Recentemente, um estudo ofereceu pistas sobre porque o autismo atinge mais os meninos. Segundo cientistas dos Institutos Nacionais da Saúde dos Estados Unidos (NIH, em inglês), uma única alteração de aminoácido no gene NLGN4, que foi associada a sintomas de autismo, pode causar essa diferença em alguns casos.
O estudo foi realizado no Instituto Nacional de Distúrbios Neurológicos e Derrame (Ninds, na sigla em inglês), dos NIH, e publicado na revista “Neuron”. Assim, a pesquisa mostra que uma alteração genética específica ligada ao autismo pode ser compensada em mulheres, mas não nos homens. Dessa forma, ela seria mais comum em meninos.
Para o estudo, os pesquisadores compararam dois genes NLGN4 (um no cromossomo X e outro no cromossomo Y). Isso porque, eles são importantes para estabelecer e manter sinapses, os pontos de comunicação entre os neurônios.
Desse modo, cada célula do nosso corpo contém dois cromossomos sexuais. As mulheres têm dois cromossomos X; os homens têm um cromossomo X e um Y. Até agora, supunha-se que os genes NLGN4X e NLGN4Y, que codificam proteínas que são 97% idênticas, funcionassem igualmente bem nos neurônios. No entanto, o estudo liderado por Katherine Roche, neurocientista do Ninds, pode provar o contrário.
Usando uma série de tecnologias avançadas, incluindo bioquímica, biologia molecular e ferramentas de imagem, Roche e seus colegas descobriram que as proteínas codificadas por esses genes exibem funções diferentes. Assim, a proteína NLGN4Y é menos capaz de se mover para a superfície celular das células cerebrais. Portanto, é incapaz de montar e manter sinapses, dificultando o envio de sinais para os neurônios.
Quando os pesquisadores corrigiram o erro nas células de um prato, elas restauraram grande parte de sua função correta. “Realmente precisamos olhar para o NLGN4X e o NLGN4Y com mais cuidado”, afirmou Thien A. Nguyen, primeiro autor do estudo e ex-aluno do laboratório de Roche. “Mutações no NLGN4X podem levar a efeitos generalizados e potencialmente muito graves na função cerebral, e o papel do NLGNY ainda não está claro”.
Com o estudo, a equipe de Roche descobriu que os problemas com o NLGN4Y estavam ligados a um único aminoácido. Com isso, os pesquisadores também descobriram que a região em torno desse aminoácido no NLGN4X é sensível a mutações na população humana.Há um conjunto de variantes encontradas nessa região em pessoas com TEA e deficiência intelectual. Além disso, essas mutações resultam em um déficit na função do NLGN4X, que é indistinguível do NLGN4Y.
Por outro lado, nas mulheres, quando um dos genes NLGN4X tem uma mutação, o outro geralmente pode compensar. No entanto, no sexo masculino, as doenças podem ocorrer quando há uma mutação no NLGN4X. Isso porque, não há compensação pelo NLGN4Y. Dessa forma, o presente estudo sugere que, se houver uma mutação no gene NLGN4X, o NLGN4Y não poderá assumir o controle. Isso porque, ele é uma proteína funcionalmente diferente. Assim, se as mutações ocorrerem nas regiões do NLGN4X que afetam os níveis de proteína, isso pode resultar em sintomas relacionados ao autismo, incluindo déficits intelectuais.