam melhor à mesma temperatura, as margaridas negras absorvem mais calor que as brancas. Já quando o sol brilha mais intensamente, aquecendo o planeta, as margaridas brancas se estendem, e o planeta esfria novamente. Quando diminui a luminosidade do sol, as margaridas pretas se esticam, aquecendo o planeta.

Hipótese de Gaia: “a teoria ecológica mais ambiciosa baseada na auto-organização”

Foto: Getty Images

No livro “O futuro do clima mundial”, Martin Rice e Ann Henderson-Sellers explicam que o modelo Daisyworld ofereceu um “marco matemático” inicial para entender a autorregulação da vida na Terra. Isso teria tornado Gaia “a teoria ecológica mais ambiciosa baseada na auto-organização”.

A popularidade da teoria fez com que, menos de uma década depois de exposta, cientistas do mundo todo tenham se reunido na Universidade de Massachusetts na Primeira Conferência sobre a Hipótese Gaia. O tema daquele ano era “A Terra é um organismo vivo?”.

No entanto, a hipótese foi questionada por muitos pesquisadores, fazendo com que Lovelock fosse desenvolvendo novos experimentos e modificações na teoria ao longo dos anos.

Muitos críticos consideram que a hipótese de Gaia possui pouco embasamento ou está em desacordo com as evidências disponíveis. Outros apontam que a noção da existência de equilíbrio entre os organismos vai contra os princípios da seleção natural.

No entanto, apesar dos argumentos favoráveis ou contrários à teoria, a hipótese de Gaia inovou ao dar um lugar para os humanos dentro desse sistema e ao nos apresentar como uma das principais ameaças para o equilíbrio natural da Terra.

Foto: BBC

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